Desde o momento em que aderi ao PAZ AGORA, ameaças, cartas odiosas e telefonemas hostis tornaram-se rotina. O número de cartas e telefonemas podia servir como indicativo do nível de influência do PAZ AGORA. Nos períodos em que conseguimos influenciar a agenda pública, os ataques contra a organização e contra nossas pessoas aumentavam proporcionalmente e quando nossa voz era menos ouvida as ameaças diminuíam.
Contudo, nunca achei que haveria uma razão tangível para preocupação, além dos episódios de violência espontânea em manifestações, notadamente em assentamentos. O sentimento era de que as cartas odiosas não iria se transformar em ataques físicos de verdade.
Na noite de 5ª feira, minhas sensações de segurança pessoal – e as dos meus amigos – acabaram no momento em que recebi notícias de que um artefato explosivo havia sido detonado diante da casa do Prof. Zeev Sternhell.
A bomba não era grande e por sorte o Prof. Sternhell recebeu apenas ferimentos leves. Mas o eco da explosão foi ouvido por todo o país.
Existem os que opiniam que a luta política sobre o destino dos assentamentos já foi decidida e que o conflito entre esquerda e direita ficou para a História. A explosão na casa de Sternhell, as agressões a soldados de reserva em protesto contra sua participação na evacuação de uma obra ilegal, e o abuso de palestinos nos territórios, tudo isto prova que, ainda que tenha se transformado, a luta pelo destino dos assentamentos e pela imagem de Israel é mais importante do que nunca.
Nos últimos dois anos, as manifestações de massa organizadas pelo Yesha [Conselho de Colonos], a distribuição de fitas cor de laranja e a proliferação de adesivos e posters deram lugar a atos de violência, ao estabelecimento de outposts ilegais, manifestações violentas e ataques físicos contra ativistas do campo da paz, soldados do EDI e palestinos.
A indústria de colonização cresceu com a incorporação de milhares de jovens apaixonados para os quais “Estado” e “democracia” são inimigos diretos. Para eles, a visão de uma Grande Israel sobrepõe-se a tudo.
Enquanto a democracia israelense sustentava a decisão de investir e construir além da Linha Verde, os jovens colonos viram-se como parte inseparável do Estado de Israel. Entretanto, quando a mesma democracia toma uma decisão que contraria suas crenças, o Estado e suas instituições tornam-se “inimigos do povo judeu” e todos atos para combatê-los, incluindo a violência, são justificados.
Até aqui, lamentavelmente, essa nova tática funcionou. Recentemente, o Shin Bet e o EDI aconselharam o ministro da defesa a não evacuar pela força o outpost Migron, construído em terras de propriedade privada palestina, e a fazer todo o possível para chegar a um consenso sobre a evacuação de forma a evitar um choque violento com os colonos.
O ministro aceitou o conselho e optou por não colocar o exército e a polícia numa situação em que tivessem que se chocar com os ‘malfeitores das colinas’. Ao fazê-lo, permitiu aos que desobedecem à lei que continuassem vivendo no outpost.
Num estilo parecido, os ataques físicos se voltaram recentemente contra a antiga liderança do próprio [conselho de colonos] Yesha, que tentava manter um tom relativamente moderado na luta com o governo israelense. A sabotagem de carros dos chefes do movimento de colonos ‘Amana’, em protesto contra as discussões sobre o destino de assentamentos da Cisjordânia, levou o movimento religioso-sionista e entender que havia criado um monstro.
Não sei quem detonou o artefato na porta da casa do Prof. Sternhell, mas sei que um grupo crescente de ativistas de extrema-direita está conseguindo aterrorizar a sociedade israelense e influenciar suas políticas usando de violência.
A radicalização das atividades da direita não é apenas problema para os palestinos, mas para a sociedade israelense como um todo, da direita à esquerda.
A continuação da apatia e a falta de disposição para lidar com este fenômeno só dá força aos extremistas e põe em perigo não só a chance de termos paz como a própria democracia israelense.
YARIV OPPENHEIMER é secretário-geral do PAZ AGORA.
Publicado no Jerusalem Post em 28|09|2008, e traduzido pelo PAZ AGORA|BR