[ Por ZIV STAHL | Haaretz | 17/10/2023 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
Eu estava lá. Estava visitando minha querida família no Kibutz Kfar Azza, onde nasci e cresci, onde mora meu povo, minha família, meus colegas de classe e amigos, amigos de meus pais, membros do kibutz, uma comunidade muito unida.
Eu estava na sala segura quando começamos a perceber o que estava acontecendo ao nosso redor , e ainda assim não entendíamos nada. Quando minha cunhada não respondia as mensagens preocupadas, quando o barulho de tiros e foguetes cercava aquela pequena sala. Quando minha sobrinha chegou com o namorado, que tinha sido baleado e ferido enquanto segurava a porta do cofre do apartamento deles. Atravessaram o kibutz com coragem e chegaram à casa dos pais dela – minha irmã – feridos e chocados.
Estávamos lá, com medo por nossas vidas, minha irmã, meu cunhado, a filha mais nova deles, a filha do meio, o namorado dela e o cachorro. Na sala segura lotada, com os feridos deitados no tapete, cuidamos dele com os poucos recursos que tínhamos e durante horas ninguém veio nos salvar. Sentada na escuridão tentando ficar quieta (tanto quanto era possível com um jovem sofrendo de dores terríveis, devido a dois tiros nas palmas das mãos e dois braços quebrados), para que os terroristas pensassem que não havia ninguém em casa. Absolutamente indefesos. Medo mortal.
- Não à punição colectiva contra Gaza
- Os israelitas devem manter a sua humanidade mesmo quando o seu sangue ferve
- Chegando novamente ao ciclo da vingança
Eu estava lá, e o cheiro de campo de batalha que enchia os gramados e as calçadas da minha infância ainda permanece em minhas narinas. O medo ainda aperta meus músculos e corre em minhas veias. Depois de longas horas fomos resgatados. Uma libertação sem garantia e com risco de vida. De novo. Terror.
Não tenho ideia de como isso influenciará o resto da minha vida. Se algum dia conseguirei não temer cada pequeno ruído, não imaginar tiros nas profundezas da noite. Mas uma coisa sinto mais fortemente do que nunca: temos de parar este ciclo de morte. Devemos investir todo o nosso poder e energia no jogo final, como construir um futuro pacífico e seguro para todos os que vivem neste lugar.
Não terminará com palavras como “dissuasão”, “golpe final”, “decisivo”. A calma só chegará através de meios políticos.
Não preciso de vingança, nada devolverá quem se foi – minha cunhada Mira; Tal da minha turma ; Bilha, melhor amiga de infância da minha mãe, e seu neto e genro; Livnat e Aviv, cujos pais sempre foram nossos vizinhos, e seus filhos; Michal, que foi minha conselheira quando adolescente e seu filho; A irmã de Liron, Smadar, e seu marido; Eli, pai de Avner; e centenas de outros.
Os bombardeios indiscriminados em Gaza e o assassinato de civis não envolvidos nestes crimes horríveis não são solução. Pelo contrário, esta seria a maneira mais segura de prolongar a violência, o terror, a tristeza e o luto.
Preciso de saber que há quem pense e se preocupe ainda agora com o futuro dos que permanecem, o futuro de Kfar Azza e do perímetro, o futuro de todos os seres humanos que aqui vivem, israelenses e palestinos.
Não sou ingênua, sei o quão longo e difícil isso será. Mas, como provam os últimos vinte anos, e ainda mais os acontecimentos deste horrível Shabat, todo o poderio militar da Terra não fornecerá defesa e segurança.
Uma solução política é a única coisa pragmática possível – somos obrigados a tentar e temos de começar este trabalho hoje.
Comunicado da ASA
Rio de Janeiro | 17/10/2023
A ASA ESTÁ DO LADO DOS QUE QUEREM A PAZ !
Depois de quase quarenta semanas brigando contra seu próprio governo
pela manutenção das instituições democráticas, os israelenses se
depararam com uma realidade que voltava com força e fúria: o
terrorismo. Desta vez massivo, treinado, bem armado, calculado. Mais de
200 membros do grupo Hamas entraram em Israel, burlando os sistemas
de segurança, e chacinaram mais de 1300 pessoas, entre famílias que
estavam em suas casas e jovens que participavam de um festival de
música e sequestraram indefesos.
O dito campo progressista crê que a motivação para este massacre e de
todas as práticas do Hamas tem sido a libertação da Palestina. Motivo
duvidoso: sabemos que ao Hamas não interessa a criação de um Estado
Palestino, independente e soberano, pois perderia sua razão de existir.
Dizer que o Hamas representa o povo palestino é insistir em uma fantasia
desvairada, porque eles oprimem e usam a população de Gaza como
escudo. Dizer que o Hamas é uma organização de esquerda é pura ilusão.
Basta ver seus estatutos e propósitos. Não estão preocupados com o bem
estar do seu povo ou com alguma redução da miséria e das
desigualdades. A eles interessa apenas a jihad, ou guerra santa, através
da qual irão converter ou eliminar infiéis.
Complica a situação a crise institucional de Israel e a convicção de alguns
de que a coalizão proto fascista organizada por Netaniahu pode dar conta
tanto da defesa de Israel quanto da negociação por uma solução para os
dois povos. Sem representatividade, apoia-se nos fanáticos religiosos,
cuja obsessão é transformar o país em um Estado Teocrático.
Para chegar ao poder ofereceram uma segurança fictícia e a guerra como solução para a guerra. Também não estão preocupados com o bem estar do seu povo, pretendem apenas garantir impunidade para seus crimes.
Ao esvaziar o único movimento que aceitou negociar uma paz (o Fatah abriu mão da luta armada e da destruição do Estado de Israel e sentou-se à mesa com os israelenses por uma solução para os dois lados) empoderou o Hamas,
ao qual só interessa a guerra. Netanyahu e seu grupo estão apenas
interessados em garantir seus interesses particulares e os fanáticos
religiosos sonham com o “Grande Israel” no sentido de um Estado
messiânico.
A montagem de um governo de emergência já demonstra a incapacidade da coalizão de Netanyahu em dar solução para os problemas de Israel. Neste sentido, seu afastamento pode levar à formação de um novo governo, que represente todas as nuances ideológicas com equidade e que dê conta dos desafios imediatos. A única saída é uma liderança que aponte para o diálogo.
Devemos ter em conta que na geopolítica do Oriente Médio, ainda que os
interesses de grupos étnicos não sejam desprezíveis, há estados-nações
que têm voz predominante, especialmente quando se sentem acuados.
É o caso do Irã – República Islâmica, como autodenominado – o que já o
identifica como Estado Teocrático, que claramente comanda o falaciosamente apelidado “eixo da resistência” onde Hamas e Hezbollah (entre outros) são peças integrantes do jogo de poder dos aiotolás ou, em outras palavras, do islamo-fascismo.
A sociedade civil israelense já demonstrou que é organizada. Mantendo
semanas de manifestações de cunho eminentemente político e reconhecendo que somente a paz negociada será remédio para a guerra, a opressão, a dor. E as instituições resistiram.
Nós, aqui na diáspora, estamos solidários com todos os que perderam
entes queridos, os feridos, os enlutados. Sabemos que os dois povos
precisam da paz para viver e prosperar. Entendemos que esta guerra é
pela posse da terra, de um lugar para viver. Mas é também uma guerra
que os torna marionetes no jogo de poder entre as grandes potências. Só
estas têm a ganhar. Perdem os que estão no campo de batalha.
A ASA está ao lado de todos aqueles que sofrem e querem paz. Uma paz
justa para os dois povos. Uma paz negociada, com avanços e recuos. Mas
que seja capaz de acabar com esta dor.