SIM, SR. YEHOSHUA, DOIS ESTADOS !


[ por Dan Perry | Publicado no Times of Israel | 16|12|21 | traduzido por José Manasseh Zaguri ]

O obituário do acordo de paz para a divisão da terra, escrito pelo novelista, é derrotista e uma concessão desnecessária à direita. A situação não é impossível. É apenas difícil.

Hoje em dia está, na moda ridicularizar os apoiadores da Solução de Dois Estados e chamá-la de impossível. Isso convém tanto à extrema direita quanto à extrema esquerda. Mas os novos convertidos vêm da esquerda. Seu garoto propaganda é o novelista A. B. Yehoshua e a discussão gerada esta semana em alguns círculos chegou a níveis extremos. O fundamento desse discurso é que Israel enfrenta a escolha entre a integridade territorial, a preservação da democracia e o Estado judaico. Apenas duas dessas três características podem coexistir e pessoas sérias têm que escolher qual das três descartar. A razão objetiva para isso é que as populações judaica e árabe na Terra Santa estão emparelhadas, com cerca de 7 milhões de pessoas cada uma, e ainda não foi descoberto o truque que permitirá que o Estado seja democrático enquanto nega direitos em massa a seus residentes.

A extrema direita dispensa a democracia sem hesitar e portanto se opõe à Solução de Dois Estados. Seus apoiadores não vêem razão pela qual não possam controlar milhões de pessoas que não podem votar para o governo que os governa, mesmo usando a força que seja necessária.

A extrema esquerda abre mão do Estado judaico. Seus apoiadores não vêem razão pela qual Israel tenha que negar cidadania para os palestinos da Cisjordânia em um Estado que mantenha todo o território, já que vêem um Estado-Nação como um anacronismo (e alguns até não vêem os judeus como uma nação, mas isso é assunto para outra discussão).

A direita moderada está confusa. Eles querem as três características simultaneamente e por isso às vezes são xingados pela esquerda, o que causa todo tipo de ofensa e faz a esquerda parecer elitista.

O apoio à Solução de Dois Estados historicamente sempre dependeu da esquerda moderada, a esquerda sionista. Seus apoiadores historicamente abrem mão, com pesar, da integridade territorial. Para isso eles estão dispostos a assumir riscos. E não há dúvida de que há riscos, conhecidos pelos israelenses como “mísseis sobre Kfar Saba”, um subúrbio de Tel Aviv. Se refere ao medo de que se Israel abandonar a Cisjordânia o Hamas a ocupará, exatamente como fez com a Faixa de Gaza, levando ao caos.

Os apoiadores da esquerda moderada encontraram diferentes meios de lidar com esse problema. Alguns negam sua existência (e são com razão chamados de ingênuos pela direita); outros preferem afiar as espadas (recapturaremos o território se for necessário); eu, pessoalmente, sou a favor de remover a maioria dos colonos, mas deixando o exército onde está, como medida de segurança e nada mais que isso, sem o aspecto da colonização, até que apareça uma ideia melhor.

A novidade é que pessoas como A. B. Yehoshua estão dizendo que a Solução de Dois Estados é impossível. Não porque sempre tenha sido, mas porque se teria tornado impossível por causa do número de colônias existentes. Yehoshua escreveu no Haaretz que “o tremendo número de colônias e a anexação de Jerusalém Oriental, na minha opinião, arrebentaram a possibilidade de uma justa e razoável divisão entre os dois povos que habitam a Terra de Israel”.

Há três problemas nessa afirmação:

Primeiro, é derrotista. É um mau karma que irradia fraqueza. Dá a vitória à direita. Isso significa que Israel fracassou em evitar que a direita enchesse o país de colônias e permitisse portanto que Israel morra como Estado judaico.

Segundo, dá essa vitória à direita desnecessariamente. A situação não é impossível. É apenas difícil. Qualquer um que tenha lido ao menos um artigo de Shaul Arieli sabe que a maioria dos colonos estão próximos da Linha Verde e a divisão ainda é possível trazendo 100.000 colonos de volta para Israel ou deixando ficar no Estado Palestino os que assim preferirem. Com o devido respeito, se há árabes em Israel os palestinos podem viver com alguns judeus em seu Estado. Além do mais, estamos falando de salvar o sionismo, um cenário extremo. Se os rebeldes optarem por violência então que haja violência.

Terceiro, a vitória não será da direita israelense. Será a vitória dos inimigos do sionismo. Judeus e palestinos não podem viver em paz em um Estado único, que nenhum dos dois lados controla.

A B. Yehoshua escreveu no Haaretz esta semana: “A identidade judaica (o que quer que isso signifique) existiu por milhares de anos como uma pequena minoria dentro de povos numerosos e portanto não há razão pela qual não poderia continuar a existir em um Estado israelense apesar de ali viver uma enorme minoria de palestinos, mesmo que seja chamado de Estado Binacional”.

A, B. Yehoshua

Esse é um erro colossal. Cita um precedente, mas é um precedente baseado em uma situação em que os judeus não aspiravam por controle. Na prática, numa situação bi-nacional, o que provavelmente acontecerá é que muitos judeus tentarão de alguma forma manter o controle, na esperança de que os árabes deixem o país. E muitos árabes tentarão fazer os judeus irem embora através de terrorismo. Os judeus, principalmente, é que irão embora. Primeiro o pessoal da startup nation, seguidos das pessoas com formação.

Yehoshua escreve sobre o resultado de um Estado único, no qual “será possivel formar uma parceria razoável para o beneficio de ambos os lados”.

Prezado Sr. Yehoshua: há dois desfechos plausíveis para esse experimento do Estado único com dois povos genuinamente conflituosos.

O primeiro é a fuga de judeus que levará a um Estado árabe onde os judeus serão uma minoria miserável (e os palestinos terão colocado em prática o direito de retorno para milhões de descendentes de refugiados).

O segundo é um cenário tipo Yugoslávia, no qual depois de uma guerra sangrenta o país se desintegra e volta aos seus componentes naturais, com vários protagonistas sendo levados para (o tribunal internacional de) Haia.

[ por Dan Perry | Publicado no Times of Israel | 16|12|21 | traduzido por José Manasseh Zaguri ]

Leia também: A.B. Yehoshua e a Solução de Dois Estados.

Leia ++ A.B. Yehoshua

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