Após a normalização Israel-UAE, ministro do exterior saudita se diz comprometido com Iniciativa Árabe de Paz.
Nos primeiros comentários desde o acordo, o mais alto diplomata de Riad acena com oposição a laços de normalização sem um acordo prévio sobre a questão palestina.
A Arábia Saudita permanece comprometida com a paz baseada na Iniciativa Árabe de Paz, a qual afirma que a normalização com Israel só virá como parte de um acordo amplo que estabeleça um Estado Palestino, disse o ministro do exterior nesta quarta-feira, nos primeiros comentários desde que os Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo de normalização com Israel.
Faisal bin Farhan Al Saud também disse num evento em Berlim, que a construção unilateral de assentamentos e ações para anexar parte da Cisjordânia estão prejudicando as chances de paz. Disse que o acordo dos EAU, que também suspenderam unilateralmente a anexação, “poderia ser visto como positivo”,
“A Arábia Saudita considera as políticas unilaterais de Israel para anexação e construção de assentamentos como ilegítimas e prejudiciais à solução de Dois Estados”, disse Al Saud. “A Arábia Saudita afirma seu compromisso com a paz como opção estratégica, baseada nas Iniciativas Árabes de Paz”.
Como parte da Iniciativa Árabe de Paz, endossada pela Liga Árabe em 2002, países árabes conduzidos pela Arábia Saudita demandaram um Estado Palestino desenhado ao longo da fronteiras que antecederam a captura de território por Israel na guerra de 1967, assim como uma capital na Jerusalém Oriental e o direito de retorno dos refugiados [a interpretação dessa cláusula é polêmica, pois conforme a língua do texto, pode-se entender “de refugiados”, e à época se dizia que o acolhimento de refugiados teria sua quantidade limitada pelo país acolhedor; tal interpretação prevaleceu na Iniciativa de Genebra – NT]. “Uma vez conseguido isto, tudo é possível, disse o príncipe Faisal”.
A Arábia Saudita ainda não havia comentado oficialmente sobre o acordo entre a UEA e Israel, que o presidente Trump ajudou a intermediar com o apoio do assessor Jared Kushner.
Kushner defendera o silêncio da Arábia Saudita sobre o acordo numa entrevista à CNBC no fim de semana. “Acho que temos outros países que estão muito interessados em avançar”, disse Kushner. “então, enquanto isso progride, penso ser inevitável que Arábia Saudita e Israel terão relações totalmente normalizadas e sejam capazes de fazer grandes coisas juntas”.
A Arábia Saudita, berço do Islã e local de templos sagrados, não reconhece Israel e seu espaço aéreo é fechado a vôos israelenses.
O reino, aliado próximo dos EUA, tem sido governado pelo Rei Salman, de 84 anos, desde 2015. Ele tem repetido há anos aos aliados árabes que não iria endossar qualquer plano de paz no Oriente Médio que não abordasse o status de Jerusalém ou o direito de retorno de refugiados,
Autoridades sauditas negam qualquer diferença entre suas posições e as do seu filho, o príncipe Mohammed bin Salman, o governante de facto do reino e o primeiro na linha de sucessão ao trono, que recentemente disse a uma revista americana que os israelenses têm direito a viver pacificamente em sua própria terra.
Tanto Arábia Saudita como Israel veem o Irã como a grande ameaça ao Oriente Médio. Tensões crescentes entre Teerã e Riad têm alimentado a especulação de que interesses comuns pode estimular os sauditas e Israel e trabalharem juntos. Têm aparecido, nos últimos anos, sinais de descongelamento na relação.
[ publicado no Haaretz | 19|08|20 | traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]
Leia ++
Resolução 194 – O ‘calcanhar de Aquiles’ da Iniciativa Árabe de Paz
A grande reserva de Israel quanto à Iniciativa Árabe de Paz é a maneira como o texto aborda a questão dos refugiados palestinos. Especificamente, a Iniciativa chama Israel ao afirmar: “chegar a uma justa solução para o problema dos refugiados palestino a ser acordada em conformidade com a Resolução 194”. …
Por Que, Após 8 Anos, Israel Não Respondeu à Iniciativa Árabe de Paz?
Poucos israelenses sabem o que está escrito no primeiro documento pan-árabe e pan-islâmico que propõe reconhecer Israel e trocar as relações hostis pela normalização.