Comunicado
A toda pessoa que espera um relato em branco e pretonegro, recomendamos que não leia adianta. Para entender o que está passando hoje em Israel e Palestina é preciso utilizar toda a paleta de cores.
Em cada lado do conflito podemos encontrar (não) líderes dispostos a arrasar cidades, destruir vidas e fragmentar sociedades para saciar seus interesses pessoais.
Por um lado, temos Biniamin Netanyahu (B.N.), um primeiro ministro que, após 15 anos no poder, se encontra frente à a poasibilidade real de perde-lo e com uma longa lista de casos judiciais abertos aos que, até agora, conseguiu se esquivar graças às suas manipulações políticas.
Por outro lado temos o Hamas governando a Faixa de Gaza e incrementando seu poder inclusive na Cisjordânia, pelo que o presidente da Autoridad Palestina, Mahmud Abbas, decidiu adia as eleiçoes marcadas para o 22 de maio sob o pretexto de um veto por parte de Israel. O Hamas también está tentando se elevar como o verdadeiro defensor dos interesses palestinos incrementando o controle sobre a mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha, em mãos de uma fundação islâmica conhecida como o Waqf, criada e controlada pela Jordânia.
Ambas partes tem um inimigo comum: a estabilidade.
A estabilidade permitiria aflorar um cenário de diálogo, de bonança, de resolução do conflito. A solução que, como sempre, encontraram foi abrir a garrafa, deixando o gênio da violência alimentar o ódio etnicista entre judeus e palestinos até tornar impossível qualquer acordo.
Comecemos por Israel, citando o Tweet que escreveu o deputado Yair Golan (Meretz): “Como pode ser que precisamente na semana na qual as negociações da coalizão para substituir Netanyahu iam dar seus frutos, estoura uma guerra multi-frontal em que, ao menos do lado judeu, batalhões organizados de colonos e kahanistas chegam a Lod, Bat Iam e outros lugares para causar estragos”?
Mas, quem são os aliados de B.N.?
– Lehavá (להב”ה) – Uma organização israelense de extrema direita para a prevenção da assimilação na Terra Santa, foi fundada por Benzi Gupstein, que já em 2017 foi acusado por incitação à violêencia, incitação ao racismo e incitação ao terrorismo. Durante o julgamento foi representado pelo advogado Itamar Ben Gvir.
O fato de ser reconhecido como grupo que incita ao terrorismo não foi impedimento para que pudessem manifestar-se em marchas pela cidade velha de Jerusalém com cânticos como “morte aos árabes” durante a festividade do Ramadã.
– Deputado Ben Gvir – Herdeiro político do controvertido Rabino Meir Kahane, fundador do partido antiárabe Kach – entrou no parlamento com o Partido “Sionismo Religioso”, com a decisão de apoiar B.N. para primeiro-ministro. Ben Gvir decidiu montar um escritório em pleno bairro de Sheikh Jarrah, provocando a inestabilidade da zona ao ponto em que B.N. lhe pediu para cessar as provocações, pois poderiam ser realizados ataques a Jerusalém (o que indica que B.N. tinha a informação sobre possíveis ataques do Hamas).
– La Familia (לה פמיליה)– organización formada por torcedores do time Beitar Yerushalaim, onde o futebol é mera desculpa. ‘La familia’ é uma organização racista de extrema direita, defensora de B.N. Entre suas “atuações”: hostilizar cidadãos árabes ou se apresentar nas manifestações que se realizam para pedir a demissão ou prisão de Netanyahu e agredir seus manifestantes. Amnon Ben Ami, membro do Likud e próximo ao primeiro-ministro, escreveu em seu Facebook chamando a ‘La Familia’, já que “eles são a cura para esses anarquistas”, enquanto sentava no acampamento dos partidários de Netanyahu na Balfour.
Durante os últimos dias os membros da ‘La Familia’ se dispersaramo por diferentes cidades israelenses de população mista de judeus e árabes, descarregando toda sua violência e provocando o linchamento de um cidadão árabe em Bat Iam.
Uma vez iniciada a escalada de violência, o deputado Benet do Partido Yemina [Direita], que com seus 7 deputados exerce a balança que pode inclinar à formação do governo para o lado de Natanyahu ou para o grupo da mudança, decidiu dar por terminadas as negociações com estes últimos, quando já estavam chegando a um acordo e voltar ao colo de Netanyahu, lançando o país, com quase toda certeza, para suas quintas eleições, onde com toda probabilidade B.N. sairá triunfante com grande maioria.
Chegados a este ponto, novamente, não é por acaso que às 24 horas B.N. tenha começado lentamente as negociações para o cessar-fogo.
O que ocorre no lado palestino?
O Hamas aproveitou o fluxo de dinheiro que lhe chegara, tanto da União Européia como do Qatar, para melhorar seus conhecimentos e infraestrutura de ataque, incluindo a construção de uma rede de túneis, que lhes permite a mobilidade e funcionam como centros de operações militares.
O Hamas costuma utilizar muito da infraestrutura civil de Gaza como centros de lançamento de mísseis contra o território israelense, pondo em perigo a vida de milhares de cidadãos palestinos que sofrem as represálias do exército israelense.
Dentro do territorio israelense, as populações árabes israelenses levam anos sofrendo de “orfandade policial” deixando em mãos de delinquentes e máfias o controle das ruas e a acumulação de armas ilegais, encontrando no nacionalismo a desculpa perfeita para desatar suas frustrações.
O mesmo tem passado em algumas cidades mistas com nível sócio-econômic baixo, onde alguns jovens árabes com forte identidade palestina têm saído às ruas para apedrejar ou linchar cidadãos judeus, incendiando sinagogas, lojas e alguns museus.
O encontro de ambos extremos nas ruas dessas cidades desatou uma verdadera guerra civil cujas consequencias serão muito difíceis de reverter.
Como sempre nas situações de conflito, uma minoria marca o pulso e os acontecimentos enquanto que a ampla população civil de ambas as partes é a única que sai prejudicada.
Que B.N. e o Hamas se necessitam e se retroalimentam é um fato. Até onde estão dispostos a chegar? Não sabemos.
Estará a cidadania de ambas partes adormecida? Não, é importante ressaltar que existem iniciativas que chamam pelo fim da ocupação, a um acordo pactuado e duradouro e a uma convivência pacífica, se bem que estas não recebem a repercussão mediática adequada e sua mensagem apenas chega, especialmente fora de Israel e Palestina.
Muitas destas iniciativas estão lideradas pelo movimento feminista que exige a inclusão das mulheres nas mesas de negociação e na tomada de decisões, tal como expressa a resolução 1325 das Nações Unidas.
Até quando o excesso de testosterona seguirá marcando a vida de mais de 11 milhões de judeus e palestinos ?
[ Comunicado do JCall Barcelona | 16|05|2021 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
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