O governo brasileiro vai segurar a aceitação do Embaixador designado por Israel, Dani Dayan, líder dos colonos da Cisjordânia ocupada.
Uma comparação com o que aconteceu com o novo embaixador argentino, Carlos Magariños, mostra claramente o gelo que o Itamaraty está aplicando a Dayan: Magariños foi indicado no dia 12 de dezembro e, no dia 15, já estava aprovado.
Em nota oficial, o Itamaraty aponta a celeridade: “A concessão do ‘agrément’ ocorreu tão logo o governo brasileiro foi comunicado oficialmente sobre a indicação do embaixador Carlos Alfredo Magariños por parte do governo da Argentina, em sintonia com a relação de profunda amizade e confiança entre os dois países.”
Parece que a confiança com Israel não é tão profunda: indicado em 5 de agosto, Dayan não recebeu o aval, quatro meses e meio depois.
Seu antecessor, Reda Mansour, já se despediu oficialmente do Brasil, em almoço que lhe foi oferecido pelo Itamaraty no último dia 14.
Há dois problemas com Dayan, um de forma, outro de conteúdo, seguramente o mais relevante.
O Itamaraty não gostou do fato de que o Ministério israelense de Relações Exteriores anunciou a designação de Dayan publicamente, antes de comunicá-la ao governo brasileiro e receber deste o “agrément” de praxe.
Além disso, houve, segundo a Folha apurou, várias gestões extraoficiais para apressar a aprovação de Dayan.
Uma delas: telefonema do ministro israelense de Defesa, Moshe Yaalon, a seu par brasileiro, Jaques Wagner (também judeu), intercedendo pelo embaixador designado.
Mas o entrave maior ao “agrément” é o fato de que Dayan é representante dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, território que a legislação internacional destinou aos palestinos, mas que Israel continua ocupando.
De 2007 a 2013, Dayan presidiu o Yesha Council, a representação das comunidades instaladas no que os judeus ortodoxos preferem chamar de Judeia e Samaria.
O governo brasileiro é historicamente favorável à solução dos dois Estados –um para Israel, outro para os palestinos –, que é impraticável sem a retirada dos colonos.
O “Times of Israel” cita um diplomata israelense sênior, não identificado, para dizer que “para o Brasil é um escândalo que Israel queira mandar um líder dos colonos como seu embaixador”.
Está claro, portanto, que o silêncio do Itamaraty foi ouvido em Jerusalém.