O Secretário de Estado Mike Pompeo recentemente anunciou que os EUA não mais consideram os assentamentos israelenses na Cisjordânia como violações da lei internacional. A decisão surpreendente reverteu quatro décadas de política americana.
Trouxe críticas de aliados em todo undo e alarme dos palestinos sobre as perspectivas de paz. Para dar uma vista em primeira mão sobre as políticas de paz, fomos à Cisjordânia, uma área do tamanho do Estado de Delaware ao longo do Rio Jordão, onde os palestinos há muito tempo esperam estabelecer um Estado.
Na cidade de Ramallah, encontramos um empresário é não está esperando que a Autoridade Palestina e os Israelenses negociem um avanço. Ele está tentando construir seu próprio caminho. Bashar Masri é o sonhador por trás de uma novíssima cidade sobre uma colina chamada Rawabi. Todos lhe disseram que era impossível, mas hoje é o maior projeto de construção n moderna história da Palestina e a prima cidade planejada pr palestinos em mais de 1.000 anos,
Bashar Masri com o correspondente Bill Whitaker
Quando você pensa na Cisjordânia, um show tipo Las Vegas não é o que vem à mente. Mas foi isso que encontramos numa noite em Rawabi.
20.000 palestinos lotaram o maior anfiteatro do Oriente Médio, cantando e balançando com as canções de Mohammad Assaf, um dos mais populares artistas do mundo árabe.
Isso era mesmo música para os ouvidos de Bashar Masri, o construtor de Rawabi – um dos mais ricos e, nessa noite, um dos homens mais felizes dos territórios palestinos.
RAWABI 2013
Bill Whitaker: Nós o vimos neste mar de gente, com um grande sorriso no rosto. O que estava passando na sua mente?
Bashar Masri: Sucesso. Rawabi é um sucesso. Um selo de aprovação do meu povo. É uma sensação maravilhosa.
“Para mim, esta terra é a Palestina e viver nesta área é enfatizar que estamos aqui e estamos aqui para ficar no longo prazo”.
A uma década, Masri só poderia sonhar com uma noite como essa. Com audácia e determinação, ele fez do seu sonho uma realidade. Hoje, Rawabi [colinas, em árabe], senta-se reluzente sobre um cume escarpado no centro da Cisjordânia. As ruas são alinhadas por sucessivos condomínios. Desde a grande inauguração em 2015, cerca de 5.000 pessoas se mudaram para lá. Existe uma escola e um centro urbano que se sentiria em casa nos EUA, com lojas luxuosas vendendo marcas de grife; cafés ao ar livre: e um centro de diversões e esportes extremos para os aventureiros.
BW: Parece que você está vendendo um pouco do sonho americano da Cisjordânia.
BM: Por que não? Se o sonho americano é uma vida melhor, definitivamente nós merecemos uma vida melhor, Nosso povo mercec uma vida melhor. E para isto que Rawabi deve levar.
Ele hoje vive a boa vida em Ramallah, o centro comercial dos territórios palestinos. Ele transformou uma pequena carteira de imóveis e um império internacional de negócios que vale centenas de milhões de dólares,
Ele investiu cerca de U$150 milhões em Rawabi; recebeu do Estado de Qatar, antigo apoiador de causas palestinas, quase um bilhão de dólares. Quando Masri comprou o terreno em 2010, fincou uma bandeira palestina gigante, simbolizando uma reivindicação.
BW: Qual o significado desta terra para você e sua cidade?
BM: Para min, esta terra é palestina e viver nesta área é enfatizar que estamos aqui e aqui vamos ficar a longo prazo.
BW: Por que você quis construir uma cidade?
BM: Eu creio fortemente. Estamos fazendo uma nação. Eu vi Rawabi como um grande passo na construção desta nação.
Os palestinos vem ansiando por seu próprio país desde a fundação do Estado de Israel em 1948. As reivindicações conflitantes sobre esta terra dispararam um ciclo de violência e recriminação aparentemente sem fim.
Rawabi
Hoje, a maioria dos israelenses e palestinos estão separados por barreiras e checkpoints construídos por Israel. Os israelenses dizem que são para segurança, os palestinos dizem que são para “encaixotá-los”. E com a proliferação de mais de 250 postos avançados e assentamentos israelenses por toda a Cisjordânia, assim como este sobre a colina vizinha a Rawabi, o aperto de Israel sobre a terra Bashar Masri chama de Palestina parece mais forte do que nunca. Masri vê Rawabi como um forma de afrouxar esse aperto.
BM: Se podemos construir uma cidade, uma cidade futurista, uma cidade secular, uma cidade democrática, então podemos construir um Estado.
BW: Parece ser um lugar arriscado demais para fazer uma aposta tão grande.
BM: Se nós, palestinos, não arriscarmos para investir na construção da nossa própria nação, não devemos esperar que ninguém o faça. É um dever. Não é algo como “Hey, obrigado, Bashar, por investir na Palestina”. Eu devo.
BW: Bem agora, você… está perdendo dinheiro.
BM: Nossas perdas atuais são de cerca de U$35 milhões por ano. Estimamos que em três anos teremos o break-even da operação.
Quanto completada a construção, o plano de negócio de Masri prevê uma cidade com 40.000 moradores.
Ele constrói com pedras cortadas da colina e trabalhadores recrutados na Cisjordânia. Cerca de 5.000 pesoas trabalham em Rawabi, um boom para a economia local, onde 15% da população é desempregada.
Apartamentos estilosos custam U$65.000, competitivos com cidades da Cisjordânia, especialmente com financiamentos tipo americano que Masri introduziu. Ele vê Rawabi como um investimento num futuro palestino cosmopolitano e verde. Um imã para jovens educados, como Hadeel Jaradat, engenheira mecânica de 28 anos
Jaradat mora em Rawabi. Ela administra os equipamentos da cidade e uma equipe de 120, quase todos homens.
Hadeel Jaradat: Quando vim para a empresa, eram todos homens. Eu era a única mulher.
BW: E agora você é a chefe.
Hadeel Jaradat: Sou a chefe. Tudo bem. Estou bem com isto.
E ela ajuda a abrir caminho para outras mulheres. Um terço dos engenheiros em Rawabi são mulheres.
Hadeel Jaradat: Não é todo dia que você constrói uma cidade do nada. Participar desta experiência adiciona muito à nossa esperança. Porque Rawabi é uma casa, está nos dando uma casa com a qual jamais sonhamos ter na Palestina.
Rawabi quase não saiu do chão. Israel diz que apóia o desenvolvimento econômico palestino, então endossou publicamente Rawabi. Mas obstáculos burocráticos e a oposição da direita bloquearam Masri a cada passo. Ele teve que lutar por uma permissão para pavimentar esta estrada estreita usada para seus caminhões e equipamentos de obra.
BM: Eles levaram 4 anos e meio para nos permitir pavimentar a estrada de duas pistas, sinuosa, que seria adequada para uma mansão. Talvez para uma pequena aldeia. Mas certamente não para a cidade que estamos construindo.
Então foi a água. Israel segurou a canalização para Rawabi por mais de um ano. Antigos funcionários dos ministérios contam que membros do gabinete israelense bloqueavam a aprovação sob pressão de uma facção de colonos ideológicos que acreditam que toda esta terra é de Israel. Evidência: os colonos naquele topo de colina.
BM: Não posso ter a estrada por causa do lobby deles contra a estrada. Não conseguia a água por casa do lobby deles para não termos água, Por que eu preciso viver como cidadão de segunda classe no meu próprio país por causa de uma minoria de radicais que acreditam que Deus lhes prometeu esta terra?
Nesta terra árida, a recusa por Israel de abrir a torneira foi como um beijo da morte: compradores desistiam; Masri precisou demitir trabalhadores.
BW: Isso deve… tê-lo levado bem para baixo,
BM: Levou o projeto e a mim, pessoalmente, a nos ajoelhar. Todos me diziam, “Desista. Desista. Eu falei, “De jeito nenhum, esta é uma grande batalha, Preciso lutar esta batalha. Preciso vencer”.
Ele apelou a políticos simpatizantes no EUA, Europa e na ONU. Pressionaram o primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Em 2015, Israel cedeu e deixou a água fluir.
BM: Foi a primeira vez no meu negócio que eu tive que lidar diretamente com os israelenses – é duro de fazer. Emocionalmente, é muito difícil.
BW: Por que emocionalmente?
BM: Porque sentar com o seu ocupante, que torna sua vida miserável, controla o seu movimento, sua liberdade, e perguntar gentilmente “Você poderia me dar, por favor, os meus direitos? É uma situação humilhante.
Mas ele diz que era devastador quando ele era criticado por palestinos por tratar com o governo israelense e fazia negócios com fornecedores israelenses. Gente do seu próprio povo o chamavam de traidor.
BW: Seus crítivos dizem que você está normalizando a ocupação.
BM: Eu estou criando empregos para meus colegas palestinos. Estou populando a terra que se eu não o fizer, os colonos farão. Não estamos adoçando a ocupação. Não estamos normalizando a ocupação. Estamos desafiando a ocupação.
Ele vem desafiando a ocupação por toda sua vida. Assim como alguns adolescentes de hoje, Masri já jogou pedras em soldados israelenses, o rosto da ocupação. Disse-nos que passou muitos dias em prisões israelenses.
No fim dos anos ’80, Masri ajudou a liderar a primeira Intifada. Ele estava com Yasser Arafat em 1993, quando o líder da OLP foi a Washington para a histórica assinatura dos Acordos de Oslo, que lançou o escopo para uma solução de Dois Estados para o conflito.
Agora, aos 58, está fazendo algo que o arremessador de pedras Bashar Masri não teria imaginado.
Está abraçando alguém que ele teria considerado o inimigo. Masri quer fazer de Rawabi um hub de high-tech e achou um improvável amigo e parceiro em Eyal Waldman, um antigo oficial de combate israelense. Waldman patrulhara as ruas de Nablus, cidade natal de Masri. Agora dirige a Mellanox, um dos líderes mundiais na fabricação de chips de computadores.
Eyal Waldman: Quero lutar pela paz. Quero me engajar com os palestinos, mas se eu achar que você está ameaçando qualquer das coisas que me são importantes, eu te mato. E você tem que pensar assim. Está se tornando realista. Não estamos brincando aqui.
Mas Waldman quer quebrar o ciclo de violência, então decidiu unir forças com Masri. Abriu um escritório em Rawabi, onde emprega 90 trabalhadores palestinos. Com a carência de trabalhadores tech em Israel e uma força de trabalho educada e de baixo custo na Cisjordânia, Waldman diz que faz boa política e bons negócios.
BW: Seus empregados israelenses e os palestinos não ficaram céticos sobre trabalhar juntos?
Eyal Waldman: Acho que ambos os lados eram céticos. Ambos tem gente extremada. Eles não gostam do que estão fazendo. Mas eu penso que é hora de fazer a paz. Já basta de termos matado uns aos outros por 70 anos.
BM: Este é um sinal de esperança e apesar do fato de termos opiniões diferentes, diferentes religiões, diferentes cultuas, podemos fazer com que os fins se encontrem, Esse é um bom exemplo do caminho a rente,
Masri enxerga um Estado se enraizando das sementes que está plantando em sua colina – Rawabi sobre a borda precária entre a ocupação israelense e a desconfiança palestina. A História já mostrou, sonhos são difíceis de se concretizar neste solo sangrento, mas Bashar Masri se recusa a ficar algemado no passado.
BM: Na minha visão, Israel está aqui para ficar. E nós estamos aqui para ficar. Podemos continuar as atrocidades pelos próximos mil anos ou podemos tomar um atalho e começar a trabalhar juntos e acabar com esta miséria,
Produced by Marc Lieberman. Associate producer, Ali Rawaf. Broadcast associates, Mabel Kabani and Emilio Almonte.
[ reportagem de Bill Whitaker | publicada na CBSnews.COM em 08|12|2019 | e traduzida pelo PAZ AGORA|BR + documentários FORBES e PBS em inglês]
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Produced by Marc Lieberman. Associate producer, Ali Rawaf. Broadcast associates, Mabel Kabani and Emilio Almonte.