Palestinos põem o medo de lado e protestam em Sheikh Jarrah
Moradores palestinos do bairro Sheikh Jarrah de Jerusalém Oriental, têm lutado por quase uma década e meia contra seu despejo por organizações que buscam ali assentar judeus. E por mais de uma década, manifestações semanais têm sido feitas nas sextas feiras, por israelenses e palestinos, contra os esforços para expandir a presença judia no bairro.
Israel foi chocado no mês passado por uma filmagem de policiais batendo no deputado da Lista Unida Ofer Cassif em um dos protestos no bairro. Antes disso, exceto por períodos curtos, esforços para expandir o protesto para o público mais amplo falharam. Mesmo em Jerusalém Oriental, era vista apenas como mais uma questão local – assim como o vilarejo de Isawiyah resistindo à violência policial ou Silwan protestando contra escavações arqueológicas. Sheikh Jarrah estava lutando contra os esforços de judeus para despejá-los.
Mas, recentemente, parece que Sheikh Jarrah tornou-se um símbolo. Os jovens palestinos que se encontravam no Portão de Damasco de Jerusalém desde o início do mês sagrado do Ramadan começaram a apelar às pessoas para irem a Sheikh Jarrah após os serviços na mesquita. E eles tem vindo todas as noites.
A polícia israelense respondeu agressivamente e os dispersou com força. O cheiro da água fétida lançada pela polícia não deixou o bairro após os recentes choques noturnos, que incluíram detenções, uso de gás lacrimogênio e a ação da polícia montada.
Um círculo mais amplo de apoio chegou de cidadãos árabes de Umm al-Fahm, Jaffa e outros lugares que expressaram sua identificação com Sheikh Jarrah e vinham ao bairro para os protestos das sextas-feiras. Nesta 4ª feira, também se manifestaram no centro de Umm al-Fahm sobre a questão.
Outra fonte de apoio foi o comandante da ala militar do Hamas, Mohammed Def, que foi citado pela mídia palestina dizendo. “Se Israel não parar de atacar os moradores do bairro de Sheikh Jarrah, eles não ficarão com suas mãos atadas, e o inimigo pagará um preço pesado”.
Sheikh Jarrah se tornou um assunto quente na mídia social. Nesta semana, uma versão árabe do hashtag #SaveSheikhJarrah obteve o quarto lugar no Twitter de Israel, abaixo da versão inglesa. Cada um atraiu dezenas de milhares de tweets e retweets. A mídia social também foi inundada por video clips, caricaturas e declarações de apoio aos moradores do bairro.
De novo, a razão para este surto de ativismo não é totalmente clara. Sem dúvida, a sensação de vitória que os palestinos de Jerusalém sentiram após a decisão da polícia de recuar e remover as barreiras de controle de multidões no Portão de Damasco estimulou jovens a procurar uma causa nova. Além disso, o Hamas parece estar procurando razões para aumentar a tensão com Israel sobre Jerusalém, após o presidente palestino Mahmoud Abbas ter decidido adiar as eleições para o Conselho Legislativo Palestino. O Hamas lançou foguetes de Gaza, numa identificação com os palestinos de Jerusalém sobre as barreiras no Portão de Damasco.
Mas tudo isto decorre do drama legal que deverá emergir novamente na 5ª feira. Por 30 anos, os moradores palestinos de Sheikh Jarrah enfrentaram o risco de despejo por viverem em terras que foram compradas por judeus no final do século XIX, na vizinhança da Tumba de Shimon Hatsadik (Simão o Justo). A batalha legal tem sido travada entre os residentes palestinos e uma empresa chamada Nachalat Shimon, que é controlada por ativistas de direita que buscam trazer judeus para o bairro.
Nos últimos meses, os palestinos sofreram uma série de derrotas legais que puseram cerca de 300 moradores do bairro, incluindo dezenas de crianças, sob risco de despejo imediato. Diversamente de uma série de despejos anteriores, o número de casos agora envolvidos evidencia o argumento dos palestinos de que esta não é mais uma disputa civil local por terras, mas uma tentativa mais orquestrada para alterar o caráter de toda uma região, para trazer moradores judeus.
Na 5ª feira, representantes dos palestinos e de organizações judias devem informar a Suprema Corte sobre se chegaram a algum acordo. Tal acordo, pouco provável, incluiria uma declaração de reconhecimento mútuo. Os palestinos reconheceriam o direito dos judeus às terras e os judeus reconheceriam o direito dos palestinos a ter a posse protegida
Na ausência de um acordo, a Juíza da Suprema Corte, Daphne Barak-Erez será forçada a decidir sobre o pedido dos palestinos de impetrar um apelo à Suprema Corte após a Corte Distrital de Jerusalém ter confirmado o despejo. Se ela decidir contra os palestinos, dezenas de moradores terão que enfrentar o risco de despejo imediato no meio do mês, após o fim do Ramadan. Em agosto, haveria uma nova onda de despejos.
Os procedimentos legais consideraram os limites dos lotes de terra comprados pelos judeus, a natureza da compra, legislação imobiliária otomana relevante e os direitos dos palestinos, que foram assentados no local pelo governo jordaniano e as Nações Unidas nos anos ‘1950, quando a Jordânia controlava Jerusalém Oriental. Outras questões incluem a consideração dos procedimentos legais nos últimos 40 anos.
Mas tudo isso deve ser visto figurativamente como árvores dentro de uma floresta: a política de Israel para Jerusalém, que permite apenas que judeus recuperem propriedades que foram abandonadas durante a Guerra de Independência de Israel em 1948. Somente os palestinos são sujeitos a despejo de casas onde estão legalmente assentados há 70 anos.
As últimas semanas mostraram que o que acontece em Sheikh Jarrah não fica só em Sheikh Jarrah. Se os despejos continuarem, como os grupos de colonos judeus esperam, e centenas de pessoas forem jogados para fora de suas casas, serão detonadas ondas de violência em Jerusalém e outros lugares. As esperanças de que o fim do Ramadan trará calma à cidade serão frustradas. O que não acabará é a injustiça.
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https://www.haaretz.com/middle-east-news/palestinians/.premium-how-palestinians-put-aside-their-fear-and-rallied-behind-sheikh-jarrah-1.9777730
[ por Nir Hasson | publicado no Haaretz | 05|05|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]