[ por Galia Golan | Haaretz 23|09|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
Perdi meu direito de protestar
Poucas décadas atrás, protestos e manifestações eram uma atividade familiar. Meu marido, Dr. David Gild, e eu, nem hesitávamos para levar nossos filhos conosco às manifestações do PAZ AGORA, mesmo quando as crianças íam em carrinhos de bebê. Mas isso mudou, com o tempo.
Em 1983, à época da primeira Guerra do Líbano, após a massiva manifestação que ajudamos a organizar, exigindo uma comissão de inquérito sobre o papel de Israel nos massacres de Sabra e Chatila, fizemos uma marcha em Jerusalém que foi sujeita a muita violência. No final da marcha, uma granada foi arremessada sobre nós, assassinando Emil Grunzweig, um estudante de mestrado na Universidade Hebraica.
Membros do governo Begin chamavam a nós, o PAZ AGORA, de quinta-colunas, e um jovem que morava a poucas quadras de mim aparentemente acreditou na calúnia. Foi ele que atirou a granada que também feriu vários dos nossos ativistas.
Manifestar-se virou uma questão perigosa. O PAZ AGORA era realmente um movimento bastante ‘light’. Nós discutíamos, mas evitávamos desobediência civil ou infringir a lei – mesmo que nos exaltássemos um pouco diante de novos assentamentos. De fato, éramos criticados por grupos israelenses mais radicais por nossa moderação. Mas aquela granada de mão foi arremessada por um israelense que, acredito, estava convencido de que éramos traidores.
O atentado com granada foi um evento traumático. Mas eu já tinha observado – no tempo do nosso evento “Mãos em torno de Jerusalém” e em algumas manifestações em Tel Aviv organizadas pelo Partido Comunista Rakach – que a polícia ficava extremamente nervosa, ao ponto da violência, quando também havia árabes nas manifestações. Ainda assim, marchávamos e nos manifestávamos, embora não mais levássemos juntos os nossos filhos.
Fui lembrada de tudo isto na última sexta-feira, quando ativistas do Combatants for Peace foram gravemente feridos. Não se tratava nem de uma manifestação ou protesto. Foi numa atividade para levar água a uma comunidade local palestina, próxima a Hebron, que está sendo impedida de acesso a água.
> leia ++ (inglês) –>
- Israeli soldiers assault activists, Palestinians bringing water to West Bank village
- Murderer of Israeli left-wing activist says anti-Netanyahu ‘germs’ should be ‘removed from society’
- I grew up watching settlers attacking my Palestinian village. They’re becoming bolder. I’m afraid
- The American Jewish left’s untimely abandonment of Israel’s leftists
Eu tinha – e tenho – medo porque agora, na minha idade, não consigo correr da violência dos colonos, Nem posso correr do gás lacrimogênio atirado pelo EDI, ou de ser jogada ao chão, Este é o problema.
Uma coisa é temer indivíduos violentos, como alguns dos colonos. Mas é uma coisa bem direrente temer os legítimos instrumentos do Estado, do meu Estado, sejam soldados ou policiais. Um braço do Estado é trazido para agredir israelenses pacíficos, israelenses que já foram oficiais de combate no passado e que hoje advogam, ensinam e praticam a não violência.
São esses instrumentos do Estado, o exército no qual nossos amigos. parentes e vizinhos servem, que estão me tolhendo, mesmo que indiretamente, de exercer meu direito de me manifestar. Esses instrumentos do meu Estado, enviados por nossos líderes eleitos, são os que me impedem de, mesmo que pacificamente, tentar ajudar uma comunidade palestina além da Linha Verde, nos territórios Ocupados.
Alguma coisa está errada nesta situação. Acho que eu estava certa de ter medo, de evitar esta atividade perto de Hebron, mesmo que não fosse nem uma manifestação nem um protesto.
Tenho que concluir que meu direito a protestar, de me manifestar pacificamente, está sendo negado. Isto não está certo. Não numa democracia.
Galia Golan é Professora Emérita da Universidade Hebraica de Jerusalém. Foi líder do Movimento PAZ AGORA, do qual participou desde sua fundação. Dirigiu o Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Jerusalém ]
[ por Galia Golan | Haaretz 23|09|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
Twitter: @galiagolan