Como esperado, o Presidente Reuven Rivlin encarregou o Primeiro-ministro Benjamin Netaniahu de formar o próximo governo de Israel. Na noite de segunda-feira, ao final das consultas, foi levantada a possibilidade de que Lapid e Bennett poderiam requerer conjuntamente que Rivlin adiasse sua decisão até quarta-feira. Lapid foi o primeiro a dizer não.
Apesar das acusações infundadas de Netaniahu de que Rivlin está contra ele, permaneceu a verdade de que Rivlin, de fato, encarregou Netaniahu de formar o governo cinco vezes. Ele lhe deu mais oportunidades de montar o governo do que qualquer presidente deu a qualquer primeiro-ministro na história israelense. Mas não receberá um pedido de desculpas da Rua Balfour, pelo contrário; eles apenas continuarão a difamá-lo.
Nos próximos 28 dias, provavelmente encontraremos um Netaniahu que jamais vimos antes, mais desesperado e perigoso do que nunca, sem nada que o controle. Ele sabe que no final desta estrada não há uma quinta eleição esperando por ele, que o deixaria em sua situação preferida: primeiro-ministro temporário de um governo paralisado. Desta vez ele provavelmente enfrentará um governo de Bennett e Lapid. Seus dias serão passados na oposição política e no tribunal.
Vimos na segunda-feira uma amostra do que vem por aí, com mais um discurso demagógico, falso e defensivo atacando o sistema judicial, que se atreveu a trazê-lo ao tribunal. O propósito desse discurso para seu caso não está claro, bem como o benefício político. Talvez tenha sido pressionado por sua família para sair atacando. Mas serviu para lembrar a todos quem e o quê é Netaniahu e o perigo que ele representa.
Com certeza, o painel de juízes não é influenciado pela sua encenação. De todo modo, Netaniahu estava apelando diretamente para seus apoiadores mais leais. Por anos ele tem cultivado e incitado o ódio ardente de seus seguidores em seu proveito, preparando-os para desafiar qualquer resultado eleitoral que não lhe seja favorável, como o seu ídolo Donald Trump, que incitou os hooligans a protestar em seu nome na Casa Branca antes de atacar o Capitólio.
Nas próximas quatro semanas, Netaniahu procurará desertores. Fará ofertas inconcebíveis e usará rabinos ortodoxos para pressionar Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir a concordar em dar o selo de kashrut para o Ra’am (partido árabe israelense ligado à Irmandade Muçulmana e consequentemente ao Hamas N.T.). Ele desafiará as Leis Básicas de Israel, talvez a Lei Básica sobre o Presidente do Estado.
Ao mesmo tempo, entretanto, essas quatro semanas darão tempo suficiente para Yair Lapid e Naftali Bennett concordarem sobre a composição de seu governo conjunto. Eles já estão no meio de intensas negociações na tentativa de chegar a um acordo que lhes dê apoio suficientemente amplo para justificar que Rivlin lhes dê o mandato. Ainda não funcionou, mas a direção é clara. Bennett será primeiro-ministro primeiro, seguido de Lapid num governo de união, apoiados por um punhado de votos de deputados árabes ou, alternativamente, por alguns desertores do outro campo.
Rivlin insinuou na segunda-feira que se o candidato que ele selecionar para formar o governo fracassar, ele considerará passar a decisão para a Knesset, abdicando de passar a tarefa de formar o governo para outro deputado. Entretanto, se outro deputado lhe apresentar prova de que pode formar um governo sustentável, Rivlin provavelmente concordará.
Vimos o presidente empregar longas horas recebendo os representantes dos 13 partidos eleitos. Ele disse a cada delegação o que não queriam ouvir; ele pediu ao Likud para sugerir um candidato alternativo que os represente, caso considerações éticas sejam um fator na sua decisão. Foi fascinante ver como seus rostos caíram no momento em que ouviram a palavra “ética”.
Também não foi por acaso que Netaniahu escolheu o Ministro da Segurança Pública Amir Ohana para representar o Likud ao invés dos deputados Tzahi Hanegbi e Ofer Akunis, os quais têm grande respeito por Rivlin. Netaniahu escolheu Ohana para mandar uma mensagem a Rivlin e Ohana não decepcionou. No seu estilo confrontador característico, Ohana declarou que veio diretamente do julgamento de Netaniahu “em nome da verdade e da justiça”. Rivlin, em choque, respondeu “essa é a sua opinião, não a desta casa”.
Uma palavra final sobre Gideon Sa’ar: se ele tivesse recomendado Lapid na segunda-feira, os representantes que vieram depois dele teriam dado a maioria a Lapid. Entretanto, ele não pôde fazê-lo, não por causa de suas promessas eleitorais (ele disse que não se juntaria a um “governo Lapid”, nem a um governo de rotação) ou porque espera que sua sorte política melhore, mas principalmente porque Bennett e Lapid, incapazes de chegar a um acordo na noite anterior, cada um recomendou a si próprio.
[ por Yossi Verter – publicado no Haaretz em 06|04|21 | traduzido por José Manassh Zaguri ]