O que Breno Altman esconde

jornalista não citou em seu artigo que prega a liquidação do Estado de Israel

[ por Alexandre Schwartsman | 16/11/2023 | Folha de São Paulo A3 Tendências e Debates ! Doutor em economia (Universidade da Califórnia, Berkeley), é ex-diretor do Banco Central do Brasil ]

Breno Altman afirmou em artigo nesta Folha (“Quem irá parar a mão assassina de Israel?”, 13/11) que “a conquista da paz duradoura dependerá de forçar o sionismo a negociar”. Parece uma posição para lá de razoável; afinal de contas, como obter a paz senão por meio da negociação?

O que Altman oculta do leitor, por ardil ou covardia, contudo, são suas visões sobre o que deveria ser o resultado dessa negociação. Não revela, por exemplo, que prega a liquidação do Estado de Israel, como neste tuíte: “As agressões genocidas de Israel contra os palestinos são uma demonstração cabal de que o regime sionista precisa ser liquidado” e substituído por “uma República binacional”.

Omite também os documentos norteadores das ações do Hamas, segundo os quais “Israel existe e continuará a existir até que o Islã o oblitere, como fez com outros antes”, acrescentando que “o Dia do Julgamento não virá até que muçulmanos lutem com judeus e os matem”. Por mais que a BBC em 2015 tenha tomado o duvidoso cuidado de traduzir “cortar a cabeça dos judeus” por “cortar a cabeça dos israelenses” em documentário sobre Gaza, nenhuma das versões deve deixar muito tranquilos judeus que deveriam fazer parte do idílico Estado binacional.

Ato reúne dezenas em apoio a Israel na Paulista

Ato pela paz realizado pela comunidade judaica, na avenida Paulista, na tarde deste domingo (22) Zanone Fraissat//FolhapressMAIS 

Isto, porém, não parece ser um problema para o autor, para quem “a maior causa do antissemitismo é o Estado colonial e racista de Israel”. Lembrado de vários episódios ao longo da história, incluindo o Holocausto, saiu-se com a desculpa de estar se referindo apenas “aos tempos atuais, pós-Segunda Guerra”.

À parte não explicar muito bem como o antissemitismo anterior a 1945 despareceria milagrosamente caso Israel não existisse, tal argumento na prática culpa os judeus pelo antissemitismo.

Não é uma visão distinta, diga-se, da perspectiva daquele austríaco que em discurso de 1939 dizia que “se os financistas judeus (…) tiverem sucesso em levar as nações à guerra mais uma vez, o resultado não será a ‘bolchevização’ da Terra e a vitória dos judeus, mas a aniquilação da raça judaica da Europa”. Se morremos, a responsabilidade é nossa.

Isto quando não está ocupado negando as atrocidades cometidas pelo Hamas (que também não ousou repetir neste jornal). Poderíamos até deixar barato as tentativas de reduzir o número de mortos (de 1.400 para 1.200!), mas jamais deixaríamos de notar quando, com requintes de perversidade, afirma que “não há prova de qualquer crime sexual” — apesar dos inúmeros vídeos gravados pelos próprios terroristas do Hamas.

O caminho para a paz, que hoje parece mais longe do que nunca, passa pela Solução de Dois Estados, como decidido pela ONU em 1947. Se é verdade que a liderança palestina repetidas vezes desconsiderou essa possibilidade, não é menos verdade que seguidos governos israelenses, em particular o atual, também a sabotaram.

[A Paz] Requer essencialmente a retirada israelense da Cisjordânia, provavelmente com uma permuta justa de terras, assim como também aceitação, sem quaisquer reservas, do direito à existência de Israel.

Não será, todavia, com as ideias e ações repulsivas de Altman que chegaremos lá.

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Alexandre Schwartsman é Doutor em economia (Universidade da Califórnia, Berkeley), é ex-diretor do Banco Central

Lula não é antissemita e pode ajudar na paz se pesar o que diz, afirma presidente de entidade judaica

Claudio Lottenberg, que lidera a Conib, diz que petista ‘é um homem bom’, mas pode estar legitimando discurso de ódio que inclusive não é o dele

[ por mônica bergamo 17/11/2023 Folha de São Paulo ]

O presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, afirma que Lula pode ser um personagem fundamental na busca pela paz caso pese as palavras ao criticar Israel.

“É preciso dizer com todas as letras: o presidente Lula não é antissemita. Ele é um homem muito bom.”

“Estivemos juntos em Israel. Ele tem posições críticas sobre o governo do país, mas não sobre o povo judeu”, diz Lottenberg, que é médico e presidente do conselho do Hospital Albert Einstein.

O presidente da Conib, no entanto, segue fazendo restrições às falas do petista.

Lula vem subindo o tom e chegou a afirmar que os atos do país judaico em Gaza devem ser definidos como de “terrorismo”.

Quando ele começa a acentuar o discurso, que, repito, não é antissemita, pessoas que não têm o perfeito entendimento da situação começam a ter um ódio não só de Israel, mas também dos judeus”, afirma Lottenberg.

“Lula legitima um discurso de ódio e de antissemitismo que inclusive não é o dele. É isso o que tem causado preocupação”, segue.

Brasileiros que estavam em Gaza são resgatados e fogem da guerra

“O presidente está começando a pender para um lado, e a comunidade judaica está ficado insegura.”

Ele afirma que, com o passar do tempo e o prolongamento da guerra, “Israel começa a ser visto como um país vil, mau, verdugo, carrasco. Como se a guerra não tivesse começado com um ataque terrorista do Hamas contra cidadãos inocentes.”

Lottenberg diz que Lula é um dos poucos líderes mundiais que consegue dialogar com o Irã, o Catar, com os EUA, as lideranças da palestina e com Israel.

Na quinta (17), ele conversou por cerca de 40 minutos com o presidente de Israel, Isaac Herzog. Os dois falaram sobre o retorno dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza e sobre a possibilidade de Lula auxiliar na negociação para a libertação dos reféns que estão nas mãos do Hamas.

“Lula tem uma habilidade no trato interpessoal que poucas pessoas têm. O Brasil tem bons canais com o Irã, por exemplo, e também com os países ocidentais e árabes. Pode ser o melhor interlocutor na busca pela paz”, finaliza Lottenberg

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