A Opção do Bloco anti-Netanyahu | Yair Lapid
Zehava Galon | 31|03|2021
O fenômeno mais irritante sentido desde a eleição de 2021 é o surgimento de líderes de pequenos partidos com dificuldade de enxergar a realidade política. O presidente do Yamina, Naftali Bennett, que há apenas ano e meio não conseguiu ultrapassar o coeficiente eleitoral e Gideon Sa’ar, para quem especialistas profetizaram um número de dois dígitos de cadeiras do Knesset e que acabou com seis, querem ser primeiros-ministros.
Não funciona assim. É inviável para um primeiro-ministro ter seis ou sete cadeiras. A facção que deve formar o governo é, se não a maior, pelo menos a segunda maior. Chegou a hora do presidente do [partido centrista] Yesh Atid [Existe um Futuro], Yair Lapid, formar um governo. Os eleitores decidiram, e como sempre disseram coisas contraditórias: Por um lado, deram maioria ao “bloco da mudança”, do qual Yesh Atid é o maior partido; e por outro lado, trouxeram para o Knesset os Kahanistas da extrema-direita.
Lapid e eu tivemos algumas discussões no passado. Mas ele deve receber o que merece: Ele cometeu um erro em 2013, quando não apenas se uniu ao governo de Benjamin Netanyahu, mas também o forçou a trazer Bennett, e recusou-se a formar um governo com os deputados árabes.
Deve ser dito a seu crédito que ele aprende de seus erros e demonstra liderança: Desde a eleição de 2015, ele consistentemente se negou a participar de um governo de Netanyahu, e renunciou à rotação que lhe foi prometida por Benny Gantz, do Kachol Lavan para permitir a Gantz formar um governo. Quando Gantz traiu seus eleitores e se uniu ao governo Netanyahu, Lapid manteve seus princípios e se negou a segui-lo, mesmo ao custo de cindir o Kachol Lavan.
O entendimento de Lapid de que é impossível substituir um governo sem os representantes da população árabe no Knesset, e sua preservação do bloco na última campanha eleitoral, justificadamente causaram sua premiação pelos eleitores. E eles o querem como primeiro-ministro.
Mas não são esses os únicos eleitores. Outra facção elevou o “Sionismo Religioso” de Bezalel Smotrich, Itamar Ben Gvir e do partido homofóbico Noam. Desde 1988 não havia Kahanistas no Knesset; Smotrich sempre temeu correr sozinho. Smotrich fala de enfrentar os palestinos com a “escolha de Josué” – noutras palavras, deverão escolher entre o status de refugiado, escravidão ou morte. Isto não é um segredo. É falado abertamente.
Para se opor à “normalização” de Smotrich e seus amigos Kahanistas, precisa haver uma coalizão que os empurre para trás. Não é mais uma questão de “Tudo menos Bibi”, mas de um governo de “Tudo menos Smotrich”. Isto significa cooperação entre todas as facções não dispostas a servir com neo-nazistas.
Estou longe de entusiasta sobre Bennett e Sa’ar, que são membros da extrema direita e não tomam chá comigo. Mas mesmo Bennett se opôs a Ben Gvir e sua laia quando recusou a deixá-los entrar no seu partido. A cooperação com Netanyahu, sem a qual o “Sionismo Religioso” provavelmente nunca teria passado pelo coeficiente eleitoral, e a cooperação com Smotrich, Ben Gvir e Avi Maoz, do Noam.
Sa’ar, que mostrou coragem quando deixou o Likud, e também Bennett, estão sendo solicitados a moderar suas ambições, mesmo que temporariamente. Caso eles se preocupem com o destino da Pátria, devem recomendar Lapid para formar o governo, e mandar Netanyahu para casa. Ambos já disseram tudo que deveria ser dito sobre ele.
Eles devem seguir os passos de Lapid, que prometeu que “para formar um governo de mudança, precisamos fazer concessões penosas”. Render-se a Netanyahu agora os transformaria em notas de rodapé no processo de colapso de Israel.
Provem que vocês valem os votos que receberam. Provem que é possível ser ao mesmo tempo israelenses e direitistas, sem perambularem com leprosos.
Escolham o amor ao país e não a fome de poder.
Está com vocês.
[ por Zehava Galon foi deputada do Knesset pelo Meretz e líder do partido | publicado no Haaretz 31|03|21 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]