Dayan serviu como membra combativa do Knesset de 1992 a 2003. Foi proeminente ativista dos direitos humanos, com foco nas mulheres e na comunidade LGBTQ. Participou da direção do Movimento PAZ AGORA (Shalom Achshav)
[ por Ofer Aderet com complemento de Moisés Storch | Haaretz | 18|05|24 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
Yael Dayan – seu olhar arguto e penetrante remetia ao do pai Moshé Dayan
A ex-deputada israelense Yael Dayan, proeminente ativista dos direitos humanos, da comunidade gay e das mulheres, morreu na terça-feira aos 85 anos.
Nos últimos anos, Dayan sofreu de uma doença pulmonar grave. Foi a última filha de Moshe e Ruth Dayan – ele, ex-ministro da Defesa e ícone israelense, e ela, socialite e personalidade mundial da moda. Seu irmão, o diretor de cinema Assaf (Assi) Dayan , morreu em 2014 e outro irmão, o escultor Ehud (Udi), faleceu em 2017. Sua mãe, Ruth, morreu no ano passado, aos 103 anos.
Dayan nasceu em Nahalal, no norte de Israel, em 1939. Dos três irmãos, ela era considerada a irmã mais madura e funcional. “Tive o que considerava excelentes pais, mas servi como pai substituto para Udi e Assi”, disse ela numa entrevista concedida ao Haaretz há vários anos. Desde a infância, ela seguiu a carreira do pai, mudando-se de Nahalal para Jerusalém e depois para o bairro de Tzahala, na zona norte de Tel Aviv.
Em sua juventude, apareceu em colunas de fofocas, sendo observada em festas reluzentes na companhia de celebridades em Israel e no exterior. Alguns deles também foram seus amantes. “Eu ia com minha mochila escolar e meu namorado [o cantor renomado] Arik Einstein ao Café Kassit de Tel Aviv, o ponto de encontro dos boêmios de Tel Aviv, onde conheci o poeta Nathan Alterman, por cujos poemas sou obcecada até hoje”. Ela serviu como oficial na unidade de porta-voz do EDI, onde conviveu com o general Ariel Sharon, cuja sagacidade militar admirava apesar de suas posições de ultra-direita). Durante a Guerra dos Seis Dias, conheceu seu futuro marido Dov Sion, um militar que mais tarde se tornou o porta-voz das EDI. Ele morreu em 2003.
Quando era menina e adolescente, seu pai lhe contou sobre seus casos amorosos e traições. “Eu li sobre isso e ele me contou também. Não sei se isso é bom ou ruim, esse tipo de abertura dos pais. Quando seu pai lhe conta algo assim, há uma sensação de proximidade e abertura, mas quando você cresce você percebe o quão terrível isso é. Na época, era lisonjeiro, mas era ruim e nada saudável, sem nada de positivo. Quando a mãe decidiu se divorciar do pai, ela achou que era uma má decisão, apesar de tudo mas a apoiou. “Mas aparentemente o sofrimento dela era insuportável”, disse ela.
Yael Dayan deixou sua marca como escritora, muito antes de se dedicar à política. Por ser uma mulher jovem e bonita que escrevia sobre sexo, ela era considerada uma “pioneira” na época, em suas palavras. Em seu primeiro livro, “Nova Face no Espelho“, descreveu casos que teve com colegas de seu pai general. Mais tarde, ela publicou “Death Had Two Sons” e “Three Weeks in October” e “My Father, His Daughter”. Seu último livro se chama “Transições”.
Além de escrever, era conhecida como ativista da paz e dos direitos humanos e defensora das mulheres e dos gays. Entre 1992 e 2003, atuou como membro do Knesset do Partido Trabalhista . Como parte do seu trabalho, iniciou a primeira sessão do Knesset para tratar dos direitos da comunidade gay, bem como estabelecer um comité encarregado de prevenir a discriminação de género. Alterou a lei sobre a difamação para proibir a humilhação de uma pessoa com base no seu género ou orientação sexual, e apresentou uma lei que proíbe o assédio sexual. Ela também destinou orçamentos para abrigos que abrigam mulheres vítimas de abuso, atuando na conscientização para o combate à violência familiar.
Além de sua constante participação no Movimento PAZ AGORA, atuou também na liderança da ONG israelense-palestina WOMEN IN BLACK [Mulheres de Negro) e na MACHSOM WATCH (voluntárias que supervisionam o tratamento aos palestinos nos postos de fronteira). Nos últimos anos defendeu os direitos humanos de imigrantes ilegais africanos que buscavam exílio humanitário em Israel.
“Durante toda a minha vida lidei com duas coisas principais: a comunidade LGBTQ e a violência contra as mulheres, principalmente dentro das famílias, precedendo assim o movimento MeToo”, disse ela numa entrevista à revista feminina La’Isha no verão passado. “Agora, essas questões são centrais na agenda pública, mas quando cheguei a elas, não era possível falar sobre elas ou mesmo mencioná-las, eram varridas para debaixo do tapete; principalmente questões LGBTQ”.
Durante muitos anos, ela foi considerada a mulher política mais odiada pela direita e alvo de críticas devido às suas atividades públicas e políticas, incluindo a promoção do reconhecimento de um Estado palestino . Isto levou a constantes ameaças e injúrias, culminando em 1996, quando um ativista de extrema-direita lhe derramou chá fervente durante uma visita a Hebron. O tribunal descreveu essa ação como “um ato violento antidemocrático destinado a prejudicar uma autoridade eleita através de um ataque terrorista individual destinado a impedir as suas atividades públicas”.
Depois de se aposentar do Knesset, ela trabalhou em nível municipal. “Eu não queria outro mandato no Knesset. Acho que tive sorte. Nos anos em que servi, tive parceiros e professores como Shulamit Aloni. Mas agora, com quem eu faria parceria?” ela perguntou.
Em 2003, com Yossi Beilin, desligou-se do partido Trabalhista para o Meretz, mais à esquerda, participando juntos da Iniciativa de Genebra, que em conjunto com lideranças israelenses e palestinas elaboraram um plano de paz abrangente e viável, ignorado por Sharon e Bibi. Em 2003 ainda, ela liderou a lista do Meretz nas eleições para o conselho municipal de Tel Aviv. Ela se tornou vice-prefeita no governo de Ron Huldai. Foi na qualidade de vice-prefeita de Tel Aviv, que ela veio ao Brasil participar de um congresso internacional de prefeitos promovido pela Comissão de Relações Exteriores do PT.
Yael Dayan, ao lado do embaixador palestino Mussa Odeh, defende
a Iniciativa de Genebra na PUC (abril de 2004)
Em 2004, fez duas palestras concorridas em São Paulo, promovidas pelos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA – no TUCA (PUC) e na CIP (Congregação Israelita Paulista, ambas lotadas. Entre um e outro pronunciamento, com veemente profissionalismo, ela se dedicou a conhecer pessoas e, principalmente, comprar presentes para os netos. Após nova e agitada palestra, agora no Rio de Janeiro, ela realizou o desejo de adquiri pipas (“papagaios”) para as crianças.
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Em 2008, foi eleita para o conselho municipal de TEL AVIV e o presidiu
Yael deixa uma filha, Dra. Rachel Sion Sarid, médica e esposa de Yishai Sarid, filho do ex-ministro Yossi Sarid, e o filho, Dov Sion, além de netos.