Armênios Demandam Justiça
Para o mundo garantir que essas atrocidades não aconteçam novamente, temos que ser claros sobre o que se trata.
Um milhão e meio de armênios, homens, mulheres e crianças, foram assassinados nos anos finais do Império Otomano, no que ficou conhecido como o Genocídio Armênio. Em Israel, entretanto, apesar de ser um país criado logo após o Holocausto, você não ouvirá muito sobre isso.
Isto é porque o Estado judeu – o lar do povo que viu seis milhões dos seus serem exterminados pelo nazismo – ainda não reconhece oficialmente o Genocídio Armênio. Está na hora de isto mudar.
O dia oficial de comemoração do massacre dos armênios pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial é no sábado. Na quarta-feira, fontes da Casa Branca disseram que o Presidente americano Joe Biden iria formalmente reconhecer o massacre como um ato de genocídio, apesar de que isso sem dúvida enfureceria a Turquia e afetaria ainda mais as já estremecidas relações entre os dois aliados da OTAN.
No ano passado, quando estava concorrendo para a presidência, Biden prometeu fazer exatamente isso. “Hoje, lembramos as atrocidades enfrentadas pelo povo armênio no Metz Yeghern – o Genocídio Armênio. Se eleito, eu prometo apoiar uma resolução reconhecendo o Genocídio Armênio e farei dos direitos humanos universais uma alta prioridade”, escreveu ele no Twitter à época.
Por décadas, medidas reconhecendo o genocídio armênio emperraram no Congresso dos EUA e os presidentes evitaram chamá-lo como tal, contidos pela preocupação com a Turquia e o intenso lobby de Ancara.
O mesmo aconteceu em Israel. Aqui também, Israel temeu uma retaliação turca se reconhecesse os fatos históricos.
Em 2018, a Deputada pelo Meretz, Tamar Zandberg, propôs uma lei reconhecendo o massacre como genocídio, mas a proposta foi cancelada por causa da resistência do governo. Um ano depois, vários membros de destaque da Knesset como Yair Lapid e Gideon Sa’ar, manifestaram apoio, mas novamente a lei não avançou devido à falta de apoio do governo.
Tradicionalmente, a explicação para o fracasso de Israel em promover o assunto, variou desde a necessidade de deixar uma porta aberta para a melhoria das relações com a Turquia até uma clara agenda governamental que prefere o Azerbaijão à Armênia. Isto foi deixado claro no outono passado, quando Israel forneceu armas para o Azerbaijão quando este lutava contra a Armênia na disputada região de Nagorno-Karabakh.
Uma coisa, entretanto, não tem que vir às custas da outra. Sim, Israel tem considerações geopolíticas que não podem ser ignoradas, mas também tem um imperativo moral que não pode ser simplesmente varrido. Como um povo que experimentou genocídio e perseguição desde sua fundação, os judeus têm a responsabilidade de estar juntos com outras nações que passaram por atrocidades semelhantes.
Quando recitamos “Nunca Mais” no Dia da Lembrança do Holocausto, é obviamente “nunca mais” para o nosso povo, mas não há nada de errado em deixar claro que também acreditamos que genocídio não deveria acontecer com quem quer que seja. O primeiro passo para assegurar o “nunca mais”, é reconhecer a história como ela aconteceu e deixar claro que o que aconteceu com os armênios foi de fato um genocídio.
Além disso, levando em conta a geopolítica, o que exatamente Israel deve temer da Turquia? O relacionamento com o presidente turco Recep Tayyp Erdogan tem realmente como piorar?
Não há motivo para temer Erdogan, que se comporta como um valentão antissemita no Oriente Médio. É verdade que Erdogan disse recentemente que gostaria de ter melhores relações com Israel, mas ele ainda hospeda os líderes do Hamas em Ancara e o partido governista AKP ainda compara Israel com a Alemanha nazista. A Turquia alega que quer “libertar a Mesquita de Al-Aqsa”, afirmando que “Jerusalém é nossa” no ano passado.
“A política em relação à Palestina é nossa linha vermelha. Nos é impossível aceitar as políticas de Israel para a Palestina; seus atos impiedosos lá são inaceitáveis”, disse Erdogan neste último dezembro depois das orações da sexta-feira em Istambul.
Israel deveria, é claro, explorar o que essa reaproximação com a Turquia pode significar, mas não pode fazer isso ignorando sua responsabilidade histórica e moral de ficar ao lado dos armênios diante da maldade.
Para o mundo garantir que essas atrocidades não aconteçam novamente, temos que ser claros sobre o que elas são. Israel precisa reconhecer o genocídio armênio. É uma simples lei. Está na hora da Knesset aprová-la.
[ Editorial do Jerusalem Post | publicado em 22|04|21 | Traduzido por José Manasseh Zagury ]