O JERUSALEM POST, mais tradicional jornal conservador em Israel, adota uma postura clara de oposição ao governo extremista de Netanyahu
“Netanyahu deve respeitar a oposição para evitar uma guerra civil em Israel”
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, continua desdenhando da oposição maciça que os planos de reforma encontraram.
[ Editorial do Jerusalem Post | 21|02|2023 | traduzido pelos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA | www.pazagora.org >
Todos os anos, a ‘Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas’ se reúne em Jerusalém, para receber informações sobre todas as esferas de governo, bem como assuntos militares e econômicos relativos a Israel e aos Estados Unidos.
Os participantes estão particularmente informados, conscientes e envolvidos nas várias questões que Israel enfrenta e, sem dúvida, levam muito a sério a sua responsabilidade como influenciadores nos EUA.
Dirigindo-se a esse augusto grupo em Jerusalém na noite de domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tentou injetar um pouco de leveza na situação mortal e séria em que Israel se encontra atualmente, dizendo: “Caso vocês não tenham notado, Israel está no meio de umas coisinhas sobre a reforma judicial”.
“Caso vocês não tenham notado, Israel está no meio de umas coisinhas sobre a reforma judicial.”
Benjamim Netanyahu
Ele então passou a se fazer de vítima, dizendo à reunião que estava sob uma “ordem de mordaça” que o impede de discutir quaisquer detalhes da reforma e sobre a perigosa tempestade que ela provocou.
Netanyahu estava se referindo à decisão, no início deste mês, da procuradora-geral Gali Baharav-Miara de proibir seu envolvimento nas propostas, por causa do conflito de interesses representado por seu julgamento por corrupção em andamento.
Citando o “grotesco” da situação, Netanyahu convenientemente negligenciou a inclusão desse fato pertinente.
Embora só possamos supor que ele pretendia que sua qualificação como “coisinha” aliviasse uma situação grave, essa maneira simplista de explicar uma situação tão complexa e o uso seletivo dos fatos, indica que ele pensa no establishment judaico americano como um vassalo de Israel, que seguirá cegamente o governo israelense.
Também indica que Netanyahu continua desdenhando da oposição maciça que os planos de reforma encontraram – desde líderes da comunidade High-Tech e de empresas, até os ex-comandantes das agências de segurança israelenses, bem como os muitos líderes judeus americanos reunidos para ouvi-lo na noite de domingo.
Netanyahu disse ao grupo que “Israel é uma democracia e continuará a ser uma democracia, com o governo da maioria e salvaguardas adequadas das liberdades civis”. No entanto, em todas as suas ações desde que assumiu o cargo, o “governo da maioria” que Netanyahu conduz literal e praticamente não tem interesse em envolver a enorme minoria de cidadãos que não votaram nessa coalizão e a maioria dos israelenses que, de acordo com várias pesquisas, são contra a reforma judicial como está agora.
Caso contrário, por que não abrandar o processo e aceitar a recomendação do Presidente Isaac Herzog no sentido de suspender a legislação e, em vez disso, investir tempo num diálogo destinado a criar um amplo consenso para as reformas?
É a isso que o embaixador dos EUA em Israel, Tom Nides, estava se referindo quando aconselhou Netanyahu a “frear” a legislação durante uma entrevista em um podcast no fim de semana.
Nides refinou sua declaração quando falou ao mesmo fórum de líderes judeus, dizendo que os EUA acreditam “na construção de algum consenso. Fiz o comentário sobre pisar os freios, desacelerar e tentar construir um consenso.”
A resposta do ministro dos Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, a Nides – “cuide do seu próprio negócio” – é mais um exemplo da recusa do governo em ouvir qualquer um que não faça parte de seu ataque contra as normas de longa data do sistema judiciário de Israel.
Os líderes judeus americanos com quem Netanyahu falou, não vivem em um vácuo sombreado por óculos cor-de-rosa. Eles estão cientes do que está acontecendo em Israel e como o país está em sua situação mais precária, nascida da luta interna na retirada da Faixa de Gaza em 2005.
Eles não serão enganados por uma história de soluço sobre uma ordem de mordaça. Eles também deveriam estar defendendo que o líder do país com o qual tanto se preocupam suspenda a ampla reforma judicial e tente encontrar algum terreno comum, enquanto ainda há tempo.
“Não vai haver uma guerra civil.”
Benjamim Netanyahu
Netanyahu terminou seus comentários afirmando inequivocamente: “Não haverá uma guerra civil”.
De onde ele se senta no gabinete de primeiro-ministro, em frente ao Knesset – olhando pela janela para as massas de israelenses preocupados – ele precisa fazer mais, para garantir que isso não aconteça.
Ele é o primeiro-ministro e ele é o responsável.
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