Um novo mega-assentamento pode ser a sentença de morte para um futuro Estado Palestino viável. Mas, com o vergonhoso silêncio dos partidos pró-paz no governo israelense, a única esperança de deter o projeto está com Biden e Blinken.
[ por HAGIT OFRAN | Haaretz | 05|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
A história deste novo assentamento israelense é muito selvagem e fantástica demais para se acreditar.
O que está sendo planejado para o bairro palestino de Qalandiya (“Atarot” na versão oficial israelense), ao norte de Jerusalém, é um novo assentamento do tamanho de uma cidade inteira. Seria um enclave cercado por denso continuum urbano palestino e sem ligação com qualquer assentamento israelense existente. Talvez seu atributo mais enganoso é que ele poderia ser logo estabelecido por um governo israelense, baseado em sua decisão de manter o que chama de “status quo” para o projeto de assentamento.
Nos últimos anos, o ministério de habitação de Israel preparou um plano para 9.000 unidades habitacionais na área do antigo aeroporto de Atarot, mas conforme relatos, o governo Netanyahu não o levou adiante por causa de pressão americana. O plano é considerado letal para a perspectiva de um acordo de paz de DOIS ESTADOS, porque ele interrompe o continuum palestino na metrópole central do futuro Estado Palestino, entre Ramallah e Jerusalém Oriental. Mesmo de acordo com o Plano Trump, que se distancia do modelo de DOIS ESTADOS, a área de Atarot seria parte da entidade palestina.
Nesta segunda-feira, o Comitê Distrital de Planejamento e Construção, sob jurisdição do governo central, deve discutir o primeiro passo do processo de planejamento, conhecido como “depósito”. O procedimento de planejamento é parecido com uma bola de neve. Após o início da promoção do plano, ele cria vida própria, a burocracia se movimenta, expectativas econômicas e legais são criadas, e fica cada vez mais difícil interromper o processo.
Se você quiser parar o plano, tem que dizer agora, antes que se inicie o processo de planejamento. Tudo o que é recessário para isto é adiar a audiência no comitê distrital para uma data indeterminada, com um custo político insignificante. Porém, após o início do processo de planejamento, a coisa fica muito mais complicada, difícil e politicamente cara.
Então, como a atual coalizão de governo ousa fazer o que nem o governo “todo de direita” de Netanyahu fez?
O governo Bennett foi formado sobre a base de um consenso de que não existe consenso na questão de assentamentos e dos territórios ocupados. Seus entendimentos centrais eram de que o governo não faria mudanças de longo alcance que pudesse prejudicar a possibilidade de uma paz futura, nem faria mudanças de longo alcance que avançassem para uma futura paz. Isto foi chamado de manter um “status quo” sobre assentamentos.
- Jerusalem advances new Jewish neighborhood in area earmarked for Palestinians
- Jerusalem’s posh airport had direct flights to Iran. This is what it looks like today
- To soothe U.S. concerns, Israel says new Jerusalem neighborhood won’t be approved for another year
- Israel advances thousands of housing units in East Jerusalem as Biden remains silent
Apoiadores de uma Solução de Dois Estados no governo interpretam este acordo como uma isenção de assumir responsabilidade pela política nos territórios: “Não há chance de chegar a um acordo , de toda maneira, portanto não há porque falar sobre isso”. Eles nem buscam fazer qualquer consulta ou um forum ministerial para questionar as políticas nos territórios ocupados. Sua posição: se não falarmos sobre algo, ele não acontecerá.
Ministros da direita (e com eles também o supostamente centrista Ministro da Defesa enny Gantz) também não tocam no assunto. Eles fazem tudo que podem para aprofundar o controle israelense sobre os territórios, e não se dão ao trabalho de se engajar com os parceiros pró-paz no governo.
Este foi o caso quando os colonos estabeleceram o posto avançado ilegal de Evyatar, e o Ministro da Defesa, em troca ao “consentimento” dos colonos para evacuar, enviou soldados do EDI para ocupar um posto militar que não tinha nenhuma lógica e cuja criação já tinha levado à morte de sete civis palestinos em protestos contra o outpost.
Este foi o caso quando um oficial anônimo de Administração Civil determinou uma data para a discussão de objeções ao plano de assentamento na área E1, adjacente a Jerusalém, que é considerada como uma linha vermelha política a que o mundo, inclusive os americanos se opõem fortemente.
E é isso o que acontece agora, quando o ministro da habitação decidir jogar uma bomba política e promover o plano para um novo assentamnto em Qalandiya.
O ministro da habitação de Israel tem a autoridade para promover planos habitacionais e publicar licitações para obras. Ele não necessita de qualquer aprovação formal do governo. Em todos governos anteriores, a prática foi de que em questões de grande sensibilidade política, como a promoção massiva de assentamentos, ou construção em áreas agudamente controversas, as decisões só eram feitas em coordenação com o primeiro-ministro e/ou um fórum de ministros.
Mas o atual governo não lidará com questões políticas controversas, o que significa que qualquer ministro pode fazer que quiser. Eles têm a mão livre, não importa o quão explosiva seja a questão.
Apoiadores da paz na coalizão de governo de Israel já tiveram tempo suficiente para entender que há algo de podre aqui. É impossível deixar de lado as questões de Ocupação e assentamento sob a rubrica do “status quo” e evitar lidar com isso. Eles não podem deixar que a direita e Gantz determinem sozinhos a política de governo para a questão mais crucial para o nosso futuro.
O temor dos apoiadores de Dois Estados de entrar na discussão, inevitavelmente atacar as políticas do governo e até desencadear sua dissolução, é compreensível. Mas é preciso dizer alguma coisa, fazer exigências, fazer algo.
Conforme a agenda do comitê, só falta um dia para deter o plano Qalandiya/Atarot. Pode ser que o Secretário de Estado americano Anthony Blinken entre para afogar o processo.
Se os partidos ‘pró-paz no poder continuarem agindo como os três macacos – não ouvindo, não vendo e não dizendo nad -, a destruição de qualquer chance de paz será registrada nos nomes de Meretz, Avodá, Yesh Atid, Kachol Lavan e Lista Árabe Unida.
HAGIT OFRAN mora em Jerusalém e participa da EQUIPE DE MONITORAMENTO DE ASSENTAMENTOS do Movimento PAZ AGORA
[ por HAGIT OFRAN | Haaretz | 05|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]