Por que o (provável) novo governo é a maior crise existencial de Israel

A mudança nas leis e a reestruturação de ministérios – para se adequar aos fanáticos da coalizão de extrema-direita – sinalizam a mudança da Democracia para um regime autoritário.

[ por Naomi Chazan  |  Times of Israel  |  12|12|2022  |  traduzido pelo PAZ AGORA|BR  |  www.pazagora.org  ]

O novo governo de Israel, que será instalado na próxima semana, está programado para ser, de acordo com a promessa eleitoral de seu líder Benjamin Netanyahu, “totalmente de direita“. A coalizão esperada de 64 membros, composta pelo Likud, os partidos ultraortodoxos (Shas e Judaísmo Unido da Torá) e os ultranacionalistas messiânicos – o ‘Sionismo Religioso’, liderado por Bezalel Smotrich, o partido do Poder Judaico de Itamar Ben Gvir, e Noam, a chapa do indivíduo Avi Maoz. Espera-se que o suposto governo prossiga vigorosamente suas políticas declaradamente etno-nacionalistas. Os preparativos para sua posse – incluindo a distribuição de ministérios, acordos de coalizão emergentes e a legislação de habilitação imediata – indicam que também planeja instituir uma mudança de regime de pleno direito, o que é ilegítimo por quaisquer padrões democráticos.

ASSALTO À DEMOCRACIA

Na véspera do 75º aniversário de seu estabelecimento, Israel enfrenta sua maior crise existencial. Os delicados fios que lhe permitiram sobreviver e prosperar na comunidade global, com o apoio do judaísmo mundial, vêm se desfazendo há décadas. Estão prestes a ser totalmente cortados. Sem um realinhamento de seus valores fundamentais de igualdade, equidade e liberdade para todos os seus cidadãos, juntamente com suas aspirações de paz com seus vizinhos enraizadas em sua herança judaica, conforme incorporado na Declaração de Independência, Israel pode perder seu próprio ser.

O propósito declarado do novo governo é consolidar o caráter judaico do Estado de Israel por meio de uma série de medidas que institucionalizariam os direitos coletivos judaicos no país, conforme descrito na Lei Básica de 2018, “Israel: O Estado-Nação do Povo Judeu”, que procura garantir o controle efetivo israelense sobre todo o território entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, e se propôe a reorganizar as estruturas estatais para assegurar a rápida realização desses objetivos.

Embora seja tentador minimizar a escalada das várias formas de oposição ao novo governo e seu programa, suas variedade e intensidade não podem ser facilmente subjugadas. Salvo a implosão da atual coligação através da avareza dos seus próprios membros, qualquer tentativa de cooperação nas atuais circunstâncias não pode amenizar as tensões crescentes, especialmente porque seria percebida como equivalente à cumplicidade com a agenda do novo governo. O aumento da resistência civil em muitas formas, com tudo o que isso implica, é, portanto, provável no futuro imediato.

Esta situação não será resolvida por novas eleições nem por coerção, mas sim abordando corajosamente as contradições essenciais de Israel e reformulando suas premissas subjacentes através da criação de uma sociedade compartilhada verdadeiramente igualitária e justa. Esse é o verdadeiro desafio para os israelenses hoje.

 

A AUTORA 
Naomi Chazan é professora (emérita) de ciência política na Universidade Hebraica de Jerusalém. Ex-deputada do Knesset do qual foi vice-presidente , atualmente atua como pesquisadora sênior no Instituto de Pesquisa Truman da Universidade Hebraica e no Instituto Van Leer de Jerusalém.

[ por Naomi Chazan  |  Times of Israel  |  12|12|2022  |  traduzido pelo PAZ AGORA|BR  |  www.pazagora.org  ]

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