A tomada unilateral e ilegal de terras palestinas desafia o consenso internacional sobre o direito palestino à auto-determinação, acenderá a violência e disparará ondas de choque por toda a região, especialmente na Jordânia, cuja estabilidade é frequentemente considerada particularmente por Israel.
Nos últimos tempos, os líderes israelenses têm promovido conversas excitadas sobre a normalização das relações com os Emirados Árabes Unidos e outros países árabes. Mas os planos israelenses para anexação e a conversa sobre normalização são uma contradição.
Um ato unilateral e deliberado, a anexação é a tomada ilegal de terras palestinas. Ela desafia o consenso árabe – e certamente o consenso internacional – sobre o direito palestino à auto-determinação.
Vai acender a violência e levantar os extremistas. Vai disparar ondas de choque pela região, especialmente na Jordânia, cuja estabilidade, às vezes tida como garantida, beneficia toda a região e particularmente Israel.
Por anos os Emirados Árabes Unidos têm sido um inabalável apoiador da paz no Oriente Médio. Temos promovido envolvimento e redução de conflitos, ajudamos a criar incentivos em lugar de punições e focamos a atenção nos benefícios coletivos para todos os envolvidos.
Nos opusemos consistentemente e ativamente à violência de todos os lados: designamos o Hezbollah como organização terrorista, condenamos o incitamento do Hamas e denunciamos as provocações israelenses.
O tempo todo, permanecemos ardentes advogados do povo palestino e defensores de longo tempo da Iniciativa de Paz Árabe.
Conduzimos uma diplomacia silenciosa e enviamos sinais bastante públicos para tentar mudar a dinâmica e promover o possível.
Eu fui um dos três embaixadores árabes no salão leste da Casa Branca quando o Presidente Trump apresentou sua proposta de paz para o Oriente Médio em janeiro.
Trabalhei de perto com a administração Obama também, inclusive num plano de medidas para promover confiança que proporcionaria benefícios substanciais para Israel – melhoria das ligações com os países árabes – em troca de maior autonomia e investimentos na Palestina.
A anexação vai certamente e imediatamente suspender as aspirações israelenses por melhores relações de segurança, econômicas e culturais com o mundo árabe e com os Emirados Árabes.
Tendo os dois exércitos mais capacitados da região, preocupações comuns sobre terrorismo e agressão e um profundo e longo relacionamento com os EUA, os Emirados Árabes e Israel poderiam formar uma cooperação de segurança mais próxima e efetiva.
Como as duas economias mais avançadas e diversificadas da região, a expansão dos negócios e dos laços financeiros poderiam acelerar o crescimento e a estabilidade em todo o Oriente Médio.
Nossos interesses comuns sobre mudança climática, água e segurança alimentar, tecnologia e ciências avançadas, poderiam estimular maior inovação e colaboração.
Como polo aéreo global, logístico, educacional e cultural, os Emirados Árabes Unidos poderiam ser uma portal aberto conectando os israelenses com a região e o mundo.
A anexação também piorará a visão dos árabes sobre Israel justo quando as iniciativas dos Emirados estavam abrindo espaços para intercâmbios culturais e amplo entendimento de Israel e do Judaísmo.
Os Emirados Árabes têm encorajado os israelenses a pensar sobre as vantagens de ligações mais abertas e normais. Temos feito o mesmo entre os cidadãos dos Emirados e os árabes em geral.
Por exemplo, Israel foi convidado a participar da Exposição Mundial de Dubai, agora planejada para o próximo ano. Diplomatas israelenses são uma presença contínua em Abu Dhabi, na sede na Agência Internacional das Nações Unidas para a Energia Renovável.
O Louvre de Abu Dhabi mostra com grande destaque, lado a lado, um Corão do século VII, uma Bíblia gótica e uma Torah iemenita do século XV, numa exibição permanente sobre as religiões e civilizações universais.
Depois da visita histórica do Papa Francisco no ano passado aos Emirados Árabes Unidos e seu encontro com o Gran Imã de Al-Azhar, nós anunciamos o estabelecimento de uma Casa da Família Abrahamica em Abu Dhabi, onde uma mesquita, uma igreja e uma sinagoga serão instaladas no mesmo complexo.
No mês passado, um novo bufê foi inaugurado em Abu Dhabi para servir a crescente comunidade judaica, a primeira nova comunidade no mundo árabe em mais de um século.
Essas são as cenouras – os incentivos, as vantagens – para Israel. Maior segurança. Ligações diretas. Expansão de mercados. Aceitação crescente. Isso é o que o normal deveria ser.
O normal não é anexação. Em lugar disso, anexação é uma provocação equivocada de outra ordem. E a continua conversa sobre normalização seria simplesmente uma esperança enganosa por melhores relações com os países árabes.
Nos Emirados Árabes e na maior parte do mundo árabe, gostaríamos de acreditar que Israel é uma oportunidade, não um inimigo. Enfrentamos perigos demais em comum e vemos o grande potencial para laços mais calorosos.
A decisão de Israel sobre anexação será um sinal inequívoco quanto a ele ver ou não as coisas da mesma forma.
[ Yousef Al Otaiba é ministro de estado dos Emirados Árabes Unidos e embaixador do país nos Estados Unidos da América | Publicado no Ynet em 12|06|20 | traduzido por José Menasseh Zagury ]