A verborragia odiosa de Lula

O mundo e o Brasil perdem com a sucessão de disparates proferidos publicamente por seu atual presidente.

A tradição pacificadora do Itamaraty no Oriente Médio, sempre promoveu boas relações com todas as partes – o que se destaca desde a Resolução da Partilha, em 1947 e até há poucos meses, na Presidência do Conselho de Segurança da ONU . Esta tradição está sendo destroçada.

O indivíduo mal informado e extasiado pelo próprio poder, sempre que insiste em falar de improviso [por exemplo: “Rússia e Ucrânia têm culpas iguais pelo conflito”ou “Quando um não quer dois não brigam”], consegue, irresponsavelmente, apenas incutir mais ódio e distanciamento,.

A vocaçao diplomática do Brasil, reconhecida internacionalmente, está gravemente ferida por um elefante que, desvairada e vaidosamente, passeia em salas de cristais, que deveriam ser preservadas como caminhos para a desejada paz.

Quantas vidas preciosas poderiam ser poupadas se o corpo diplomático brasileiro pudesse mediar o conflito com sua respeitada competência, livre de inbterferências funestas?

Esperamos que a razão, o equilibrio e a justiça voltem a reinar, sobre a política exterior do Brasil.

A paz duradoura entre israelenses e palestinos é possível, isolando-se os extremistas de ambos os lados, com a criação de um Estado Palestino soberano ao lado do Estado de Israel.

O Brasil desde sempre apóia a Solução de Dois Estados e tem condições privilegiadas para ter um papel importante em sua implementação.

Amigos Brasileiros do PAZ AGORA, 19/02/2023

CELSO LAFER

Antissionismo como antissemitismo

[ por Celso Lafer – PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992, 2001-2002) | O Estado de S. Paulo.18/02/2024 ]

A seletividade da denegação da existência de Israel estimula o discurso de ódio e a hostilidade em relação aos judeus,

As críticas às políticas de Estados Unidos, Venezuela, Rússia, Irã e Síria frequentam a agenda da opinião pública. Não passam, no entanto, pela denegação de suas existências como Estados. Hoje muitas críticas à atuação de Israel em Gaza vão além do aceso das polêmicas sobre a aplicação das normas do direito humanitário ou da gravíssima situação humanitária em Gaza. Resvalam pela denegação de sua existência. Neste contexto, cabe a pergunta: de que maneira um antissionismo bastante presente na crítica a Israel é uma modalidade contemporânea de antissemitismo?

O sionismo é uma expressão do movimento das nacionalidades que passou a caracterizar, a partir do século 19, a legitimidade de Estados na ordem mundial. Itália e Alemanha são exemplos. No bojo desta tendência, o movimento sionista buscou a construção de um Estado como resposta às perseguições que os judeus padeceram como uma minoria discriminada. Nos termos da Carta da ONU, isso se configura como o princípio da autodeterminação dos povos.

As aspirações do sionismo se traduziram no reconhecimento de Israel como um Estado independente, entre os Estados que integram a comunidade internacional e são membros da ONU.

Uma das suas fontes jurídicas foi a Resolução n.º 181, da Assembleia-Geral da ONU, em sessão presidida pelo eminente brasileiro Oswaldo Aranha, que, levando em conta a realidade demográfica da região, aprovou a partilha da Palestina em dois Estados: um judaico e um árabe.

O reconhecimento é um termo do Direito Internacional. Tem várias acepções que são convergentes. Entre elas, aceitar, admitir, afirmar, estabelecer, não contestar, respeitar. Denegar o direito à existência de Israel se contrapõe ao seu reconhecimento internacional, nas suas múltiplas dimensões. Fere o princípio constitucional da igualdade dos Estados, que rege as relações internacionais do Brasil. Tem a característica única de uma seletividade, pois inexistem, na prática internacional, outras manifestações de denegação da existência de qualquer outro Estado reconhecido na vida internacional nas críticas a suas políticas, como vem ocorrendo em relação a Israel nas polêmicas sobre a sua condução da guerra em Gaza, que é uma reação à agressão terrorista do Hamas ao seu território.

Esta seletividade negacionista faz do antissionismo uma manifestação de antissemitismo. Comporta analogia com o negacionismo revisionista da denegação da verdade factual do Holocausto.

Hannah Arendt, em Origens do Totalitarismo, examina como o antissemitismo moderno transformou-se num instrumento de poder. Destaca que, entre as suas notas, está o conceito de “inimigo objetivo”, que é um combate não a um judeu como indivíduo, mas aos judeus em geral. Foi o caso do antissemitismo nazista, que tornou todos os judeus “inimigos objetivos”, a serem exterminados.

O verbete antissemitismo do clássico Dicionário de Política de Bobbio observa que, de um ponto de vista geral, antissemitismo é hostilidade em relação aos judeus. Pontua que foi e é aplicável a distintos fenômenos históricos. Esclarece que o antissemitismo moderno é distinto do tradicional, por exemplo, o de natureza religiosa. Por isso, pode-se falar com mais propriedade de antissemitismos, no plural. Uma das modalidades atuais do antissemitismo é o antissionismo. O sionismo não é monolítico, não comporta recortes caracterizadores de sua configuração. Contém no seu bojo múltiplas vertentes dos valores e da diversidade presentes no âmbito democrático da sociedade civil israelense.

Israel desempenha um papel simbólico e transversal, de maior ou menor intensidade, na pluralidade da condição judaica. Isso não se traduz num endosso a todas as políticas de governos israelenses, no âmbito das comunidades judaicas no mundo. Estas, aliás, são frequentemente críticas, como ocorre no âmbito da sociedade israelense. Disso são exemplos as recentes contestações que o governo Netanyahu vem enfrentando. Traduz-se, isto sim, nos seus âmbitos, inclusive no Brasil, na sensibilidade própria de um apego à existência do Estado de Israel.

Na geografia das paixões do mundo contemporâneo e do jogo do poder que a caracteriza, denegar o direito à existência do Estado de Israel é buscar transformá-lo num “inimigo objetivo” da comunidade internacional, num Estado pária. A seletividade única deste empenho atinge a população israelense, suas universidades e sua sociedade civil. Fere o princípio básico dos direitos humanos: o da igualdade e o seu corolário lógico, a não discriminação.

A seletividade da denegação da existência de Israel estimula o discurso de ódio e a hostilidade em relação aos judeus, como tem ocorrido lamentavelmente em nosso país, por meio de declarações e de ataques pessoais. Propicia o incitamento à discriminação. Fere o bem público consagrado na Constituição de promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. •

TABATA AMARAL:

Lamento profundamente o comentário feito hoje pelo presidente Lula. Comparar a guerra atual ao Holocausto, no qual 6 milhões de judeus foram sistematicamente assassinados pelo regime nazista, é errado e irresponsável. Precisamos sim de um cessar-fogo urgente na Palestina e da liberação dos reféns israelenses. O número de vítimas é inaceitável. Mas falas como essas só alimentam com mais ódio essa tragédia e nos afastam de seu fim.

(x) @tabataamaralsp

Palpite de Lula sobre Holocausto é para lá de infeliz

É humanamente indefensável e historicamente equivocada a comparação de Israel a Hitler

[ por Dora Kramer | Folha de SP | 19/02/04 ]

Não podem mais ser vistas como dúbias ou meramente polêmicas as declarações do presidente Luiz Inácio da Silva sobre a guerra entre Israel e o Hamas. A comparação da ação militar israelense em Gaza (sem dúvida exorbitante) ao extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial posiciona o mandatário brasileiro muitos degraus acima na escala da temeridade diplomática.

Assumiu um lado, e da pior maneira na cena mundial, ao receber elogios e agradecimentos do grupo terrorista. Não bastassem a condescendência com ditadores e a concessão do benefício da dúvida a Vladimir Putin na morte de Alexei Navalni, agora mais essa.

É humanamente indefensável e historicamente equivocada a declaração de Lula dizendo o que realmente pensa na Etiópia, sem a moldura de contenção ambígua das falas oficiais preparadas pelo Itamaraty: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Beira a ligeireza o modo como o presidente trata o HolocaustoHitler não “resolveu” matar judeus e sim executou um projeto de genocídio que dizimou 6 milhões de vidas e traumatizou o mundo em geral, a Alemanha em particular. Não tendo sido crueldade a motivação, resta a ignorância e a desorientação para explicar o desatino presidencial.

Os danos no plano internacional ainda estão para ser medidos. Com Israel, o tamanho do estrago teve como sinal a anunciada reprimenda ao embaixador brasileiro em Tel Aviv. No âmbito interno, Lula, que já enfrenta rejeição entre os evangélicos, certamente terá problemas eleitorais com outro importante e influente estrato religioso: a comunidade judaica.

A série de manifestações antissemitas do campo aliado ao presidente já vinha sinalizando indisposição para com candidatos de esquerda, seja na eleição municipal de 2024 ou na forma de troco maior na disputa pela reeleição em 2026.

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