Zeev Sternhell – o líder espiritual da esquerda, nunca desistiu da luta por Israel

O Professor Zeev Sternhell foi o equivalente na esquerda a um grande líder rabínico, a incorporação real ideal de um líder intelectual, mas do tipo cujos sapatos eram manchados pela lama da realidade das ruas e do campo de batalha.

O professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, falecido neste domingo, conseguia articular as ideias de esquerda claramente, tornando-as acessíveis e mobilizadoras.

Outros, mais estudados que eu, certamente escreverão sobre seus títulos, sua enorme quantidade de conhecimento e da admiração que gente de todo mundo tinha por ele e sua pesquisa sobre fascismo. Sternhell, como eu o percebia através de seus escritos e correspondências comigo, era principalmente um homem bom e generoso, um mensch, cheio de calor pessoal e uma vitalidade travessa, atencioso com jovens escritores para quem escrevia palavras de elogio e estímulo. Sempre estava pronto para dar conselhos ou apoio, o que fosse necessário no momento.

Quando eu era uma jovem escritora de opinião, lembro de ter lido um de seus textos de opinião das 6ªs feiras (“A Armadilha de Ser Apolítico”) [The Trap of Being Apolitical, de 24|05|2013].  Entendi fisicamente que eu tinha chegado a uma peça de opinião perfeita. Sternhell tinha formulado os princípios de uma esquerda real em 445 palavras em hebraico cru e simples. Em outra ocasião, ele explicou numa entrevista como sua identidade foi moldada quando descobriu a liberdade e o secularismo na França, para onde ele fugira da Polônia, durante a 2ª Guerra Mundial, de uma maneira igualmente admirável por sua simplicidade.

Por anos, levei a salas de aula uma cópia da peça de opinião, a maior parte dedicada ao princípio de organização da direita. Mesmo que você não se identifique com suas opiniões, nota a simplicidade e clareza do homem com integridade e postura ereta. Ele não precisava de pretenciosos termos acadêmicos ou metáforas complexas. Ele tem sua própria verdade, que é impagável.

E era esta a grandeza de Sternhell. Ele falava hebraico. Não desistiu da sociedade israelense, mesmo quando advertia sobre os maus caminhos que ela estava seguindo e via as piores de suas profecias se realizando, uma após a outra – e seus horríveis cumprimentos repetidamente nos deixam surpresos, com nossos queixos caindo.

Antes de ser um intelectual respeitado, Sternhell foi um comandante de pelotão Golani e um chefe de operações na Guerra de Yom Kipur. Manteve constantemente seu dedo no pulso da sociedade israelense. Estamos todos ligados nas trincheiras sangrentas, sem levar em conta etnicidade, educação ou status socioeconômico, observando juntos a morte e nos cobrindo com uma camada adicional de pele, no conhecimento silencioso do que cada pessoa é, ou quão valiosa é a vida.

Sternhell estava muito preocupado nos últimos anos, possivelmente ainda mais do que em 2008, quando uma bomba explodiu na entrada da sua casa.  Durante a Operação Borda Protetora em 2014, um dos momentos mais marcantes no surgimento do ultranacionalismo judeu, ele foi entrevistado por Gidi Weitz, do Haaretz.

“O que temos visto aqui, nas últimas semanas, é um conformismo absoluto por parte da maior parte dos intelectuais de Israel. Eles simplesmente seguiram o rebanho. Por intelectuais, quero dizer professores e jornalistas. A falência intelectual da mídia de massa nesta guerra é total”, disse.

“A democracia desmorona quando os intelectuais, as classes educadas, seguem a linha dos bandidos ou os olham com um sorriso. As pessoas dizem aqui. ‘Não é tão terrível, nada que se compare ao fascismo – temos eleições livres, partidos e um parlamento’. Ainda assim, chegamos a uma crise nesta guerra, na qual, sem ninguém lhes pedindo para fazê-lo, todo tipo de órgãos universitários de repente está demandando que as comunidades acadêmicas recolham suas críticas”.

Mais tarde, após uma série de artigos que editei sobre as estrelas em ascensão da direita israelense – que incluíram entrevistas com Bezalel Smotrich e Miki Zohar, entre outros – ele me escreveu sua análise sobre essa gente. Ele empregou seu enorme conhecimento e sua profunda familiaridade com a ascensão de líderes de direita na História e os arautos do mal que representam. Colocou essas análises numa peça de opinião em janeiro de 2018:

“Em ambos [Smotrich e Zohar], vemos não apenas um crescimento do fascismo israelense, mas um racismo equivalente ao do nazismo em seus primeiros estágios”, escreveu. “Como qualquer ideologia, a teoria nazista do racismo de desenvolveu ao longo dos anos.

É uma vergonha que as últimas imagens que ele viu na vida foram de uma realidade política caótica, corrupta e decadente, parte do clima mundial de populismo cru e perigoso. Essas imagens certamente foram um golpe severo para ele. Também é difícil escapar do pensamento de que a geração que o sucedeu não forjou personalidades da sua estatura, que combinassem seu idealismo elevado, bravura e um compromisso incondicional com Israel e a israelidade. É assim que o líder da esquerda deve parecer.

[ por Ravit Hecht | publicado no Haaretz em 21|06|2020 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]


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