Do alto do velho cemitério em Zfat [Safed], onde o “Ramak”, Rabi Moses ben Jacob Cordovero, está enterrado, olhamos para a tumba do Ha’Ari Hakadosh. O Há’Ari, Rabi Isaac Luria, foi um dos mais famosos cabalistas de Zfat, grande estudioso, tanto da Torá quanto da Cabala.
Quando visitamos seu túmulo, na tarde de terça-feira, encontramos um grande grupo de alunos de yeshivot e jovens com grandes kipot de crochê e longas peot, que liam salmos em voz alta. O sol já tinha desaparecido atrás do Monte Meirón, e o frio cortante da Galiléia foi tomando conta de todos. A cidade santa espalhada sobre a montanha é um imã místico, não apenas para os Hassidim e crentes de todo o país. Ela também é o ponto de encontro dos “jovens das colinas” da Cisjordânia. Dois dias após o incêndio criminoso na aldeia palestina de Duma, Meir Ettinger foi preso em Zfat. Ettinger era considerado pelo Shin Bet [serviço secreto israelense] como o alvo número um da ‘Divisão Judaica’ da agência, o “diretor ideológico” dos perpetradores dos atentados terroristas judeus, aquele que determina para onde o vento sopra e que despeja argumentos haláchicos [religiosos fundamentalistas[ para justificá-los, fundamentados em escritos de rabinos. Ettinger chegou à cidade nortenha há cerca de 10 meses, com outros companheiros, após o Shin Bet o ter submetido a uma ordem administrativa que o impedia de entrar na Cisjordânia e em Jerusalém. “Eles vem e vão”, nos diz um dos moradores da cidade velha. “Eles vem para se fortalecer nos túmulos dos santos, espalhados nesta área. Ninguém lhes pergunta o que estão fazendo, de onde vieram e para que. Zfat recebe todos: os de corações partidos, os esquisitos e, sim, também os radicais”. Duas semanas se passaram desde que um “acontecimento dramático” foi anunciado na investigação sobre o assassinato em Duma. Ainda não são claros os resultados da investigação conduzida pelo Shin Bet e pela Unidade de Crimes por Motivos de Nacionalidade no Departamento de Polícia da Judéia e Samária. Mas as impressões digitais de Ettinger estão por toda parte deste caso. Ettinger, 24, neto do rabino Meir Kahane, fundador do movimento “Kach” [proscrito pela Justiça israelense por pregar o racismo], está sob prisão administrativa desde agosto. Ele nunca deu qualquer entrevista a mídia. Em vez disto, espalha sua ideologia no seu blog no site “The Jewish Voice“, elaborado no assentamento de Yitzhar na Samária, distrito da Cisjordânia. Sua família e seus amigos dizem que ele nunca esteve envolvido em qualquer tipo de atividade terrorista, mas as afirmações do Shin Bet são claras –Ettinger é o líder inconteste da “juventude das colinas “ e dos criminosos de “price tag” [atentados terroristas contra palestinos, ativistas israelenses de direitos humanos e mesmo unidades do exército, nos quais deixam a marca ‘etiqueta de preço’]. Dormindo lado a lado À primeira vista, Ettinger parece um anti-herói. Seus ombros caídos, sua voz tremida com hesitação. A última pessoa que poderia ser marcada como o principal alvo de Divisão Judaica do Shin Bet. Mas a sua força, que pode ser entrevista nos seus olhos brilhantes, está na sua argúcia intelectual e na sua impressionante capacidade de expressão, principalmente por escrito. “O homem não deixa nenhuma impressão. É o oposto de carismático”, disse um policial que falou com Ettinger no ano passado. “Mas quando você começa a falar com ele, descobre um jovem muito afiado, com conhecimento profundo da Torá, que lhe fala sobre filosofia judaica num nível que supera qualquer um na sua idade”. “Meir atraiu atenção pública e foi marcado pelo Shin Bet, Não por estar envolvido em atividades terroristas, mas pelo seu blog no site Jewish Voice” diz Neriya Ofan, residente de Yitzhar, que também recebeu ordens administrativas que o baniram da Cisjordânia, por várias vezes. Ele conhece Ettinger por ter com ele trabalhado no Centro Avodá Ivrit [“Trabalho Judeu”], que adverte profissionais e empresários para que não empreguem árabes. “Seu forte é o texto. Aqueles que tem o poder de se expressar por escrito tornam-se, na realidade atual, da internet e do Facebook, uma liderança. Aqueles que tem o poder da escrita tem, basicamente, tudo. É por isto que Meir Ettinger é um líder”. Ele é um dos 12 filhos de Mordechai Ettinger, o rabino das yeshivot de Har Hamor e Ateret Cohanim e de Tova, filha do rabino Meir Kahane. Ettinger cresceu no bairro de Kiryat Moshé em Jerusalém, mas quando cursava o secundário saiu da casa dos pais e começou a vagar pelas colinas. Substituiu a ideologia que atribui santidade ao Estado de Israel, aprendida na casa dos pais, por uma ideologia reversa, próxima à visão de mundo do seu avô. Mas, enquanto Meir Kahane foi um sionista que apoiava o Estado de Israel, o seu neto – nascido um ano após o avô ter sido assassinado – e que levou o seu nome – acredita que o Estado de Israel deve ser destruído, ou – nas suas próprias palavras – ser cuidadosamente desmantelado. “A idéia da revolta é muito simples”, Ettinger escreve em seu blog. “O Estado de Israel tem muitos ‘pontos fracos’ e sujeita a população a andar na ponta dos pés para não provocar revoltas. O que faremos é, simplesmente acender esses barris de pólvora, todas as questões e contradições entre judaísmo e democracia. Entre o caráter judaico e o caráter secular, sem temer as consequências. Destruir a capacidade de governar o país. Esta é a principal parte da mensagem de revolta. Quebrar as regras e todo o status quo. “Quando você faz isto, tem que prestar atenção para a diferença entre ‘quebrar’ o Estado – que é uma ação que não liga muito para o que é deixado nos fragmentos – e ‘desmantelá-lo’, que é uma ação similar, porém mais delicada e particularmente cuidadosa. O objetivo central é sacudir as fundações do Estado até o ponto em que os judeus serão forçados a decidir se querem fazer parte da revolução ou reprimir a revolta, porque não será possível ignorá-la e continuar sentado sem fazer nada. Porque, na prática, a revolta não permitirá a continuidade do Estado”. O primeiro outpost [posto avançado ilegal de assentamento] para onde Ettinger mudou, aos 15 anos, foi Shvut Ami, perto de Kedumim. Mais tarde, foi um dos principais membros do outpost Ramat Migron. Então, fundou os outposts Maoz Esther e Geulat Zion, no Vale do Shiló. Seu amigo mais próximo, que o acompanhou por toda essa jornada, foi Amishav Melet. “Dormíamos lado-a-lado, em Shvut Ami e em Ramat Migron” diz Melet, 24 anos. “Sentávamos junto à fogueira com um violão, conversávamos, contávamos histórias, cantávamos. Passamos muitos fins de semana juntos. Passávamos por todos os outposts da região de Binyamin. Quando me casei, há três anos, fundamos Geulat Zion e Ettinger mudou para perto de lá. Após seu casamento, Ettinger mudou para Givat Ronen, perto de Har Brachá. Aí ele recebeu uma ordem barrando sua entrada na Judéia e na Samária [Cisjordânia ocupada] e se mudou para Zfat. Há quatro meses, recebi uma ordem igual. Desde então, entre outras sanções, estou proibido de falar com ele”. É difícil manter o contato com essa série de prisões e restrições, não? “É difícil, mas não passa de um desafio. Mas, quanto mais eles nos pressionam, mais nos multiplicamos e mais nos espalhamos. Quanto maiores as dificuldades, mais forte se torna a amizade. Todos os membros da ‘juventude das colinas’ sentem-se muito próximos, precisamente porque são proibidos de se encontrar”. Apesar da sua amizade próxima, Melet esclarece, ele tem diferenças ideológicas com Ettinger. “Meir foi para uma direção mais Hassídica. Eu me sinto menos conectado com o movimento Hassídico e não o enxergo como forma de vida. Também discordamos sobre a atitude com relação ao Estado de Israel. Eu vejo o Estado como uma ferramenta, para o bem e para o mal, Acho que a forma como o Estado de Israel trata a Terra de Israel é podre. Mas, talvez da sua decadência possa surgir algo novo. Meir rejeita o Estado de Israel. Ele acredita que o Estado é um obstáculo no caminho para tudo o que é sagrado, como a Terra de Israel, o shabat e o judaísmo. E, na sua opinião, este obstáculo precisa ser retirado. É isto que coloca na mesa, graças à sua grande capacidade de expressão, procurando convencer cada um. Ele sabe como expressar suas ideias e é por isto que o Shin Bet [Serviço Secreto] quer calá-lo”. Um construtor aspirante Em setembro de 2011, Ettinger recebeu uma intimação administrativa que o bania da Cisjordânia ‘por razões de segurança’ e se mudou para Jerusalém. Dois meses depois, a Corte dos Magistrados de Jerusalém, à pedido da polícia, emitiu um mandado que o bania também da região do Mercado Machané Yehuda, em Jerusalém, após ele ter sido detido mapeando empresas que empregam árabes, de forma a “advertir os fregueses sobre esses negócios”. Mais tarde, foi preso de novo, desta vez como parte de um “caso de espionagem”, no qual foi acusado, com quatro outros do assentamento de Yitzhar e redondezas, de instalar uma “sala de operações” num apartamento em Jerusalém para monitorar os movimentos do Tsaha’l [Exército de Israel] nos territórios e avisar aos colonos dos outposts sobre evacuações em preparo. Foi posto em prisão domiciliar na casa de sua avó em Jerusalém. E novamente preso quando violou os termos dessa prisão. Então foi aprisionado por vários meses no curso do seu julgamento. O juiz da Suprema Corte, Yitzchak Amit, que presidiu um dos apelos interpostos pelos seus defensores no “caso de espionagem”, escreveu em sua sentença: “Não se trata de uma Hasamba [série de livros sobre um grupo de crianças de Tel Aviv, que ajudavam a organização secreta Haganá, durante a luta pela independência de Israel], lutando contra o exército britânico e Elimelech Zurkin (um dos vilões nos livros], mas de uma atividade organizada e sofisticada contra o Tsaha’l e outros órgãos estatais, usando cavalos de Tróia dentro do exército”. Ettinger foi acusado de conspirar para reunir informações de valor militar e sentenciado a meio ano de prisão. Meir é casado com Moriah, criada nas colinas de Shiló, que hoje é aluna de estudos judaicos no Herzog College em Alon Shvut. Após o casamento, o casal viveu em Givat Ronen (Sneh Ya’akov), um outpost sobre uma colina próxima a Har Bracha. Antes dele ter sido preso, seu sustento vinha dos trabalhos que Meir fazia e viviam frugalmente. Quando um policial lhe perguntou por que ele não estudava para ser rabino, Ettinger respondeu: “O povo de Israel não tem falta de rabinos. Eles precisam de mãos que trabalhem. Minha aspiração é a de me tornar um construtor”. Entretanto, o amigo Melet diz que Ettinger não é dotado de capacidades técnicas. “Ele tem duas mãos esquerdas. Meir é o tipo do cara que quando você lhe dá um livro, ele não precisa de mais nada. Ele já leu os 6 Sedarim [6 volumes da Mishná e do Talmud] várias vezes. Não é que ele não tenha também ajudado a construir fisicamente estruturas em outposts, Mas ele não tem capacidades técnicas para isto. Ele é mais um homem de ideologia do que um homem de ação. Ele pensa no que devemos fazer, não em conversar, É um crente alegre, de quem você pode aprender como seguir a verdade”. Alguns diziam que ele era introvertido e recluso. “Ele não é nem introvertido, nem recluso. É um cara vibrante e feliz, com um coração de ouro, que cuida. Sempre ajudando alguém. Se, digamos, alguém fosse atingido no rosto por spray de pimenta durante uma evacuação, (Ettinger) o acompanharia a uma cisterna para lavar seu rosto”. Qual o significado para ele do seu avô Meir Kahane? “Entre todos os livros que estudou, também aprendeu dos livros do avô. Pode-se dizer que o seu avô é uma personalidade marcante na sua vida, mas ele não segue exatamente o mesmo caminho”. Quando Ettinger foi detido, há quatro meses, uma autoridade de segurança na Cisjordânia nos disse que ele rapidamente se tornou uma figura dominante entre a “juventude das colinas”. Ele se manifestava não apenas por suas crenças ideológicas, mas também por suas ações. Por exemplo, foi visto por policiais israelenses jogando pedras contra ovelhas pertencentes a um pastor árabe e, logo depois, sacrificando uma ovelha diante do pastor. “Foi horripilante”, disse o policial. “Ele parecia possuído por um tipo de loucura”. Vários meses depois, em janeiro de 2014, Ettinger chegou à aldeia palestina de Qusra, com um grupo de colonos, todos mascarados e com luvas, visivelmente planejando cometer um atentado “price tag”. Mas moradores árabes os pegaram e começaram a bater neles. Os velhos da aldeia os protegeram da raiva dos jovens e os salvaram de ser linchados. Também chamaram o Tsaha’l para vir retirar os colonos da aldeia. Em 23/11/2014, a casa da família Kumail, em Khirbet Abu Falah, próximo a Ramallah, foi incendiada. A casa sofreu sérios danos, mas ninguém foi ferido. Três meses depois, Ettinger foi preso – por detetives da Unidade de Crimes Motivados por Nacionalismo, da Polícia da Judéia e Samária – e levados para interrogatório na delegacia de polícia do assentamento de Maalê Adumim, sob suspeita de envolvimento no incêndio criminoso. A polícia não tinha nenhuma evidência contra ele, apenas inteligência. Como de costume, Ettinger permaneceu em silêncio durante seu interrogatório, findo o qual recebeu um mandado administrativo que o bania de entrar na Cisjordânia. Ele apelou contra o mandado na Suprema Corte. Antes ainda de os juízes tomarem uma decisão, Ettinger escreveu uma carta. “Há duas semanas, recebi uma ordem impedindo-me de ir à minha casa em Givat Sneh Ya’akov, próximo à cidade santa Shchem [Nablus]. Este mandado me força a deixar minha casa, na terra do justo Jacob. A casa de meus pais na cidade sagrada de Jerusalém, a cidade do Templo. E a casa dos meus sogros em Shiló, onde morou o Tabernáculo, por milhares de anos, antes que leis estranhas e bizarras, às quais este tribunal adere, tivessem sido escritas”. “Desafortunadamente, a Terra de Israel é dominada por um governo que não é leal às leis da Torá e aos seus mandamentos, para o qual a santidade da Terra de Israel é externa. O fato de ser chamado de Estado judeu é meramente um engodo. Esta é a situação que me trouxe aqui, diante desta corte, que aos meus olhos é a mesma que aqueles que me barram da minha casa e da terra dos meus ancestrais, cujo objetivo é promover a assimilação e apagar a natureza única do povo de Israel e para a qual a segurança do Estado não é o mesmo que a segurança dos judeus”. Esye apelo foi rejeitado a a sentença mantida. Os Ettingers se mudaram para Yad Binyamin, perto de Gedera. E, então, mudaram com parentes para Petah Tikvah e, finalmente, para Zfat [Safed]. Tristeza de filhos distantes Agora, estamos na rua Mordechai Anielewicz, no sul de Zfat. Da rua onde Meir e Moriah Ettinger residem, podemos avistar o lago Kineret sob nuvens carregadas, Quando ele lá chegou no fim da tarde, um dos vizinhos nos disse que os Ettingers viviam ao lado da casa do rabino Ezra Scheinberg, que tinha sido, até seis meses atrás, o chefe da yeshivá Orot HaAri. “Ettinger rezava nessa yeshivá” disse o vizinho. “Em geral, muito poucos jovens das colinas vinham aqui”. Scheinberg fora aprisionado no início do último verão, sob suspeita de crimes sexuais contra mulheres. Foi condenado por estupro, sodomia, atos incidentais e abuso sexual. Continua preso. No início de agosto deste ano, após o incêndio criminoso da casa da família Dawabsheh, em Duma, Ettinger foi novamente preso e submetido à prisão administrativa de seis meses. Na sentença de prisão, foi descrito como “o filósofo e dirigente do grupo terrorista responsável pelo incêndio de casas e igrejas palestinas”. A sentença ainda declarava que a organização de Ettinger tem como objetivo derrubar o governo do Estado de Israel por meio de uma revolta violenta e formar uma lei alternativa, expulsar de Israel qualquer um que não fosse judeu, erradicar o culto a ídolos e violar o Monte do Templo. A decisão de mantê-lo em prisão administrativa é baseada em documentos confidenciais do Shin Bet pelos quais, caso Ettinger não fosse posto sob detenção administrativa, iria continuar perpetrando seus objetivos. Durante uma audiência sobre sua detenção administrativa, na corte distrital de Jerusalém, Ettinger ironizou sua classificação como “alvo número um do Shin Bet”, numa carta que submeteu à corte. “Eu não conseguiria, nesta curta carta, abordar todos os relatos na mídia”, escreveu. “Só vou contar que, conforme esses relatos, sou o alvo número um do Shin Bet, mas os investigadores não sabiam que por seis meses eu só tive uma escapada após outra, em acidentes de trabalho enquanto trabalhava na construção da Terra de Israel”. Durante sua detenção, entrou em guerra de fome após o Shin Bet tê-lo impedido de falar com sua esposa e família. “É lógico que continuamos em contato com ele”, diz seu pai, o rabino Mordechai Ettinger. “Mas não queremos ser parte da história inteira da prisão. Não queremos dar entrevistas. Nossos rabinos nos instruíram a não dar entrevistas”. Sua mãe Tova disse ao Ynet após a prisão do filho: “Não temos mais energia para isto”. A esposa Moriah se recusa a dar entrevistas. “Os pais de Meir são seguidores do rabino Tau [Rabbi Zvi Tau, um dos mais importantes no setor nacional-religioso], o que significa que são grandes apoiadores do Estado de Israel”, explica Melet. “É com tristeza que vemos filhos se distanciando e é com tristeza que vemos pais distanciados. Cada lado precisa trabalhar sobre a sua natureza. Não é simples”. O próprio Melet foi barrado de sua casa em Geulat Zion. Ele vive com sua esposa e filho na casa de seus paia em Hermesh e não pode sair de casa à noite. “Acho que o Shin Bet não teve nenhuma razão para me impor esta ordem”, diz. “Oficialmente, o mandado fala em algo lacônico como ‘suspeita de ferir a população árabe e as forças de segurança’, mas o Shin Bet me disse, especificamente, que tudo que estava escrito na ordem é nonsense e que eu nada tinha a ver com violência ou atentados price tag. Deixaram claro para mim que fui banido porque ensino à geração futura de jovens das colinas a amar a Terra de Israel. Organizei acampamentos de verão sobre a Terra de Israel. Estudamos tanto a Torá como textos de Ben-Gurion”. Como educador, o que disse aos seus alunos sobre o assassinato em Duma? “Só falo aos meus alunos sobre a Terra de Israel. Também acredito em valores universais como o vegetarianismo, por exemplo, mas não falo disso para os meus alunos. E, assim como não falo sobre vegetarianismo, não falo a eles sobre Duma. Mas, se alguém viesse me dizer que queria botar fogo numa casa em Duma, eu lhe diria que seria vergonhoso incendiar casas em que judeus poderiam viver”. Por que você e Meir não se alistaram no Tsaha’l [Exército de Israel], como outros jovens das colinas? “Os que se alistaram eram meros punks, não verdadeiros jovens das colinas. Meir não acredita no exército. Eu não tenho nenhuma objeção fundamental ao exército, mas acho que posso fazer coisas melhores fora dele. E o exército tampouco me quis. O exército é, como seu nome implica, a Força de Defesa de Israel. Ele só sabe como defender, não como conquistar e lutar. Age como se fosse um exército da ONU. O Estado precisa decidir em que lado está, se quer ter aqui um Estado judeu ou um Estado para todos. Se ele quiser um Estado judeu, podemos trabalhar juntos, mas se for um Estado que não assume a identidade judaica, haverá aqui uma guerra”. Moshe Orbach foi outro que se mudou para Zfat por causa de um mandado administrativo. Orbach, 24, nascido em Bnei Brak, havia sido expulso de sua escola e se mudado para o outpost Baladim, próximo a Kochav HaShahar. Após ser barrado da Cisjordânia, começou a frequentar a yeshivá Nahalat Naftali, na cidade velha de Zfat. Ele foi preso no final de julho deste ano, como parte da investigação sobre o incêndio criminoso da ‘Igreja da Multiplicação’, às margens do Lago Kineret. Em sua posse havia um pendrive com um documento intitulado The Kingdom of Wickedness [“O Reino da Maldade”], um guia detalhando como perpetrar atentados price tag sem ser pego, que revela todos os meios que a polícia e o Shin Bet têm à disposição. Em 13 páginas, que servem como documento de inteligência tática, está exposta toda uma explicação sobre como criar uma infraestrutura operacional de terror. ‘Meu coração foi posto em chamas’ Ao lado de Ettinger, há outros dois jovens das Colinas que estão hoje sob detenção administrativa. Quarenta outros receberam mandados barrando-os de Cisjordânia, com diversas restrições. Muitos colonos protestam contra a facilidade com que tais ordens são emitidas, assim como contra o silêncio do público sobre o assunto. “Não tenho idéia da razão de Meir Ettinger ter sido posto sob prisão administrativa”, diz o rabino Meir Goldmintz da yeshivá Havat Gilad Yeshiva, que conversou com Ettinger várias vezes no passado. “Esta é a essência da detenção administrativa – uma detenção sem julgamento, sem definição clara de culpa e sem que o preso tenha o direito de se defender contra acusações que possam lhe ter sido feitas. Por isto, trata-se de um ato de injustiça, de violação de direitos humanos. Um ato contra a natureza democrática do Estado de Israel”. “Ettinger e eu tivemos uma discussão profunda sobre o papel do Estado de Israel. Meir sempre apresentou suas idéias numa maneira calma e agradável. A despeito do fato de que sou um sionista e me oponho às suas idéias, a liberdade de expressão está precisamente aí, para proteger a expressão daqueles que se opõem. Como pode acontecer uma prisão em massa, na qual 40 pessoas são detidas de uma vez? Mesmo que lá estivessem dois que possam ter se envolvido no incêndio de Duma, ainda existe uma injustiça contra os outros 38”. “Não há nenhuma evidência ligando Ettinger a um incidente violento contra árabes. Mas a primeira cláusula do mandado de detenção dizia que ‘ele é um criminoso ideológico violento e perigoso”, diz Zemer, advogado de Ettinger. “O mandado para renovação da detenção administrativa diz que ‘apesar de sua prisão, ainda mantém as mesmas visões radicais’. Este é o propósito da prisão, uma reeducação como na Coréia do Norte. Eu disse ao juiz Avraham Tal, presidente da corte distrital: ‘veja só, a reeducação falhou. Talvez devamos enviá-lo para a Coréia do Norte, eles são especialistas nisto”. O Shin Bet respondeu: “A ordem de detenção administrativa emitida contra Meir Ettinger foi aprovada por todas as partes autorizadas, assim como pelo presidente da corte distrital, após revistas todas as informações atribuídas à questão. A detenção administrativa de Ettinger é baseada em informação abrangente e confiável, que indica um perigo real para a segurança do Estado e da população”. Zemer não foi convencido por esta resposta. “Ettinger está preso por suas idéias, sua ideologia. É uma prisão 100% política. Reclamei aos juízes que só recebi dois pedaços de papel, enquanto que os representantes do Shin Bet levaram à corte de 20 a 30 pastas que dizem estar cheias de informação classificada. Não é possível que todo esse material esteja classificado. Pedi à corte para vez o que me pode ser mostrado. Me entregaram uma pasta cheia de posts que Ettinger tinha feito no seu blog… Isto é ridículo”. Por exemplo, o que Ettinger escreveu sobre o incêndio na Igreja da Multiplicação: “O que caminhões de incêndio podem tirar desse fogo para que possam incendiar o coração de um judeu? Existe esperança, existe uma chance, não se desespere. Meu coração foi posto em chamas, e o seu? Acenda-o rapidamente, antes que eles possam nos pôr para fora”. E um dia antes do atentado terrorista em Duma, Meir Ettinger escreveu: “Não existe um organização terrorista, mas há muitos judeus, muitos mais do que alguns imaginam, cujos valores são completamente diferentes daqueles da Suprema Corte ou do Shin Bet, e que não são guiados pelas leis do Estado – a ignorância quebrada – mas por leis mais eternas e verdadeiras, da fonte do judaísmo.”
[ publicado no Ynetnews em 12|12|2015 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ] |