Inviável

n232

b i t t e r l e m o n s / B R ©

 

originais: www.bitterlemons.org   versão brasileira: PAZ AGORA/BR   www.pazagora.org

11/04/2005

 

O QUE SIGNIFICA ‘VIÁVEL’ ?

 

UMA VISÃO ISRAELENSE

Inviável

por Yisrael Harel

  

No encontro no Texas, o Presidente George W. Bush, sem dúvida, apelou a Ariel Sharon para que o ajudasse a concretizar sua visão para o estabelecimento de um Estado palestino viável. Mas Sharon não se incomodou em responder que mesmo se Israel se retirasse para as linhas do armistício de 1949 (a Linha Verde) os palestinos não teriam um Estado viável; e que somente se o Egito e a Jordânia contribuíssem com territórios, este Estado palestino seria viável.

Não, Sharon não fez tal afirmação. O que interessa aos políticos, certamente os da estirpe de Sharon, são as próximas eleições ou, no caso específico de Sharon, a legitimação que recebeu recentemente da mídia internacional – que o detestou por mais de quatro décadas -, agora que declarou que Israel se retirará e concederá um Estado aos palestinos.

Bush recebe Sharon no Texas

Bush recebe Sharon no Texas

Como todos sabem, a densidade populacional na Faixa de Gaza está entre as maiores do mundo. A Faixa inteira compreende não mais de 376 quilômetros quadrados. Dizem que em Wyoming, Texas, ou mesmo na Austrália, há ranchos cujo tamanho é bem maior do que Gaza. E nesse pedaço mínimo de terra, se apinham hoje mais de 1.250.000 pessoas, cuja taxa de crescimento é a mais alta do mundo, algo como 4,5 % ao ano.

Em outras palavras: a cada 17 ou 20 anos a população de Gaza dobra. Em 2020, por exemplo, a densidade populacional em Gaza irá alcançar em torno de 6.650 pessoas por quilômetro quadrado. Apenas espaço suficiente para ficar em pé! A Faixa, que já está debilitada, irá chafurdar em sua atrofia, com as crianças, seu principal produto, sem futuro: sem educação adequada, sem serviço de saúde digno até para padrões de terceiro mundo, sem renda e, claro, sem futuro. Será uma grande jaula. Pior, será uma chaga contínua, uma bolha gigante, fadada a arrebentar e levar com ela qualquer acordo que for alcançado – se realmente houver algum.

Há apenas uma saída da jaula de Gaza: ao sul, em direção à terra vazia, despovoada, mas fértil, que está esperando para ser desenvolvida e colonizada no Sinai setentrional.

Para evitar algum mal entendido, não me refiro que nós, israelis, deveríamos – que Deus nos livre – transferir os árabes de Gaza para o Sinai setentrional. De maneira nenhuma.  É preferível que o Egito, em um ato de generosidade para com seus irmãos e correligionários palestinos, conceda a eles uma pequenina porção de sua terra, digamos 20.000 quilômetros quadrados no Sinai setentrional. Aqueles palestinos que estão  como uma multidão transbordante em Gaza poderiam simplesmente mudar suas casas para uma pequena distância. (A Jordânia também tem um papel a desempenhar tornando possível o estabelecimento de um verdadeiro e viável Estado palestino. Mas aqui, para sermos breves, iremos nos concentrar no papel do Egito).

Em El Arish, por exemplo, uma metrópole e um porto de águas profundas pode ser construído; não muito longe, um grande aeroporto e mais uma cidade, também no leste, a uns 20 km a sudeste de Rafah. O deserto iria florescer. Uma rodovia moderna poderia ser pavimentada junto às fronteiras do Sinai com Israel em direção a Eilat e ligar, através de um túnel, a Áqaba, onde se conectaria com a rodovia jordaniana do Aravá. Assim o mundo árabe estaria aberto para a parte  meridional do Estado palestino – da mesma forma que a parte setentrional, o que são hoje, de fato, as áreas A e B.  

Em verdade, os egípcios dificilmente se oferecerão para conceder terras de suas grandes reservas aos seus irmãos palestinos. O Egito compreende mais de 1.100.000 quilômetros quadrados, dos quais os 90.000 quilômetros quadrados da Península do Sinai são totalmente despovoados.

Certamente menos de 20% do Egito é habitado. Quando tão pequena porcentagem da terra é povoada, não é um exagero marcar o resto, e particularmente aquele no qual está proposto expandir o Estado palestino, como reservado.    

O presidente Bush, que é tão comprometido com um Estado Palestino viável, termo a que ele se refere em cada fala em que menciona o Estado Palestino, também tem obrigação de provê-lo não só de  meios financeiros e de sustentação política, mas também de terra. No entanto, ele não pode exigir esta terra de Israel pela simples razão de que mesmo que se Israel não se retire para as linhas de 1949, não haverá terra suficiente para suas necessidades. Já hoje, com perto de seis e meio milhões de almas vivendo em 20.000 quilômetros quadrados, Israel é um dos países mais populosos do mundo.  

Se a América o desejar – particularmente em vista de sua posição especial no Egito, para o qual doa uns dois bilhões de dólares e vende boa quantidade de armas – ela pode persuadir o regime do Cairo a ceder terra para os palestinos.

© bitterlemons.org  11/04/2005 versão brasileira PAZ AGORA/BR

 


YISRAEL HAREL dirige o recentemente criado Instituto de Estratégia Sionista, e escreve uma coluna semanal no jornal Haaretz. Foi presidente do Conselho de Yesha (Conselho dos Assentamentos Judeus na Judéia, Samária e Faixa de Gaza).

 

 

 

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