Enquanto Ramallah fala de um ‘diálogo novo e positivo’ desde que Biden assumiu o cargo, os EUA não estão oferecendo aos palestinos nenhum horizonte político na prática, e se esquivam de exercer pressão sobre o novo governo de extrema-direita de Israel.
[ por Jack Khoury | Haaretz | 21|02|2023 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR | www.pazagora.org ]>
Em 4 de novembro de 2008, Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos – o primeiro presidente afroamericano a se mudar para a Casa Branca. Massas de pessoas saíram às ruas, algumas vestindo camisas com a foto de Martin Luther King e o ditado: “Eu tenho um sonho, um sonho que se tornou realidade”. A euforia estava no auge. Jornalistas de todo o mundo transmitiram os eventos, incluindo a mídia do mundo árabe.
Por um momento, tudo parecia diferente. Parecia que estávamos no alvorecer de uma nova era sobre o sangrento conflito entre israelenses e palestinos, entre outras coisas. Alguns até ousaram sonhar com novas iniciativas de paz e até mesmo com um acordo. Mas Obama completou dois mandatos e, oito anos depois, nada avançou. O presidente pode ter sido negro, mas era a mesma Casa Branca.
Hoje também, é a mesma Casa Branca. Alguns dizem que é diferente do que era nos dias do presidente Donald Trump, mas, na prática, não há mudança real. Em Ramallah, eles falam de um diálogo aberto e positivo e de uma nova terminologia, mas o governo Biden não está oferecendo aos palestinos nenhum horizonte ou plano, nem pretende exercer pressão efetiva sobre o governo de Netanyahu – Smotrich – Ben-Gvir.
Se os palestinos, e todo o mundo árabe, precisavam de mais provas da política de linguagem dúbia dos Estados Unidos e da comunidade internacional – ela revelou-se na segunda-feira em sua forma mais crua.
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Enquanto o gabinete do primeiro-ministro israelense anunciava supostos entendimentos alcançados com os americanos, segundo os quais Israel não aprovará mais postos avançados além dos 10 já aprovados – por apenas três meses – Biden desembarcou em Kiev e ficou ao lado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, e anunciou US $ 500 milhões em ajuda. É o que se espera de um aliado de superpotência como os Estados Unidos.
As coisas são diferentes quando se trata de Israel. A pressão dos americanos é aplicada com luvas de pelica, e realmente não incomoda Netanyahu ou sua coalizão.
Na extrema direita da coalizão, o silêncio foi registrado por parte de Bezalel Smotrich, Itamar Ben-Gvir, Orit Strock e do Conselho de Assentamentos Yesha. Nenhum deles reclamou, ameaçou ou criticou o anúncio. Todos eles entenderam que isso era apenas uma tática – nem uma retirada nem um compromisso.
Apesar da promessa de Netanyahu, seu aliado de extrema-direita Smotrich promete expandir os assentamentos na Cisjordânia
Enquanto o gabinete do primeiro-ministro israelense anunciava supostos entendimentos alcançados com os americanos, segundo os quais Israel não aprovará mais postos avançados além dos 10 já aprovados – por apenas três meses – Biden desembarcou em Kiev e, ao lado do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, anunciou US $ 500 milhões em ajuda. É o que se espera de um aliado de superpotência como os Estados Unidos.
Três meses, eles devem estar dizendo, vamos torná-lo completo no Ramadã e nos feriados, talvez até mesmo encerrar a revisão judicial e então – 10 novos postos avançados serão legalizados, e a repressão dos palestinos continuará. Mesmo que não possamos demolir casas palestinas hoje, isso pode ser feito daqui a três meses. Ninguém tem pressa.
O lado palestino entende que também estão de mãos atadas. O gabinete do presidente Mahmoud Abbas e seus porta-vozes não saíram com anúncios festivos dizendo que os palestinos conseguiram avançar com um movimento diplomático sério.
A única compensaçãom de acordo com sua visão era que, em vez de um veto e um confronto frontal, o governo Biden concordaria com uma declaração presidencial do Conselho de Segurança; Uma declaração segundo a qual os americanos concordariam em seguir a postura de que os assentamentos prejudicam o avanço da Solução de Dois Estados, baseada nas linhas de 1967, com base nas decisões da comunidade internacional.
Em Ramallah, eles preferiram evitar uma colisão frontal com o governo Biden e concederam aos americanos outra oportunidade – talvez algo mude, talvez alguém seja sábio.
Mas mesmo dentro da liderança palestina há aqueles que instaram Abbas a não concordar e forçar os EUA a lançar um veto, colocando os Estados Unidos, mais uma vez, em uma posição minoritária.
Deve ficar claro que o debate no Conselho de Segurança não capturou a atenção do público palestino, nem se transformou em uma grande notícia. A principal questão em que o púbico se concentrou na segunda-feira foi o protesto dos professores do sistema educacional palestino sobre suas condições de emprego, quando saíram em massa para se manifestar em frente ao gabinete do primeiro-ministro em Ramallah. A declaração da presidência do Conselho de Segurança da ONU permaneceu à margem do discurso palestino, principalmente entre políticos e comentaristas.
No que diz respeito ao público palestino, seu nível de confiança – nos EUA, na Autoridade Palestina e certamente em Israel – é quase zero. Cada anúncio ou declaração em que a comunidade internacional, particularmente os Estados Unidos, expressa “preocupação” já não muda nada na sua realidade quotidiana.
Enquanto os colonos estiverem no controle da terra, enquanto o exército fizer prisões todos os dias, enquanto as casas forem demolidas e as pessoas forem reprimidas; enquanto a Ocupação, com todas as suas implicações, existir; enquanto o governo Biden – similarmente ao seu antecessor – estiver procurando “administrar” o conflito em vez de acabar com ele; enquanto a pressão americana se concentrar em acalmar as coisas em vez de estabelecer limites; enquanto as preocupações com a democracia em Israel não examinarem o que está acontecendo com as pessoas que estão enfrentando as injustiças da Ocupação – a Casa Branca permanecerá a mesma Casa Branca.
<[ por Jack Khoury | Haaretz | 21|02|2023 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR | www.pazagora.org ]