AS METAS DE POLÍTICA EXTERIOR DE ISRAEL PARA 2022

[ Por Alon Pinkas | Haaretz | 11|02|2022 | traduzido por José Manasseh Zagury ]

Nos dois maiores desafios que Israel enfrenta – os palestinos e o Irã – a “continuação do status quo” é um eufemismo para evitar-se tomar decisões, o que pode ser bom para os políticos, mas não é uma boa política.

Todo ano, desde 1948, os israelenses ficam na expectativa de que o próximo será de uma “conjuntura crítica”, “um ano decisivo” ou, na prática, “um ano de grandes decisões”. Embora essa terminologia pretensiosa conduza a oportunismo político doméstico, exibicionismo e levantamento de fundos para causas israelenses no exterior, ela raramente é precisa.

Quando um ano chega a ser um ponto de inflexão, ou pelo menos significativo, só percebemos isso retroativamente. Para ganhar apoio e respeito, os políticos notificam o público sobre as decisões terrivelmente difíceis que têm de tomar. Mas muito raramente eles tomam tais decisões. Tendem a procrastinar e santificar o status quo. O ano de 2022 não será diferente e a política externa israelense se parecerá com a versão insípida, sem imaginação e mais-do-mesmo de 2021: “O Irã é uma ameaça existencial“.

Isso não é necessariamente uma coisa ruim e, em verdade, é um sinal de normalidade. É que por Israel se situar no Oriente Médio, crises imprevistas tendem a acontecer numa escala maior e num tempo mais curto do que tudo o que foi previsto. A suposição básica é que 2022 será um ano ainda fortemente dominado pela Covid-19 e suas repercussões econômicas. Mas, eventos no e em torno do Irã, Ucrânia e Etiópia sugerem que independente de quão avassaladora seja a pandemia, ela no máximo adia outras crises. Israel tradicionalmente não tem outra política exterior que não a diretiva básica da “comunidade das nações”. O que Israel sempre teve foi uma política de defesa e segurança, à qual a política exterior está totalmente sujeita.

Você pode corretamente argumentar que a maioria dos países é assim, com poucas exceções, os países privilegiados que não necessitam realmente uma política de defesa. Os países atrelam conscientemente sua política exterior com uma postura geral de defesa e interesses de segurança específicos, onde os dois instrumentos complementam um ao outro.

Mas a trajetória única da história de Israel – basicamente um permanente estado de guerra por muitas décadas, com intensidade variada – tornou sua política exterior convencional uma subcategoria da política de segurança. Isso tem expressões estruturais, burocráticas, orçamentárias, políticas e culturais e não mudou muito até os dias de hoje.

Entretanto, com o fortalecimento de Israel como uma potência militar e economicamente dominante na região, bem como uma potência tecnológica, uma política exterior mais tradicional emergiu. Não é independente de uma política de defesa abrangente, mas possui características diplomáticas civis diferentes.

A política externa de Israel para 2022 será dividida em quatro partes: uma postura estratégica geral, a agenda existente, desenvolvimentos a serem seguidos de perto e “o que não sabemos que desconhecemos”.

A postura estratégica geral de Israel é definida como “assegurar a segurança e a existência de Israel”, mas na verdade é toda sobre o Irã. Se há uma ênfase exagerada com tons histéricos ou se é uma leitura precisa das intenções do Irã, é assunto para outro tópico.

Do jeito que estão as coisas, Israel vê o Irã como uma ameaça existencial potencial e toda a política exterior deriva dessa noção.

DE TEERÃ A BEIJIN

A atual agenda de Israel consiste de cinco itens principais:

  • IRÃ – Haverá ou não um novo ou um renovado acordo nuclear em 2022? Como serão as politicas regionais do Irã e que políticas efetivas Israel pode elaborar para os cenários em que há acordo ou falta de acordo nuclear?
  • PALESTINOS – Será que 2022 será mais um ano de status quo? As relações se deteriorarão inesperadamente e 2022 aproximará Israel ainda mais da realidade do Estado Binacional? Se o modelo de Dois Estados não for mais viável, o que será, dado o equilíbrio demográfico entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, com 52% de judeus e 48% de árabes palestinos?
  • ESTADOS UNIDOS – Na medida em que a América continua a se afastar do Oriente Médio e a deslocar seus recursos para a costa do Pacífico e com os assuntos Irã, e com os palestinos mantendo seu permanente estado de crise, a “inabalável aliança” entre EUA e Israel permanecerá intacta ou será abalada?

    Segundo, como Israel lidará com as mudanças políticas internas nos EUA, particularmente as relações com o Partido Democrata, após o distanciamento e alienação da era Netaniahu?
  • CHINA – Diante do cenário de rivalidade cada vez maior entre EUA e China e a expansão da presença chinesa na região, será que Israel será apanhado no meio?

    Será que as relações sino-iranianas se aprofundarão, depois que o acordo de “aliança estratégica” de 400 bilhões de dólares em 25 anos foi assinado? Será que a China se transformará no guarda-chuva estratégico do Irã?
  • ORIENTE MÉDIO – Podem os Acordos de Abraham ser expandidos para incluir a Arábia Saudita?
    Em paralelo à agenda principal, mas com muito menos urgência, há outros desenvolvimentos a serem observados em 2022. Sob certas circunstâncias podem evoluir; cada um deles requer a atenção de Israel.
  • TURQUÍA – Sob o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, as relações turco-israelenses se deterioraram a ponto de aberta hostilidade. Mas a geopolítica de longo prazo e a confluência de interesses comuns sugerem que uma melhoria significativa é possível e até mesmo necessária. Em 2022, Israel estará seguindo de perto a política turca, que se posiciona para uma muito provável era pós-Erdoğan.
  • RÚSSIA – A política geral da Rússia na região e especialmente suas relações com o Irã, certamente serão monitoradas de perto.
  • EUROPA – Israel tradicionalmente foi contra o envolvimento europeu no processo de paz entre Israel e os palestinos, quando havia um. Mas a União Europeia segue sendo o principal parceiro comercial de Israel, recebendo 65% das exportações israelenses. Além disso, o novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e uma menor influência americana na política europeia, requererão a atenção de Israel.
  • NOVAS OPORTUNIDADES – Apesar da era do isolamento diplomático israelense ter acabado, ainda há países de fora da região com os quais Israel não possui relações diplomáticas, notadamente Indonésia, Malásia e Paquistão.
  • O QUE NÃO SABEMOS QUE DESCONHECEMOS – O que “não sabemos que desconhecemos” apresenta naturalmente o maior de todos os desafios e o maior grau de incerteza. O ex-secretário de Defesa americano Donald Rumsfeld, que morreu em junho passado, ficou famoso por formular a descrição inteligente, embora confusa e intrigante, dos “desconhecimentos” nas políticas de defesa e exterior. “Sempre me interessaram os relatos que dizem que algo não aconteceu, porque como sabemos, há coisas que sabemos que sabemos e há coisas que sabemos que não sabemos. Mas há também coisas que não sabemos que desconhecemos. Se olharmos através da história de nosso país e de outros países livres, as coisas da terceira categoria é que tendem a ser as mais difíceis”.

    Qualquer um dos objetivos da política exterior de Israel pode ser submetido ao dito de Rumsfeld. O Irã é um “conhecido conhecido” e sabemos que conhecemos o que o Irã está fazendo e como ele conduz sua política regional. Entretanto “sabemos que não sabemos” qual é a atual política nuclear do Irã. Sabemos que – pondo de lado a incessante verborragia e a arrogante retórica ocasional – não realmente sabemos qual a estratégia final do Irã (em termos nucleares).

    Será que eles querem uma opção nuclear militar, com tudo o que isso implica, com toda a pressão decorrente, ou Teerã se contentará em estabelecer-se como um estado “no limiar nuclear” (um Estado que possui todos os componentes para produzir uma bomba nuclear, mas que ainda não decidiu montá-la N T.), o que aparentemente já é, e usar a ameaça potencial como um escudo protetor para suas manobras geopolíticas?

    E quais são os “desconhecimentos” de Israel? Esse é um assunto que está mais para a imaginação do que para uma visão estratégica sólida, nas ainda assim é parte integral da política exterior. Uma crise política no Irã que pode resultar em beligerância na região, pode complicar completamente a agenda de Israel. Uma sublevação repentina e violenta em um país vizinho como o Líbano, a Síria ou a Jordânia, pode representar um formidável desafio à segurança. Uma escalada imprevista nas relações entre China e EUA pode parecer distante, mas sem dúvida trará complicações indiretas para Israel. Que 2022 será parecido a 2021 e que será um ano de “mais do mesmo” parece ser a conclusão lógica, mesmo que esse seja um enfoque um pouco preguiçoso derivado mais que tudo de desejo que assim seja do que de verdadeira análise geopolítica. Mas uma coisa é certa: “mais do mesmo” não consagra o status quo. Nos dois principais assuntos que Israel enfrenta, os palestinos e o Irã, “manter o status quo” é um eufemismo para seguir chutando a lata rua abaixo e evitar de tomar decisões.

[ por Alon Pinkas | Haaretz | 01|02|2022 | traduzido por José Manasseh Zagury ]

  • Complemento dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA


    … E onde ficam nossos vizinhos palestinos no Plano de Metas……???

    Surpreendentemente, o autor não insere entre as “Metas da Política Exterior de Israel” a retomada do Processo de Paz com os Palestinos, a questão mais delicada e urgente para garantir a paz e a segurança do Estado.

    Observe-se que os maiores aliados de Israel, como União Européia e Estados Unidos, há muito apóiam a Solução de 2 Estados, com um Estado Palestino em paz ao seu lado. A própria Autoridade Palestina busca tal solução.

    Por outro lado, grande países árabes aliados de Israel, como Egito e Jordânia , agora somados aos países que há pouco ataram relações diplomáticas, como Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Sudão seriam simpáticos a um acordo e estariam dispostos inclusive a financiar a infra-estrutura do novo Estado Palestino e eventualmente acolher palestinos da diáspora.

  • Em 2002, TODOS os países da Liga Árabe se dispuseram a reconhecer o Estado de Israel, desde que fosse estabelecido um Estado Palestino ao seu lado (INICIATIVA ÁRABE DE PAZ). Este documento vem sendo ratificado regularmente.

    Um dos principais motivos da animosidade do Irã contra Israel está no domínio do Lugares Santos Islâmicos de Jerusalém, aspecto que já foi cuidado em diversas negociaçoes não-oficiais, como o Acordo de Genebra.

    Toda uma constelação de fatores está se alinhando na direção de um ACORDO DE PAZ JUSTO E DURADOURO entre Israel e seus vizinhos.

    Esperamos que estadistas israelenses responsáveis insiram a retomada do Processo de Paz com os Palestinos nas Metas da Política Exterior de Israel e encerrem logo o ciclo inútil de Ocupação e violência.

Oportunidades históricas como estas não surgem todos os dias!

















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