Entrevista do Embaixador Hesham Youssef
Tim Farley: Notícias boas do processo de paz israelense-palestino tem sido raras, mas a iniciativa diplomática, neste mês por quatro países influentes – da Europa e do Oriente Médio – é uma evolução construtiva que deve continuar, observando que, em 7 de julho, Egito, França, Alemanha e Jordânia se uniram para se opor à intenção declarada por Israel de anexar territórios que ocupa desde 1967. São boas novas?
Emb. Hesham Youssef: Bem, temos estado num impasse como resultado de todo tipo de coisas, a tentar avançar nos esforços para a paz entre israelenses e palestinos. Acho que esses quatro países, em particular, têm um papel muito importante a desempenhar. Egito e Jordânia são os dois países árabes que têm tratados de paz com Israel, sendo que o Egito já tem 40 anos de paz consolidada e a Jordânia 25 anos. Apesar de dificuldades nas relações em alguns aspectos, penso que as coisas têm ido bem.
No lado europeu, tanto a França como a Alemanha são os países mais influentes da Europa, e suas posições têm uma influência decisiva sobre a posição ampla da Comunidade Européia com relação ao conflito israelense-palestino.
Então, unindo as mãos, os quatro podem afetar tanto a posição árabe quanto a européia, podendo contribuir para o esforço internacional que deve ser feito para abordar a questão.
Além disto, todos esses países têm boas relações com Israel e com os Estados Unidos e são respeitados pela opinião pública e autoridades israelenses e palestinas. Esperamos que isto ajude no processo, que está num momento difícil.
Tim Farley: Como o Embaixador observa, este Quarteto é formado por Egito, França, Alemanha e Jordânia. Não é o primeiro quarteto para paz. O original, formado em 2002, foi composto por Estados Unidos, Rússia, União Européia e ONU. Esse foi substituído por Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – o Quarteto Árabe. Então, onde teriam esses Quartetos falhado em escolher a música certa? E por que teria este uma chance maior de sucesso?
Emb. Youssef: Bem, os outros dois ainda estão conosco. Então, nenhum está substituindo ninguém. E este é parte do papel que pode ser desempenhado por este novo Quarteto. Ele pode ser a ponte entre esses dois Quartetos, um a nível internacional e o outro a nível árabe.
Mas você sabe que falhas são algo com que nos acostumamos ao tentar alcançar a paz em várias décadas, seja em esforços feitos pelo presidente Clinton e Obama ou em outras mediações. Agora, temos um plano Trump, que tem sido oposto pelos palestinos e bem recebido pelos israelenses.
Mas estamos agora num impasse e precisamos ver como superá-lo, com a ajuda de todos os que estão tentando alcançar este objetivo.
E acho que este Quarteto, fazendo a ponte entre os demais Quartetos, pode ter um papel importante para isto.
Tim Farley: Obviamente, o papel dos Estados Unidos e de todos esses países é importante. Fale sobre Israel e o governo palestino, a Autoridade Palestina. Em Israel, o primeiro ministro Netanyahu tem seus próprios problemas, pois parece estar se dirigindo a uma crise na sua coalizão. Quem jogará os dados? Existe uma clareza das lideranças nos respectivos países?
Emb. Youssef: Bem, Israel teve três eleições em um ano e terá uma quarta em menos de dois. Isto também é um sinal de quão volátil é a situação. E aí, as autoridades terão grandes dificuldades, como resultado da situação financeira e política, a divisão entre as principais forças políticas palestinas entre Fatah e Hamas, etc.. Portanto, você está absolutamente certo. Ambos os lados têm grandes problemas internamente.
E precisam agir juntos para que as coisas avancem. Além disto, temos a pandemia do COVID, que inicialmente mostrou alguma cooperação entre os dois lados. Mas como resultado dos chamados à anexação, a Autoridade Palestina interrompeu a coordenação, o que está tornando as coisas ainda piores.
Então nosso trabalho foi cortado e precisamos de todos esforços os que possam ser feitos, por todos os preocupados, para que vejamos algum progresso e avanço, para desescalar a situação e nos permitir tentar retornar a posições mais razoáveis, onde as partes possam se conversar, para que avancemos.
O Embaixador Hesham Youssef é diplomata de carreira do Ministério do Exterior do Egito e da Liga Árabe, desde 1985
[ por Hesham Youssef | USIP – US Institute of Peace – usip.org | 06|08|2020 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]