Milhões de jovens americanos não trocarão seus valores e crenças para agradar doadores ricos ou líderes direitistas.
Como universitária progressista, muçulmana norte-americana e líder de um movimento pró-Israel e pró-paz no campus, passei um tempo em Israel e nos territórios ocupados. Estudando, vivendo e ouvindo.
Eu me preocupo muito com o futuro de Israel e com o povo que lá conheci. Também me preocupo muito com os palestinos e com as injustiças que eles enfrentam.
Como a maior parte dos estudantes progressistas que acompanham o conflito, apoio uma solução de 2 Estados, porque a vejo como a única solução pragmática para ambos os povos.
Mas, na defesa dessa solução, meu trabalho é extremamente difícil por uma verdade simples. No campus de hoje, é cada vez mais difícil para os estudantes progressistas que se identifiquem como pró-Israel.
Isto porque, tanto em Israel como nos Estados Unidos, o apoio a Israel tem sido monopolizado e definido pelos falcões e a direita conservadora. Neste momento, a política conservadora está mais tóxica do que nunca.
Ataques a direitos femininos, retórica islamofóbica de candidatos presidenciais e uma escalada de xenofobia no debate anti-imigração têm caracterizado até aqui a corrida republicana e, têm sido a imagem do partido para a atual geração de estudantes.
Enquanto isto, muitos jovens estão começando a reconhecer a força do racismo institucional na nossa sociedade, graças ao trabalho de movimentos pela justiça social como o ‘Black Lives Matter’.
À medida que se difundem os ideais e princípios progressistas, o universitário americano médio simplesmente não votará em alguém que diz que um americano muçulmano tem que renunciar à sua religião para concorrer à presidência. Eles não votarão em alguém que diz que todos os imigrantes mexicanos são estupradores, que prega a deportação em massa ou navegue em arroubos racistas.
Ainda assim, enfrentamos um risco sério de que as pessoas que esposam estas idéias extremistas – políticos de direita que crescentemente estão se afastando da maioria do país – estejam se tornando a face pública do que se entende por ser pró-Israel.
As relações próximas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com o Partido Republicano e seus líderes mais falcões foi ofuscantemente evidente no recente debate no país sobre os acordos nucleares com o Irã.
Os democratas garantiram a aprovação do acordo, enquanto Netanyahu e os congressistas republicanos se opuseram – a despeito do fato de boa parte da comunidade de inteligência israelense defender que o acordo é bom para a segurança a longo-prazo de Israel.
Alguns candidatos presidenciais americanos também se têm disposto a tornar Israel uma questão partidária, acompanhando os seus doares à direita. Eles parecem se inspirar no multibionário rei dos cassinos Sheldon Adelson, pessoa que repetidamente tem declarado seu repúdio a palestinos, e que sustenta financeiramente o principal jornal da direita de Israel [NT: O Israel Hayom é distribuído diária e gratuitamente em todo o país] e tem frequentemente defendido o uso de armas nucleares contra o Irã. No começo do ano, Adelson forçou a candidata presidencial Chris Christie a pedir desculpas, simplesmente por ter usado a expressão “territórios ocupados”.
Os poderosos doadores da direita, como Adelson, não se contentam apenas em dominar o discurso sobre Israel na política nacional americana. Eles procuram também fazê-lo nos campi e na comunidade judaica.
Os doadores têm ameaçado retirar o apoio dos grupos da Hilel que se associam à J Street U, no trabalho pró-2 Estados e anti-ocupação que fazemos. Adelson financia uma organização chamada ”Campus Maccabees” que se diz “pró-Israel” empurrando lemas agressivos e rejeitando furiosamente qualquer crítica a políticas israelenses, sejam essas quais forem.
Enquanto isto, ações e políticas do atual governo israelense têm erodido qualquer simpatia ao país entre os progressistas. O discurso explícito de medo anti-árabe de Netanyahu no dia das últimas eleições, em março, o seu apoio à expansão dos assentamentos, a sua rejeição pública à solução de 2 Estados e o suporte aos extremistas do seu governo, dispararam alertas vermelhos.
Os jovens americanos querem atuar dentro dos nossos valores progressistas de justiça social, direitos humanos, paz e segurança para todos os povos.
Reconhecemos que Israel enfrenta desafios reais e ameaças à sua segurança. E que nenhum país é perfeito. Queremos apoiar um governo israelense que busque a paz e se comporte como uma democracia liberal.
Mas não queremos ser identificados como “pró-Israel” , se isto apenas significar estar de acordo com as políticas e visões de mundo de pessoas como Ben Carson, Ted Cruz e Benjamin Netanyahu.
Sou pró-Israel, sim, porque apoio a visão de um Estado judeu e democrático, que respeita os direitos humanos e luta pela paz.
Eu me identifico com os valores de autodeterminação dos que fundaram Israel, assumindo a responsabilidade pelo futuro do seu próprio povo e lutando pela justiça social e por ser livre de preconceitos.
Estes são valores progressistas. Estes são os meus valores.
Para mim, ser pró-Israel significa trabalhar por um futuro seguro para o povo que encontrei em Israel e na Cisjordânia. Significa entender que paz e segurança são parte integrante, uma da outra.
Significa não aceitar o fato de que, atrás da Linha Verde, palestinos vivam sem soberania nem direitos civis – e sem esperança. Temos a responsabilidade de acabar com a ocupação: pelos palestinos, pelos israelenses e por todos aqueles que acreditam que o futuro não precisa repetir, continuamente, os erros do passado.
Em tempos difíceis como estes, isto significa encarar a realidade dos fatos e defender ações que possam nos aproximar de uma solução. Isso significa condenar a violência e o incitamento, venha de onde vier.
Significa opor-se ativamente ao empreendimento de assentamentos. Significa continuar a insistir em lideranças responsáveis, orientadas para soluções.
Milhões de jovens americanos não irão modificar seus valores e crenças para agradar doadores ricos ou líderes da direita. Mas isso não precisa e não deve nos tornar “anti-Israel” – muito pelo contrário.
Sabemos que muitos líderes israelenses, palestinos e americanos compartilham dos nossos princípios e idéias.
Se eles se levantarem contra as forças do medo, da desesperança e da rejeição, e se mostrarem como líderes corajosos em direção a paz, estaremos prontos a segui-los.
Enquanto observamos e esperamos, assumimos a nossa própria condução – mas contamos com eles para que sigamos juntos.
Amna Farooqi é acadêmica senior na Universidade de Maryland e presidente do Conselho Nacional do J Street U.
[ publicado em 25|11|2015 no Haaretz e traduzido pelos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA ]