[ por Anshel Pfeffer | Haaretz | 08|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
O primeiro-ministro Naftali Bennett costumava ser crítico da política do seu antecessor para construção de assentamentos. Mas agora está seguindo os passos de Netanyahu. E as lideranças dos colonos estão contentes em verem o status quo ser mantido.
O primeiro-ministro do governo israelense tem vários títulos e cargos adicionais, alguns pouco conhecidos do público. Por exemplo, é também o presidente da Comissão de Energia Atômica. E por lei, acumulam qualquer ministério que por alguma razão não tem um ministro in situ. Isto significa que o incumbente atual, Naftali Bennett, é também ministro para Assuntos de Assentamento. [O posto deveria ser de Nir Orbach, membro do Partido Yamina de Bennett, que até agora prefere o cargo influente de presidente do Comitê de Habitação do Knesset].
Isto é intrigante, porque seis meses se passaram desde que Bennett tornou-se simultâneamente primeiro-ministro e ministro dos assentamentos, e ainda não parece ter uma política de assentamentos, além de continuar a do seu antecessor, Benjamin Netanyahu.
Na última quinta-feira, um telefonema tenso com o Secretário de Estado americano Antony Blinken, que visava uma atualização sobre as lentas conversações com os iranianos em Viena, mas também serviu para trazer Bennett de volta à Terra sobre a questão de assentamentos. A leitura do Departamento de Estado sobre o telefonema mencionou que Blinken “enfatizou fortemente” que Israel (e a Autoridade Palestina) “ deveriam evitar passos unilaterais que exacerbassem tensões e minassem esforços para avançar uma solução negociada de Dois Estados, incluindo o avanço de atividades de assentamento”.
Nesse mesmo telefonema, Blinken enfatizou um assentamento em particular: o planejado novo bairro em Atarot, à nordeste de Jerusalém, que fica do outro lado da Linha Verde (a linha demarcatória do armistício anterior à Guerra dos Seis Dias, que separa Israel da Cisjordânia).
Este é um dos mega-projetos de assentamento que ficaram no estágio de planejamento por muitos anos, mas que também têm sido adiados indefinidamente. Blinken queria sabe de Bennett por que, se Netanyahu pôde atolar o projeto de Atarot por tantos anos, sem nunca ter nem mexido na terra, por que iria o projeto seguir adiante justo sob o novo governo?
O telefone deve ter tido algum efeito, porque quando a Comissão de Planejamento Distrital de Jerusalém se reuniu na segunda-feira para ar sinal verde a Atarot, ela, ao contrário, decidiu primeiro aguardar um relatório do Ministério de Proteção Ambiental. E, como a ministra de Proteção Ambiental é Tamar Zandberg, do Meretz, o Relatório deve demorar.
Bennett não parece preoupado em ter que recuar agora. Ele está focado no Irã e prefere evitar desacordos com o governo Biden. E no contexto da sua coalizão de governo, incluindo centristas, esquerdistas e islâmicos, não quer chutar o balde.
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Entretanto, ainda está vivo tudo o que Bennett falou nesta década que levou à sua surpreendente elevação a primeiro-ministro. Os arquivos estão cheios de críticas de Bennett à política de Netanyahu sobre assentamentos, desde o tempo em que ele foi nomeado chefe do Conselho Yesha (órgão máximo de representação de todos assentamentos nos Territórios Ocupados), em 2010. Netanyahu nunca fazia o suficiente, conforme Bennett, e uma de suas principais exigências como líder do Partido Habait Haiehudi [A Casa Judia] era “Soberania Agora [na Cisjordânia]!”.
No ano passado, quando revelado o Plano de Paz para o Oriente Médio de Trump, prometendo o controle por Israel de um terço da Cisjordânia, a reação de Bennett foi: “Por que parte dela? Precisamos anexar tudo”.
Será que Bennett está sendo apenas pragmático agora? Ou talvez ele nunca foi tão anexionista como suas declarações sugeriam?
Alguns de seus assessores anteriores acreditam nisso. “Bennett precisava mostrar uma posição política e, enquanto Netanyahu estava lá, ele tinha que ficar na extrema-direita”, diz um deles. O próprio Bennett admitiu em privado que “qualquer coisa que Netanyahu diga ou faça, eu tenho que ficar à direita dele“.
A disposição de Bennett para por um freio nos assentamentos não deve surpreender. Ele sempre foi mais oportunista do que ideológico. O status quo de Netanyahu – sem retiradas, mas sem grandes obras de assentamento – é também a fórmula perfeita para ele. Ele disse algo assim numa entrevista ao The New York Times em agosto, ao observar que “este governo não anexará [terra dos Territórios] nem formará um Estado Palestino…” Dentro dos assentamentos, “Israel continuará em sua política padrão de crescimento natural“, acrescentou.
Alguns leitores podem ficar surpresos por Netanyahu não ter construído assentamentos em massa. Mas desde que ele disparou o grande bairro de Har Homa a sudeste de Jerusalém em 1997, durante seu primeiro termo como primeiro-ministro, não lançou qualquer grande assentamento.
Hagit Ofran, que chefia a Equipe de Monitoramento de Assentamentos do PAZ AGORA, confirma que nos últimos anos sob Netanyahu, as obras nos assentamentos continuaram num ritmo anual de cerca de 2.000 unidades habitacionais – que permanece o mesmo ritmo sob Bennett. “Mas, o mais significativo foi o investimento em infra-estrutura, especialmente estradas”, diz Hagit. E, claro que, embora o governo não tenha aprovado novos assentamentos, não se esforçou para impedir que colonos estabelecessem outros novos, sem aprovação oficial.
Até aqui, isso não parece ter mudado sob Bennett. A ministra dos transportes do seu governo, a líder do Avodá Merav Michaeli, anunciou que irá investir mais em estradas dentro das fronteiras de Israel. Mas os projetos já autorizados sob o governo anterior, tal como o alargamento da rodovia Jerusalem-Hebron, que serve principalmente aos assentamentos no percurso, estão prosseguindo.
Isto também pode explicar porque não estamos vendo protestos importantes de colonos contra Bennett. Um de seus líderes disse em privado que “Netanyahu não construiu tanto quanto teríamos gostado, mas pelo menos era claro que ele não iria desmantelar qualquer assentamento – ao contrário dos seus antecessores no Likud, Menachem Begin e Ariel Sharon. Bennett parece estar seguindo a mesma rota”.
Outro líder de colonos disse recentemente que “a infraestrutura é muito mais importante hoje, do que construir novos assentamentos. Meus próprios residentes estão mais interessados em melhores estradas, centros comunitários e piscinas do que brigar com o governo para construir um novo bairro”.
A administração Biden e os representantes da esquerda na coalizão israelense parecem concordar. Eles podem conviver com obras de “crescimento natual” em low profile.
Se o governo não avançar com grandes projetos de construção, tais como Atarot ou o plano de E1, entre Jerusalém Oriental e o assentamento gigante de Maalê Adumim, eles não dificultarão a vida de Bennett.
[ por Anshel Pfeffer | Haaretz | 08|12|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]