No apagar das luzes, Trump referenda Ocupação

08|11|2020

COMUNICADO PAZ AGORA

Sobre a visita do Secretário de Estado americano Pompeo à vinícola do assentamento de Psagot

 

A. O vinhedo está em terra roubada  – O vinhedo de Psagot começou a partir de 80 dunams de terras de propriedade privada de palestinos próximo a Ramallah. Uma parte significativa da uvas utilizadas para fazer o vinho vem de solo saqueado. Após o crescimento do negócio, os colonos começaram a trazer uvas também de outros locais, como de assentamentos na área de Nablus e Shiloh.

B. A visita vale como tributo de Trump a financiadores de sua campanha – Há poucos anos, os ricos irmãos Falic compraram a vinícola. Eles também contribuíram generosamente com  Trump, assim a visita foi uma retribuição aos amigos. Além disto, eles batizaram um dos seus vinhos com o nome “Pompeo”, após a declaração pelo Secretário de que os assentamentos não eram mais ilegais, conforme sua interpretaçao atualizada “oficial” dos Estados Unidos.  Veja abaixo a análise do PAZ AGORA para esse anúncio.

C. A ‘Psagot Winery’ tornou-se um símbolo do fracasso dos colonos em ganhar reconhecimento mundial  – há cerca de um ano, uma solicitação legal da vinícola na França, requerendo seu reconhecimento como produto de Israel, foi rejeitado, A Corte Européia de Justiça determinou que todos países europeus têm a obrigação de não rotular produtos de assentamentos na Cisjordânia como “made in Israel.”

PAZ AGORA: “Ao ir a Psagot, o Secretário de Estado Pompeo parece se redobrar na insistência da sua administração de que os assentamento não são ilegais, apesar da enorme evidência e do consenso internacional. Felizmente, esta última tentativa patética de minar as perspectivas para paz, ao “normalizar” os assentamentos,  irá fracassar, tanto quanto fracassou o Plano Trump”.


Decisão de Trump de cancelar a oposição dos Estados Unidos aos assentamentos israelenses é um atentado à Solução de Dois Estados.

Sem a pressão dos Estados Unidos para defender a lei internacional. Israel se sente livre para construir em assentamentos e tomar partes da Cisjordânia.

Os apoiadores pacifistas de Israel costumam caracterizar a relutância americana em pressionar publicamente Israel em sua atividade de assentamento na Cisjordânia como equivalente a um amigo de um drogado que nada faz enquanto o vício cresce. Esta analogia tornou-se especialmente pertinente na era Trump, quando desenvolvimentos de assentamentos importantes eoncontraram o silêncio de Washington. E a analogia precisa ser atualizada: o amigo também se viciou.
Podemos interpretar o anúncio pelo Secretário de Estado Mike Pompeo  de  derrubar o  posicionamento dos Estados Unidos sobre assentamentos como inconsistentes com a Lei Internacional. Se o silêncio face à espansão de assentamento representa um aceno de aprovação tácita com relação a uma tendência problemática, a nova postura americana marca nada menos que  um golpe mal disfarçado na  Solução de Dois Estados..

Enquanto a oposição americana aos assentamentos refletem sua posição de que constituem um obstáculo para paz, fundar esta posição na Lei Internacional tem sido crítico para sinalizar a Israel que todo o empreendimento de assentamento [na Cisjordânia] é imoral e deve ser impedido. Sem esta pressão, Israel seria deixado para construir à vontade nos assentamentos e para se apossar de partes da Cisjordânia.

O que está mais em jogo neste anúncio é o desvendar de duas décadas de construção de consenso sobre como devem parecer as fronteiras numa Solução de Dois Estados. Desde os anos ‘1990, os Acordos de Paz de Oslo, entre Israel e os palestinos – com ajuda dos EUA e a comunidade internacional – refinaram os parâmetros parauma solução acordade das quatro quetões centrais do conflito:  Jerusalém, refugiados, segurança e fronteiras. A administração Trump deliberadamente minou o progresso em cada um desses temas.

Primeiro, sabotou a fórmula de duas capitais para dois Estados, ao mover a embaixada americana para Jerusalém e rebaixar o consulado independente americano para os palestimons para uma “unidade de assuntos palestinos”. Então, tentou tirar da mesa a quetão dos refugiados, cortando os fundos para a  UNWRA, órgão das Nações Unidas que fornece serviços exclusivamente para refugiados palestinos.

Neste verão, seu embaixador para Israel, David Friedman, alinhou-se abertamente com a demanda do governo Netanyahu de reter o Vale do Jordão, um dos principais pontos de desacordo sobre segurança entre israelenses e palestinos. Um mes depois, Netanyahu mostrou apoio a uma lei para anexar  a região.

Agora, o anúncio de Pompeo desafia diretamente a idéia de que as fronteiras seriam baseadas nas linhas pré-1967, com pequenas trocas de terras – a prescrição que reconhece a inadmissibilidade de adquirir territórios em guerra, mas que dá espaço para alterações pequenas e práticas.

Ponto-chave, se os assentamentos não mais forem considerados contra a Lei Internacional, aos olhos dos Estados Unidos, a construção de assentamntos não será um problema, se houver um plano para anexá-los.

Atualmente, há cerca de 427.800 colonos na Cisjordânia, excluindo Jerusalém Oriental.  Enquanto sua maioria pode ser incorporada a Israel num acordo de troca de terras para uma Solução de Dois Estados , cerca de 150.000 (20 vezes o número de evacuados da Faixa de Gaza em 2005) teriam que ser evacuados se os palestinos tiverem alguma chance de estabelecer um Estado viável e estável ao lado de Israel.

Mesmo com pacotes de compensações generosas para suas famílias, seria uma difícil façanha para um líder israelense dirigir uma evacuação nesta escala, sem perder o controle de sua coalizão no dia seguinte.

Even with generous compensation packages for their families, it remains an unfathomably difficult feat for an Israeli leader to direct an evacuation of this scale without losing his coalition the next day.

Então, por que  os Estados Unidos permitiriam que Israel  desça a ladeira de uma expansão desenfreada dos assentamentos, da qual não seria capaz de se desevencilhar?  Porque aparentemente hoje é considerado um interesse da administração Trump estimular estas políticas anexionistas israelenses de visão curta.
Talvez pretenda ser um favor de relações púlicas a Netanyahu, quando sua sorte política está perigando, ou por que Trump deseja agradar seus doadores pró-Israel de extrema-direita e sua base messiânica evangélia.  Ou será por conta do papel do Embaixador Friedman, em formular a política EUA-Israel? Ou será uma combinação de tudo acima?
Sejam quais forem as razões, o claro é que este anúncio marca a continuação da direção geral do governo americano de deixar os palestinos de lado e reinterpretar as expectativas de um acordo de status final  baseado em posições maximalistas israelenses pouco saudáveis.
Se o governo Trump realmente apoiasse uma solução equitativa e duradoura de Dois Estados, limparia o ar sobre sua oposição à construção de assentamentos – entre outras ações problemáticas nos dois lados – e tentaria construir pontes entre as partes.
Neste ponto, tanto Israel quanto os Estados Unidos precisam ir urgentemente para a rehabilitação – novamente comprometer-se com seus valores fundadores democráticos e voltarem a se tornar membros destacados da ordem global liberal. Até lá, Israel poderá ter um forte aliado na América, mas não aquele bom amigo que o previne antes que você faça uma grande bobagem.
Brian Reeves é diretor de relações externas do PAZ AGORA, movimento por uma Solução de Dois-Estados para o conflito israelense-palestino. 

[ por Brian Reeves  | publicado no Independent  em 20|11|2019 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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