Discurso do escritor David Grossman na Manifestação pela Democracia de 130.000 israelenses no centro de Tel Aviv em 21|01|2023
[ publicado pelo Ynet | 22|01|2023 | traduzido por Moisés Storch para a J-AMLAT e PAZ AGORA|BR | Amigos Brasileiros do PAZ AGORA | www.pazagora.org ]
Boas noites a todos os milhares aqui presentes.
Cada vez mais frequentemente me encontro com pessoas, principalmente jovens, que não querem continuar vivendo aqui, que o que está passando aqui lhes é alheio e os converte, contra sua vontade, em estranhos em seu próprio país. Israel, tal como é hoje, deixou de ser um lar para eles, e para não sofrerem o sentimento de se sentir estrangeiros, mudam-se para uma espécie de ‘exílio interior’.
“É um sentimento que entendo, mas que também é doloroso. Acima de tudo, o Estado de Israel se estabeleceu para que houvesse um lugar no mundo, onde o individuo judeu e o povo judeu se sentissem em casa.
Mas, se tantos israelenses se sentem como exilados em seu próprio país, está claro que algo vai mal.
Parece-me que muita gente se sente assim. Gente de centro e de esquerda, e também gente de direita. Judeus, árabes, laicos, crentes. Os que foram derrotados nas eleições e, inclusive os que a ganharam. Aqueles, cujo júbilo da vitória não pode ocultar uma fina infiltração de pânico quando vêem o real custo da sua vitória, e sobretudo quando começam a ver melhor os rostos dos seus sócios na vitória.
Em seu 75º ano, Israel se encontra em uma luta fatídica por sua imagem. Pelo rosto da sua democracia, pelo status do estado de direito, pelos direitos humanos, pela liberdade de criação e a liberdade artística, pela liberdade de comunicação e de radiodifusão pública.
Nossa luta aqui é uma luta contra as leis desenhadas para institucionalizar o racismo e a discriminação, para humilhar as minorias, Uma luta contra políticos cínicos, alguns deles corruptos, empenhados em redefinir a Justiça de maneira unilateral, antidemocrática e furtiva.
Amigos, eu sei: não é fácil sair de casa e se manifestar semana após semana, para logo ficar preso no trânsito, às vezes por horas. Mas estamos aqui fazendo um ato de grande despertar, iniciando o regresso do exílio, sobretudo da paralisia interna, para o lar.
E aqui, nesta multidão enorme e diversa, estão aqueles cujos direitos LGBT e o estado da educação e o estado da Ocupação ardem em seus corações e lhes tiram o sonho dos olhos, como acontece comigo.
Aqui nesta ruas, há representantes de muitos órgãos e organizações que no dia a dia não se dedicam nada a protestos, mas vieram. Também há, como nas manifestações anteriores, pessoas que se declaram de direita.
E todas elas, todos eles, toda esta enorme variedade de ativistas públicos, estão hoje dispostos a suspender temporariamente as suas agendas para se unir em torno do mais crítico, do mais urgente e importante. E o fazemos, porque por trás do programa unilateral e depredador da reforma judiciária, vemos uma casa en chamas. Isso mesmo: uma casa em chamas.
E também entendemos que se o Estado de Direito for ferido, todas as demais lutas importantes também desmoronarão gradualmente. E, por todas estas coisas, me nego a ser um exilado no meu país.
E creio que vocês também. Caso contrário, não estaríamos aqui.
Neguemo-nos a ser passivos, neguemo-nos a ser indiferentes, recusem-se a ser exiliados em nosso país.
Agora é a hora, amigos! Neste tempo de escuridão, é o momento de levantar e gritar: esta terra é nossa alma. O que lhe suceder hoje determinará que será ela e quem seremos, nós e nossos filhos.
Porque se o Estado de Israel é tão diferente e estiver tão longe da esperança e da visão que o criou, D’us não permita, em um certo e horrível sentido ele não mais existirá.
Porque, se queremos que Israel continue existindo, não deve se distanciar da esperança e da visão que o criaram.
Amigos, vocês são a ESPERANÇA, vocês são a VISÃO, vocês são a ALTERNATIVA !