Com Joe Biden sendo possivelmente o presidente dos EUA no dia 20 de janeiro, muitos likudniks pensam que é agora ou nunca para se apropriar de terras na Cisjordânia.
Se alguém perguntasse a Yariv Levin do Likud, que conduz as negociações do Primeiro-ministro Benjamin Netaniahu com o partido Kachol Lavan de Benny Gantz, se ele prefere ser ministro da justiça mas sem estender a soberania israelense sobre a Cisjordânia ou ser ministro de frescobol mas com anexação, ele não piscaria. Ele escolheria esta última.
Seu fervor ideológico pelo Grande Israel se sobrepõe até mesmo sobre seu desejo de destruir a independência da Suprema Corte. Mas não se preocupe. Se ele for apontado presidente da Knesset ele com certeza a transformará em uma fortaleza cuja artilharia estará apontada para o salão da justiça na colina vizinha.
Até a noite de quinta-feira, o que fazer com o “negócio do século” do Presidente Trump, era a principal disputa entre o Kachol Lavan e o Likud e isso estava adiando a assinatura do acordo para a formação do governo de união. Netaniahu está sob enorme pressão por parte dos colonos da direita e muitos membros do Likud na Knesset. Eles o estão empurrando para explorar o que acreditam ser os poucos meses que sobram até que os propulsores do helicóptero presidencial despenteie o cabelo laranja de Trump pela última vez. Então ele será substituído por Joe Biden.
Desde que nasceu o plano diplomático torto de Trump, a direita procurou assaltar a sua dispensa: anexação agora e estado palestino jamais – exatamente como uma criança que quer que tire a casca do pão. Na visão da direita e aparentemente também na de Netaniahu, é agora ou nunca.
No coração da disputa está o período de seis meses definido como “governo de emergência”, durante o qual o Kachol Lavan quer evitar qualquer atividade diplomática e focar nas crises da saúde e da economia. Para Netaniahu, Levin e sua gangue, isso é uma armadilha mortal. Um mês antes das eleições presidenciais americanas em novembro, as pesquisas indicarão se a disputa está apertada. Se Israel anunciar que estenderá a soberania sobre partes da Cisjordânia, Biden, que está bem a caminho de se tornar o candidato do Partido Democrata, enviará uma forte mensagem: segurem seus cavalos, amigos.
Netaniahu sente como se estivesse no Monte Nebo do seu legado – como Moisés, ele pode ver a terra prometida, mas não pode entrar. Ele provavelmente perderá sua única chance de deixar uma marca significativa na história de Israel. Dos 120 membros da Knesset, 67 ou 68 são a favor de estender a soberania: o bloco de Netaniahu, mais Orli Levy-Abecassis, Moshe Ya’alon, os dissidentes do Kachol Lavan que formaram o partido Derech Eretz – Yoaz Hendel e Zvi Hauser – e presumivelmente outros do Kachol Lavan que apoiarão a decisão se lhes for permitido votar de acordo com suas consciências, como proposto pelo Likud.
Mas Gantz, Ashkenazi e muitos membros do Kachol Lavan se opõem a uma anexação apoiada apenas pelos EUA. Gantz e Ashkenazi não estão impregnados com o sentimento messiânico. Como pessoas destinadas a se tornar primeiro-ministro e ministro da defesa em outubro de 2021 no governo de rotação, eles querem ter espaço de manobra diplomática, não fatos consumados que podem causar problemas com um mundo hostil, tanto na nossa vizinhança como mais além.
Nos últimos dois dias, Netaniahu mostrou ao Kachol Lavan o seu Bibi interior. Em outras palavras, voltou atrás em suas promessas e reabriu partes do acordo de coalizão onde já haviam chegado a um acordo. Evidentemente ele é incapaz de agir diferente; está no seu sangue. Ainda assim, até o momento em que escrevo este artigo, a suposição que prevalece é a de que um acordo será alcançado e um governo será formado.
O veto do Kachol Lavan a Yuli Edelstein não foi levantado, então ele não voltará a ser presidente da Knesset. Sua brutal provocação contra a Suprema Corte de Justiça o manchará pelo resto de sua carreira política. Até quinta-feira à noite, não estava claro o que vai ser dele: será promovido a ministro do exterior, ou, como o folclórico Hershel de Ostropol, vai cumprir sua ameaça de ir para a cama com fome como um deputado comum da Knesset?
Netaniahu está conduzindo o (aparentemente) prolongamento final das negociações sobre a coalizão da sua residência em quarentena, para a qual retornou depois que o Ministro da Saúde Yaakov Litzman testou positivo para o coronavírus. De certa forma isso é conveniente para ele. Nenhum deputado furioso ou ministro ofendido pode se esconder nos corredores do escritório do primeiro-ministro na esperança de bater na sua porta e exigir seu devido lugar no gabinete ministerial.
Likudniks de ponta estão se contentando em conseguir que petições sejam disparadas por líderes das sucursais do partido e membros do comitê central, dizendo que não há ninguém como fulano e sicrano, e se ele não conseguir a devida posição no ministério, o Likud está acabado. E tem aqueles como Nir Barkat: o gelo no qual a promessa de nomeá-lo ministro das finanças não apenas derreteu, mas evaporou.
Barkat está novamente bombardeando o primeiro-ministro, sua equipe e todos os demais, com suas pesquisas. E daí? Ele pode compor um governo paralelo com Moshe Feiglin, Gadi Yevarkan e muitíssimos outros. Afinal, Barkat prometeu que se ele fosse declarado o candidato (a ministro das finanças), o equivalente em votos a seis ou sete cadeiras do Kachol Lavan passariam para a Likud e bloco da direita teria 61 deputados. Mas não funcionou. E já que ele não cumpriu sua promessa, a promessa feita a ele também não será cumprida.
Como sempre, Netaniahu não dá a mínima para as ameaças de outros membros do Likud. Ele vai se ocupar das ameaças dos líderes do Yamina Naftali Bennett e Ayelet Shaked só no último minuto. Enquanto isso, como um instrutor de CrossFit na era do coronavírus, ele está mobilizando seus partidários leais através do Zoom: a maioria do choro e dos lamentos cai sobre eles. Assim são as coisas na quarentena do corredor de longas distâncias – durante as negociações sobre coalizão ele se sente lá em cima.