Editorial Haaretz | 25|04|2021
Os eventos de 5ª feira em Jerusalém são uma mancha sobre a liderança de Israel, sobre a Polícia de Israel e sobre a Sociedade israelense. Por longas horas, centenas de adolescentes raivosos irromperam pelo centro da cidade, atacando pedestres e jornalistas, atirando pedras e garrafas em policiais, gritando “Morte aos Árabes” e outros slogans racistas.
Esta manifestação, pela abominável organização racista Lehavá, aconteceu após um longo período de incitamento por políticos do partido “Sionismo Religioso”, que apenas amplificou severos ataques a judeus por palestinos na Cidade Velha e não ataques a árabes. O resto dos políticos, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro de Segurança Pública Amir Ohana, não mencionaram o incitamento e a violência contra árabes.
A polícia, por sua parte, tomou a vergonhosamente irresponsável e inexplicável atitude de provocar a comunidade palestina da cidade, interditando as escadarias na saída da Porta de Damasco, logo no início do mês sagrado do Ramadan, em 12|04. É difícil exagerar o quão humilhante esta decisão foi para os moradores palestinos de Jerusalém, por cima das humilhações diárias que sofrem.
Contrastando com sua abordagem tolerante com os militantes do Lehavá a polícia também agiu com agressividade excepcional contra os palestinos, incluindo o uso extensivo de meios de dispersão de multidões, que afetam, também transeuntes inocentes.
Palestinos também tiveram um papel na violência que explodiu em Jerusalém nas últimas duas semanas. Jovens palestinos cometeram uma série de atentados covardes contra pedestres judeus, que foram filmados e compartilhados na mídia social. Mas parte da responsabilidade por esses acontecimentos está com Israel, que anexou Jerusalém Oriental há 54 anos e deu forma a esta parte da cidade desde então.
Os moradores de Jerusalém Oriental são uma anomalia no mundo. Eles perfazem 40% da população da cidade, mas não são cidadãos do Estado do qual ela é a capital – ou de fato, de qualquer outro Estado. Eles não têm direito a votar para qualquer parlamento que tenha impacto sobre suas vidas. (Israel ainda não decidiu ser lhes permitirá vota para a eleição legislativa palestina agendada para 22|05). Como resultado, e por Israel fazer tudo o que é possível para suprimir a liderança palestina na cidade, esses indivíduos ficam sem nenhum recurso.
Não obstante, da liderança palestina, como da sua contraparte israelense, espera-se que condenem os ataques a gente inocente. Como no passado, parece que a violência de Jerusalém se espalhou no fim de semana para a Faixa de Gaza – com foguetes disparados de lá para o sul de Israel, assim como a retaliação israelense – o que mais exacerba a frustração com a forma insatisfatória com que o governo e a polícia manejam os eventos na cidade.
Uma liderança responsável poderia ter evitado o perigo crescente para judeus na cidade, se criasse um diálogo com seus moradores palestinos, cultivando lideranças locais e instruindo a polícia a agir com tolerância ao lidar com o público geral e com resoluta imparcialidade contra violência e incitamento.
[ Editorial Haaretz | 25|04|2021| traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
NT – A organização Lehavá usa métodos truculentos. Nasceu com o objetivo principal de prejudicar o casamento misto entre judeus e árabes, tendo invadido violentamente cerimônias e festas; passou a defender com os mesmos métodos os ideais do “Sionismo Religioso”, aliando-se às suas lideranças, pregando a “supremacia judaica” e lhes servindo como batalhão de choque. Recebeu diversas vezes o apoio ostensivo de Benjamin Netanyahu