Adesão de Naftali Bennett à “Coligação da Mudança” foi a única opção para tirar Netanyahu do poder
Os israelenses testemunharam o início da mudança no domingo à noite, um gostinho de como o reinício nacional pode ser.
Há ainda muita coisa que pode dar errado – membros do Yamina ainda podem pular fora do barco até que o novo governo seja empossado, e o líder do Ra’am, Mansur Abbas, pode ficar com receios – mas a diferença entre as maneiras como Naftali Bennett e Benjamin Netaniahu se dirigiram à nação conta a história toda.
Bennett falou como um unificador, alguém que acredita em unir o povo. A história da política israelense à partir de hoje, explicou ele, “não é sobre mim, mas sobre nós. Vamos restaurar o ‘nós’ que era a arma secreta de Israel desde o seu estabelecimento. Todos os partidos estão convidados a se juntar a este governo”.
Quando Bennett terminou, Netaniahu fez seu próprio discurso e a diferença foi gritante: enquanto o discurso de Bennett foi sobre esperança, Netaniahu projetou desespero e trevas.
Israel, advertiu ele, está à beira do desastre. Ele advertiu sobre o Hamas, o Hezbolah, o Irã, a administração americana e todos os outros adversários que Israel tem no mundo.
“O que isso fará com a dissuasão israelense? Como vamos olhar nos olhos de nossos inimigos? O que eles farão sobre o Irã ou Gaza? O que eles dirão nos corredores da administração americana? Esse governo enfrentará o Irã? Esse governo apoia o perigoso acordo nuclear”, disse Netaniahu.
Foi o Netaniahu clássico, uma repetição do que ele tem feito pelos últimos 12 anos, governando através do medo e do alarmismo, apresentando ao público israelense, a cada passo no caminho, um inimigo ou adversário diferente, alguém ou algo de quem somente ele poderá salvá-los. Uma vez era o Hamas, na outra o Irã e então a administração Obama e agora o Hamas e o Irã de novo.
O discurso de Bennett teve um tom diferente. Foi pragmático e cheio de esperança. Ele estabeleceu um caminho de como o país pode avançar, como recalibrar, como recuperar seu bom senso e voltar a ser um Israel estável, são e otimista.
Bennett e Lapid serão bem-sucedidos? Neste momento não sabemos, já que muita coisa ainda pode sair dos trilhos. Netaniahu usará os próximos dias – até que as negociações se completem e o novo governo seja empossado – para fazer todo o possível para impedi-los de estabelecer um governo de união.
Mas, pela primeira vez desde o início da agitação política dos últimos dois anos e meio, os israelenses têm um sentimento de que existe alternativa. Que há outra opção. Que as coisas não têm que continuar como estão.
Para muitos israelenses isso será difícil. Há um enorme grupo de cidadãos que não podem imaginar qualquer pessoa liderando o país que não seja Netaniahu. São boas pessoas, que precisam ser ouvidas e respeitadas. Mas eles também têm que entender que Israel é maior do que qualquer indivíduo.
Netaniahu não é Israel e Israel não é Netaniahu. Isso é o que ele quer que todos pensem. Este país fundado há 73 anos, é duro, resiliente e muito maior do que uma única pessoa, independente de quão talentosa seja essa pessoa ou quanto tempo esteja no poder.
O que Bennett fará agora? Eis o que ele não deve fazer: não deve falar. Deve seguir o exemplo do manual de Joe Biden dos seus 100 primeiros dias no poder e trabalhar. Deve mostrar aos israelenses que está trabalhando para eles e em nome deles.
Os israelenses precisam ver que existe outra maneira de tocar este país. Não precisamos de notícias diárias de agitação política e difamações. Podemos viver sem isso. O que precisamos é de políticos que trabalhem em nosso nome, para fazer um Israel melhor, mais seguro e mais próspero.
Domingo foi o primeiro passo nessa direção.