Ari Shavit acredita que a raiz de todos os males nas negociações com os palestinos é a idéia de que apenas um tratado de paz completo é aceitável. E observou “a meu crédito” que até eu havia abandonado esta abordagem (Haaretz, 02|09). Ele está errado.
Desde seu estabelecimento, Israel quer obter acordos de paz completos com todos os seus vizinhos. Este foi o caminho da corrente principal do sionismo, com a intenção de assegurar que o Estado judeu não fosse um corpo estranho na região. Este foi o principal objetivo dos Acordos de Camp David em1978, que propunham um acordo com os palestinos após cinco anos de auto-governo.
Quando iniciei o processo de Oslo, meu objetivo era vencer obstáculos nas conversas de Washington entre Israel e a delegação jordaniano-palestina e acordar sobre os parâmetros de um acordo interino que levaria a um acordo permanente dentro de 5 anos. Propus ao falecido Yitzhak Rabin que aproveitássemos a oportunidade e tentássemos começar negociações sobre um acordo permante, mas ele rejeitou isto, dizendo que se tais negociações falhassem, não seria possível falar de um acordo interino e perderíamos os dois caminhos.
Imediatamente após a assinatura dos Acordos de Oslo, comecei conversações com Mahmoud Abbas [atual presidente da AP] sobre uma declaração de princípios para um acordo de paz. O trabalho foi concluído em dois anos. O então primeiro-ministro Shimon Peres rejeitou o documento. Benjamin Netanyahu, como primeiro-ministro, fez de tudo o que podia para evitar o momento da verdade para um acordo permanente.
Ehud Barak, eleito em 1999, queria chegar a um acordo permanente, mas recusou uma proposta americana de por na mesa de negociações de Camp David o que foi chamado de Documento Beilin-Abu Mazen (embora não fosse um documento assinado). As conversas com os palestinos fracassaran porque ambos os lados não se esforçaram o suficiente para chegar a um acordo definitivo.
Após as conversas não terem tido sucesso, propus a Yasser Abed Rabbo, o então ministro palestino de Informação, manter um canal informal para preparar uma proposta detalhada para uma paz permanente, e provar aos dois povos que cada uma das questões podia ser resolvida, Esta é a Iniciativa de Genebra, assinada há sete anos por um grupo de notáveis israelenses e palestinos, Ela se tornou o único documento detalhado aceitável por uma grande população de israelenses e palestinos.
O primeiro-ministro àquele tempo, Ariel Sharon, decidiu por uma retirada unilateral de Gaza. Essa retirada contradisse completamente o espírito de Iniciativa de Genebra, mas eu a apoiei porque entendi que isto era o que Sharon estava disposto a fazer, e que era preferível deixar Gaza com Sharon do que esperar por outro primeiro-ministro.
Se o sucessor de Sharon, Ehud Olmert, tivesse continuado pela via unilateral, eu também o teria apoiado. Felizmente, para mim, ele tentou uma mudança maior, mas que ainda era muito distante dos acordos que conseguimos na Iniciativa de Genebra. E os palestinos não se entusiasmaram com isto.
Netanyahu, lamentavelmente, foi eleito para um segundo mndato. Ele está a muitos quilômetros de um acordo nos moldes dos parâmetros Clinton ou da Iniciativa de Genebra. Não tenho certeza de que ele esteja preparado para um acordo interino, mas me parece que há algo mais prático do que conversas fúteis sobre segurança, o meio-ambiente, água e o caráter judaico do Estado de Israel, É por sito que proponho tentar um movimento parcial.
Não estou me iludindo. Penso que a retirada unilateral de Gaza foi tola e que um acordo interino também não é o desejável. Se dependesse de mim, sem dúvida eu preferiria chegar a um acordo de paz completo agora.
A questão é: melhor aguardar por um primeiro-ministro disposto a pagar o preço da paz, ou fazer o máximo possível já?
Eu prefiro não esperar.
[ publicado no Haaretz em 06|09|10 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]