Editorial Haaretz
Evacuem Eviatar. Sem Concessões
É impossível acreditar no que estamos lendo: Os colonos do outpost ilegal Eviatar concordaram em aceitar a oferta para evacuar o local, a eles proposta por representantes do governo. Suas altezas reais, senhores ladrões de terras, que criminosamente tomaram propriedades palestinas e sem um pingo de vergonha erigiram uma comunidade ilegal, dignaram-se a concordar com o “compromisso” formulado pelo governo israelense especialmente para eles. A generosidade dos vitoriosos.
Como parte do resultado, os colonos partirão, mas as casas irão ficar, com o governo dizendo queo o status da terra será reexaminado. O governo também prometeu que se houver uma maneira de legalizar o outpost, os colonos poderão retornar às casas.
Enquanto isso, os colonos não precisam temer a perda do seu território recém controlado, ou que suas casas históricas com menos de 60 dias caiam, deus proíba, em mãos palestinas. Pois conforme o plano, quando os colonos se retirarem, uma base militar será imediatamente estabelecida no local, e depois uma yeshivá.
Quem sabe, o próprio Knesset também seja movido para lá. O deputado Nir Orbach, que considou mudar seu escritório para Eviatar como ato de protesto, ainda será coroado como o Colombo de Eviatar.
E se não fosse suficiente que o governo israelense tenha escolhido legitimizar esta grilagem e proteger os fortes dos fracos, os saqueadores dos saqueados, descobrimos ontem que isto foi feito em desafio às opiniões de altas autoridades oficiais do Comando Central do Exército e da Inteligência.
==> leia mais (em inglês)
- In compromise, settlers to leave illegal outpost until land rights resolved
- Residents of illegal West Bank outpost of Evyatar brace for eviction
- Israeli army says new West Bank outpost ‘a blatant violation of the law’
Mesmo que o primeiro-ministro Naftali Bennett tenha dito ontem que compromisso ainda não estivesse finalizado, é difícil não se maravilhar com a sensibilidade mostrada pelo governo em suas negociações com os criminosos dos territórios.
Seus membros não parecem se emocionar pelo fato de que o outpost ilegal ter sido erguido em terras pertencentes a vilarejos palestinos, ou de que tinha sido uma base militar, cuja construção requeria uma ordem de desapropriação, indicando que seriam uma terra de propriedade privada palestina. Mas a verdade é que, independentemente de a terra ser privada ou o que é chamado de “terra do Estado”, o outpost é ilegal. Então, digamos o que realmente é: Este “compromisso” é nada menos que uma mecanismo de “lavagem” do posto avançado.
Eviatar precisa ser evacuado e suas edificações precisam ser demolidas. Não há razão para uma base militar nem uma yeshivá ali.
Apenas esvaziem tudo imediatamente. Sem compromissos ou concessões.
[ O artigo acima é o Editorial do Haaretz de 29|06|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
O “Compromisso” de Evacuação de um Posto Avançado Ilegal – O Que os Colonos Conseguiram
Após semanas de tensão em torno do outpost ilegal de Eviatar, seus moradores disseram ontem que iriam aceitar o compromisso oferecido pelo Ministro da Defesa Benny Gantz e a Ministra do Interior Ayelet Shaked. Conforme o plano – que conforme o Primeiro Ministro Naftali Bennett ainda não está fechado – os colonos deixarão o outpost até o fim desta semana, mas as casas ficarão e um posto militar será instalado.
O governo examinará se a terra pertence a palestinos ou se pode ser definido como terra do Estado adequada para assentamento. Foi também acordado que uma yeshivá (escola religiosa) será locada ali, embora fontes políticas digam que isto só pode ser feito após se esclarecido o status da terra.
O plano deixa uma abertura para aprovar o outpost que foi erguido contra a Lei. Ao estabelecer fatos consumados, os colonos forçaram a Administração Civil de Israel na Cisjordânia a examinar o status da terra. O lançamento de uma yeshivá ali teria o efeito de criar um assentamento permanente.
Colonos de Eviatar | jun 2021
pela Terra Santa e pela Torá
De toda forma, conforme o plano haverá uma presença militar permanente; os fundadores do outpost também consideram isto uma conquista, pois significa uma presença judaica.
Hagit Ofran, do PAZ AGORA, observa que uma série de assentamentos se originaram de compromissos entre colonos e o governo. Por exemplo, os colonos que foram evacuados de Sebástia nos anos ‘70 foram autorizados a viver na base militar de Kedumim, e depois foram fundar o assentamento de mesmo nome.
Outro exemplo é o outpost de Givat Asaf, iniciado como uma tenda para enlutados em 2001, após palestinos terem abatido o colono Asaf Hershkovitz, perto do assentamento de Ofra. Os colonos foram autorizados a ficar ali durante os sete dias rituais de luto, mas o outpost ainda está lá.
Portavozes de Eviatar dizem que, para eles, o compromisso de ontem é doloroso, pois Gantz insiste que ele será evacuado. Acredita-se que essa declaração é só para minimizar o desgaste de Gantz como resultado do compromisso.
A questão agora é se o plano é factível. Os colonos dizem que por causa da ‘yeshivá hesder’ – que combina estudos da Torá com serviço militar – trata-se de uma instituição militar, que pode ser construída ali através de uma ordem de desapropriação pelo chefe do Comando Central do exército.
Até dois meses atrás, o outpost era uma colina deserta, próxima ao vilarejo palestino de Beita, cercada de oliveiras pertencentes aos morados de aldeias palestinas próximas. Uma base militar também existiu lá. Desde 2013, houve várias tentativas de se criar um outpost no local, mas as construções foram sempre evacuados. No início de maio, após Yehuda Guetta, 19 anos, ter sido morto a tiros no entroncamento de Tapuach na Cisjordânia, colonos se instalaram ali.
O que está por trás do Plano de Compromisso?
Autoridades da defesa querem que os moradores dos outposts sejam evacuados para aliviar o encargo de guardar outros colonos e liberar as tropas para enfrentar os moradores do vilarejo vizinho de Beita. Os palestinos locais criaram “unidades de assédio noturno”, queimaram pneus, miraram luzes laser em moradores do outpost e marcharam na área carregando tochas, tudo para fazer os colonos saírem. Como resultado, o exército enviou 2 batalhões como reforço na semana passada.
Fontes envolvidas nas conversas sobre o compromisso o descrevem como resultado de pressão política. “Bennett não desejaria fotos de uma evacuação”, dizem.
No que Eviatar é diferente de outros outposts?
Há vários tipos de outposts. Primeiros, tem os mais antigos, que a direita chama de “assentamentos jovens”. A maioria deles foi criada no fim dos ´90 e inícios dos ‘2000, e alguns estão agora “legalizados” – ou como assentamentos independentes ou como bairros de assentamentos existentes, com ou sem contiguidade.
Outposts podem ser ‘legalizados‘ [embora permaneçam ilegais pelas Leis Internacionais -NT] se forem construídas sobre terras definida como terra estatal, ou como “survey land,” cujo status o governo ainda não esclareceu, mas acredita que um dia será definida com terra do Estado.
No últimos anos, os assim chamados outposts-fazenda têm se tornado muito comuns. Baseiam-se numa única família, alguns adolescentes que trabalham na fazenda e algumas cabras, carneiros e gado. A vantagem, acreditam os colonos, é que esses outposts tomam bastante terras para o pasto e não demandam a presença de muitos moradores. Outposts deste tipo são identificados com o movimento ‘Amana’, chefiado por Ze’ev Hever, conhecido como Zambish.
E há os outposts ligados aos extremistas da “juventude dos topos das colinas” [hilltop youth” radicals], que mesmo na comunidade dos colonos são considerados como fora do establishment. Eles constróem deliberadamente em terras privadas ou na Área B, onde os direitos de planejamento pertencem à Autoridade Palestina. Esses outposts, normalmente baseados em estruturas temporárias e não apoiados por um movimento estabelecido, são usualmente evacuados dentro de pouco tempo, retornam e o processo se repete.
Eviatar é excepcional principalmente pelo seu tamanho. Com a ajuda de crowdfunding e doadores anônimos, os colonos construíram rapidamente casa de concreto e pavimentaram ruas. Os colonos receberam o apoio do chefe do Conselho Regional da Samária, Yossi Dagan, considerado como tendo grande influência política.
[cargo semelhantes já foi ocupado pelo novo Primeiro-Ministro Bennett -NT]
Quantos outposts existem? Por que o governo não os evacua?
Com pouca fanfarra, 21 outposts foram aprovados, 18 como bairros de assentamentos existentes. Em resposta a petições contra outros outposts, o governo declarou que planeja autorizá-los.
Às vezes, este processo encontra dificuldades. Foi o caso do outpost de Avigail, cuja estrada de acesso atravessa terras privadas palestinas. Também aconteceu com Mitzpeh Kramim, construída em terras privadas e que o governo tentou sem sucesso aprovar por “market regulation” – permitindo a outposts construir em terras privadas para ficar ali se a terra fosse locada em boa fé.
[ por Hagar Shezaf | publicado no Haaretz de 29|06|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]