EAU estão fazendo a paz com Israel. Líbano deve fazer o mesmo

OS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS ESTÃO FAZENDO A PAZ COM ISRAEL. O MESMO DEVERIA FAZER O LÍBANO
Os antigos caminhos de ódio e guerras não nos proporcionaram nada. Juntar-se à nova rota da paz e da cooperação árabe-israelense fortalecerá os palestinos – e seria uma grande vitória para o Líbano também.
O anúncio do acordo de paz entre os Emirados Árabes Unidos e Israel, mediado pelo Presidente Donald Trump, foi uma surpresa para muitos. Mas, para mim, é a progressão natural de um maior entendimento entre os dois países que se desenvolveu principalmente por causa das aspirações econômicas que compartilham e pela ameaça emergente de um Irã armado nuclearmente.
Outras nações na região seguirão, desconfio, quando forem capazes de tomar a temperatura dos elementos mais conservadores das suas populações. Estou orgulhoso da liderança dos Emirados Árabes Unidos por iluminarem um novo caminho adiante e me congratulo com o Presidente Trump por fazer isso acontecer.
Acredito firmemente que a boa vontade e a cooperação mútua beneficiarão ambos os povos, pavimentando o caminho para trocas econômicas, comerciais, tecnológicas, científicas e agrícolas, cooperação em segurança e energia, bem como grande entendimento cultural, necessário para esmagar velhos estereótipos que mantiveram a nós, filhos do profeta Abraham, em lados opostos da cerca. por tanto tempo.
Embora eu tenha apoiado ativamente a justiça para os palestinos na forma da solução de Dois Estados ou Um Estado pela maior parte da minha vida, nos últimos anos cheguei à conclusão de que prolongar a hostilidade entre Israel e a maior parte do mundo árabe é um exercício de futilidade que não serve a ninguém, muito menos ao povo palestino.
Bandeira dos Emirados Árabes Unidos ilumina Praça Rabin

Bandeira dos Emirados Árabes Unidos ilumina Praça Rabin

Há muito encorajo qualquer ação que resulte em paz entre israelenses e palestinos. Este acordo está destinado a criar uma atmosfera que leve a negociações respeitosas.

Em 2017, como resposta ao “acordo do século” do Presidente Trump, que se revelou destinado ao fracasso por ser fortemente centrado em Israel, piorado pela recusa palestina em participar das discussões, escrevi: “Uma janela se abriu para a paz no Oriente Médio. Vamos agarrar a oportunidade”.
Expliquei que, embora eu já tenha sido um idealista, já me conformei com o fato de que sonhos não realistas não são úteis para um povo que anseia por um lugar onde possa viver em paz e prosperar. Enfatizei que a violência apenas encorajou a potência ocupadora armada nuclearmente e militarizada a se recusar a mudar de atitude. E instei a ambos os lados a apresentar estratégias novas, corajosas e inovadoras.
Meu país, os Emirados Árabes Unidos, fez exatamente isso. Ele é um criador de modas que nunca para de surpreender em todos os campos. Este novo acordo já foi saudado pelo Egito, Jordânia, Omã, Baharein, Reino Unido, França e a ONU. Mas foi denunciado pelo presidente palestino Mahmud Abbas e vários porta-vozes palestinos, apesar do fato de estar condicionado à promessa do governo israelense de segurar a anexação de Netaniahu na Cisjordânia.
Embora seja o caso de Netaniahu estar sob fogo dos colonos de direita, ansiosos por ver a anexação da Cisjordânia e do Vale do Jordão, ele tentou aplacá-los, ao declarar que o plano não foi para o lixo. Ele ainda confirmou que não lhe daria continuidade sem a luz verde da Casa Branca.
Com a comunidade internacional solidamente contra a ideia, é duvidoso que ele obtenha a concordância do Presidente Trump, cujo rival democrata Joe Biden, grande amigo de Israel, declarou publicamente: “A anexação seria um golpe na causa da paz, por isso me oponho a ela agora e me oporei como presidente”.
Na minha opinião, quanto mais os países árabes se aliarem a Israel, isso não apenas minará o velho argumento de que Israel está isolado e cercado por milhões de árabes hostis, como também fortalecerá a mão da Autoridade Palestina, simplesmente porque o Estado judeu se sentirá mais seguro. Quanto mais amigos na vizinhança Israel tiver, mais ele terá a perder sendo intransigente.
Nós, na nossa parte do mundo, tivemos todos nossa dose de ódio mútuo e guerras, por mais de 70 anos. E o que ganhamos? Nada além de insegurança, desconfiança e máquinas de guerra de um trilhão de dólares, a maior parte enferrujando nos depósitos.
O falecido presidente egípcio Anwar el-Sadat sabia que guerra com Israel, colado na cintura americana, não valia a pena, e então ele corajosamente ofereceu um galho de oliveira para o então primeiro-ministro israelense Menachem Begin, que foi gentilmente aceito.
Sua visita imprevista a Jerusalém foi amplamente celebrada pelos israelenses. Ele foi convidado para fazer um discurso na Knesset onde delineou suas ideias para uma paz abrangente. Infelizmente, foi então rejeitado por todo o mundo árabe, chamado de traidor pelos palestinos e assassinado a tiros por um grupo radical enquanto assistia a uma parada militar.
Ainda assim, sua mão estendida ao inimigo foi o solo onde foi cultivada a devolução de todos os territórios egípcios ocupados por Israel e, mais crucialmente, marcou o fim dos conflitos. Na época, todas as terras palestinas ocupadas por Israel em 1967 estavam em discussão. Quanto mais tempo prevalece a antipatia entre israelenses e palestinos, mais as terras antes destinadas aos palestinos encolhem.
Meu coração está com o povo palestino, cujo sofrimento não tem fim. Mas ao mesmo tempo, suas lideranças precisam observar a dura realidade. Os velhos meios falharam miseravelmente. Portanto, exorto meus irmãos e irmãs palestinos a esperar e ver quais benefícios este novo acordo pode trazer para eles, antes de se apressarem em fazer julgamentos emocionais automáticos.
Com toda a honestidade, se há um país árabe que pode ganhar imensamente se puder fazer a paz com Israel, esse país é o Líbano. Não haveria mais escaramuças na fronteira, guerras e derramamento de sangue e o Líbano não mais precisaria de milícias fortemente armadas para defendê-lo de seus vizinhos.
Tristemente, sem falar porque isto permanece como uma ilusão, pelo menos por agora. Considerando sua realidade atual, estou quase certo de que se o povo libanês fosse perguntado sobre esse assunto, a maioria optaria pela paz. A recompensa econômica sozinha já seria enorme.
Por fim, aproveito esta oportunidade para saudar todos os envolvidos em cimentar essa nova e excitante parceria entre israelenses e emiratos, que rezo para que seja frutífera não apenas para os dois novos países aliados, mas também para nossa atribulada região.
Seria demasiado imaginar um Oriente Médio em paz, com céus e fronteiras abertas, cada país compartilhando ideias e conhecimentos, em vez de a região ser considerada a eterna área de tensão onde reina a violência?
Se o pacto Israel-Emirados for bem sucedido em inspirar novas gerações de líderes, então tudo é possível. Vamos deixar nossos ódios para trás e sermos os primeiros a trabalhar para esse objetivo.
*KHALAF AL HATBOOR é o presidente do Grupo Al Habtoor,  conglomerado internacional de negócios com interesses em construção, hotelaria, indústria automotiva, educação e editoria, baseado nos Emirados Árabes Unidos. Twitter: @khalafalhabtoor
[ por Khalaf Al Habtoor* | publicado no Haaretz | 17|08|20 | traduzido por José Manasseh Zagury ]

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