NETANIAHU ACREDITA QUE A SAÚDE PÚBLICA PODE IR PARA O INFERNO
Netaniahu demonstrou publicamente por muitos anos sua subserviência às exigências dos seus parceiros políticos ultraortodoxos; eles sabem que ele é um covarde e todos teremos que pagar por sua negligência dos nossos interesses nacionais.
Isto é uma abominação. O interesse nacional de Israel foi vendido por um prato de lentilhas.
Não há outra maneira de descrever a reviravolta do governo no domingo em relação à sua decisão de impor medidas restritivas em certas áreas para conter a propagação do coronavírus.
A decisão de um comitê ministerial de impor confinamento em localidades com morbidade especialmente alta foi descartada por puro cálculo político.
Israel é o número um do mundo em propagação do Covid-19 (em termos proporcionais). Agora não deveria ser a hora de buscar culpados. Deveria ser a hora de passar o controle da pandemia para os profissionais da saúde que trabalharam em um plano estruturado para desacelerar o crescente contágio, através da imposição de restrições nas áreas mais infectadas pelo vírus.
Numa muito esperada reunião na semana passada, os políticos finalmente concordaram que o plano de Gamzu – incluindo os confinamentos – era o caminho a seguir.
Mas algumas das áreas identificadas como zonas vermelhas eram comunidades ultraortodoxas e então os políticos Haredim primeiro rotularam Gamzu de antissemita apesar dos seus esforços para salvar vidas, e em seguida acusaram-no de perseguir suas comunidades.
O que eles preferiam? Ele deveria impor restrições nas comunidades onde os casos de Covid-19 são poucos?
Esses mesmos políticos Haredim enviaram no domingo uma carta de advertência ao Primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, ameaçando-o com a possibilidade de lhe causar danos políticos.
“Você nos rotulou de espalhadores de doenças”, eles escreveram.
Após anos impondo suas vontades sobre o primeiro-ministro, esses líderes entenderam o quão fácil é amedronta-lo. A saúde pública que se dane; o elevado número de doentes e mortos que se dane.
Eles não são servidores públicos e o bem-estar de suas comunidades não tem importância para eles.
Se levassem em conta seus representados, eles teriam adotado as recomendações dos especialistas e feito todos os esforços possíveis para proteger a saúde de seus seguidores – incluindo garantir que as instituições educacionais permanecessem fechadas, especialmente as yeshivot apinhadas.
Mas eles sabem muito bem da falta de coragem da pessoa que está no topo.
A nós, o público, foi dito que ao votar em Netaniahu estaríamos conseguindo um líder forte, mas agora compreendemos que o que conseguimos foi um covarde.
O setor árabe também se tornou uma área perigosa de infecção. Os residentes locais desobedeceram as orientações de saúde e fizeram celebrações lotadas de gente durante esta época de casamentos. Mas, pelo menos, seus líderes assumiram a responsabilidade de interromper essas violações e conter a propagação do vírus.
Nenhum deles chamou Gamzu de racista ou promoveu campanhas para ignorar as recomendações.
Líderes locais e nacionais na comunidade árabe, incluindo o chefe da Lista Conjunta (coligação de cinco partidos árabes N.T.) Ayman Odeh, declararam que vão cooperar integralmente com os profissionais de saúde.
A população Haredi em si, não é culpada. O problema são os líderes dos ultraortodoxos e o primeiro-ministro que capitula para suas exigências. Eles são os inimigos do público e devem arcar com a culpa pela descida de Israel para a desonrosa lista dos países mais infectados.
De que o primeiro-ministro tem tanto medo? Os ministros ultraortodoxos Aryeh Deri e Yaakov Litzman têm alguma alternativa política a ele?
A conduta de Netaniahu no domingo, quando recuou do plano operacional dos especialistas de saúde, foi uma clara manifestação dos anos de subserviência a seus parceiros ultraortodoxos.
Mais uma vez o primeiro-ministro optou por um ganho político de curta duração no lugar dos interesses nacionais. Isso provavelmente não lhe rendeu nenhum ganho maior.
Pior, sua capitulação pública certamente cobrará um alto preço que todos nós teremos que pagar.
[ por Ben-Dror Yemini | publicado no Ynet em 07|09|20 – traduzido por José Manasseh Zagury ]