Pela paz, pelas vidas


Como médicos de origem libanesa, vemos com enorme pesar e angústia, além do sentimento de impotência, a deteriorada situação do Oriente Médio

[ por médicos brasileiros de origem libanesa |  nomes ao final do texto | Folha de S. Paulo | 28|10|2024 ]

Somos um grupo de médicos brasileiros, de origem libanesa, que se dedica a cuidar da saúde de nossos semelhantes na busca da cura e da mitigação do sofrimento. Ao longo de anos, temos procurado retribuir ao Brasil a afetuosa acolhida dada a nossos ancestrais através de ações humanitárias, dentre elas o atendimento médico gratuito que fazemos a refugiados de diversos países. Mais ainda, temos organizado atividades educacionais para estudantes de medicina do Líbano e do Brasil, promovendo pontes para o intercâmbio entre profissionais de saúde dos dois países.

Como médicos, vemos com enorme pesar e angústia, além de um sentimento de total impotência, a deteriorada situação do Oriente Médio. Há um ano houve um agressivo ataque que resultou na morte de mais de mil jovens israelenses. Com o propósito de busca da legítima segurança, impôs-se uma violenta resposta não apenas aos atacantes, mas a todo o povo palestino, sendo arrasada a Faixa de Gaza, com dezenas de milhares de mortes e mutilações, metade delas envolvendo crianças e mulheres, e provocando o êxodo de mais de 2 milhões de pessoas. Os sobreviventes vivem em condições precárias, até mesmo sub-humanas, com saúde mental comprometida, acesso restrito a alimentos, água, saneamento e atendimento médico. São 100 mil feridos prejudicados pela destruição de 23 dos hospitais da região e 13 funcionando de forma limitada. Ou seja, milhares de vidas de inocentes comprometidas!

Agora, estarrecidos e indignados, vemos o que acontece no Líbano, de onde vieram nossos avós, pais e mesmo alguns de nós. País não belicoso, com um diminuto exército, tem um povo pacífico e acolhedor, sendo um polo de turismo para gente de todo o mundo. Os contínuos ataques, em pequenas vilas e na própria capital, Beirute, além de em instalações da ONU, com avanço contínuo de tropas israelenses território adentro, já resultaram na morte de mais de 2.000 pessoas — civis em sua grande maioria, com metade delas sendo crianças e mulheres, além de uma destruição devastadora da infraestrutura civil.

Mais de 1 milhão de libaneses tiveram que se deslocar de suas casas, temendo os ataques. Assim como em Gaza, os hospitais enfrentam dificuldades severas para lidar com os feridos, onde médicos e outros profissionais de saúde, com altruísmo, arriscam e perdem suas próprias vidas na tentativa de salvar as dos outros. Mais uma vez, milhares de vidas de inocentes comprometidas!

PAZ AGORA|BR : A destruição em massa de lares e vidas inocentes é um caldo de cultura para a multiplicação de novas gerações de terroristas, fanatizados pelo ódio .

Como médicos e cidadãos de um país pacifista, repudiamos veementemente atos que firam ou destruam a vida humana. Mortes doem para qualquer um e entendemos que, no atual conflito, todos os povos envolvidos estão sofrendo com suas perdas; assim, não acreditamos que haverá reais vencedores.

Clamamos para que o conflito do Oriente Médio seja resolvido o mais rapidamente possível em mesas de negociação, poupando vidas inocentes e sofrimento. Se o que realmente se deseja é a paz e o convívio, sem dúvida o melhor caminho não é exclusivamente o das armas e da força, mas sim o dos basilares diálogo e tolerância.

Que a comunidade internacional entenda sua responsabilidade e, de forma efetiva, atue para mitigar essa angustiante e insustentável situação, sem estimulá-la ou, simplesmente, aguardando o desenrolar dos acontecimentos.

É questão humanitária que os radicais de todos os lados sejam contidos, pois são eles os arautos da violência, da morte e do sofrimento!

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