Delírios de um Colonialista

 

Nosso Império. O que temos, manteremos!

Nosso Império. O que temos, manteremos!

Após muitos anos de ocultação, na semana passada, em algumas frases curtas, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu revelou a essência da sua ideologia, que é compartilhada por muitos da corrente ideológica dominante em Israel. Na abertura de uma reunião de gabinete, ele disse que tinha começado a ler o livro de Barbara Tuchman “The Proud Tower: A Portrait of the World Before the War, 1890-1914.”

“…60º aniversário da Rainha Vitória, uma grande parada em Londres. A Inglaterra dominava um quarto do mundo … Tudo desmoronou algumas décadas depois. Há muitas razões, mas uma é clara – seu grande colapso militar resultou de eles não se armarem contra seus inimigos. Eles confiaram nos sucessos do passado e na posição do maior império do mundo. Eles foram declinando e, claro, foram atingidos com muita força”.

Depois Netanyahu chega à inevitável conclusão: “Nós sabemos que a força que nos ergueu até agora deve continuar a se fortalecer diante de todos esses fenômenos”.

A mensagem de Netanyahu é que não há mensagem. Esta não é a hora de discutir a abordagem agressiva de Netanyahu, mas é muito interessante ouvir que um líder pertencente à segunda geração dos fundadores do Estado compara Israel a uma potência colonialista, e não àqueles que combateram o colonialismo. Aparentemente, se Netanyahu estivesse vivo e numa posição de influência nos dias seguintes à Segunda Guerra Mundial – no lado colonialista britânico, claro – nós ainda estaríamos comprando cartões de estacionamento dos policiais de Sua Majestade. Realmente, é triste que o império tenha declinado e que seus líderes não continuem a se armar contra seus inimigos – que habitam um quarto do planeta.

E, enquanto certos historiadores nos explicam pela manhã, à tarde e de noite que o Ishuv – a comunidade judia na Palestina antes da fundação do Estado – batalhou contra os ingleses, chega agora o primeiro-ministro e lamenta o fim do império que seus predecessores alegaram ter combatido. Deve ser a razão da admiração de Netanyahu por Winston Churchill: ele o admira porque o enxerga como o último imperador. E se continuarmos e compararmos o atual império de Israel, que oprime o povo palestino, com o império que dominou um quarto do mundo, oprimiu muitas nações e roubou seus tesouros, não tenho nenhuma dúvida de que seremos melhores se o império israelense encolher para as dimensões de um país normal, exatamente como aconteceu com a Inglaterra.

Além disso, lamento dessapontar Netanyahu, mas o emagrecimento do colonialismo britânico não foi resultado de eles não se terem armado, mas por causa da continuação de um regime colonial que se tornou insustentável. Tanto os que gemiam sob seu jugo quanto os próprios colonialistas chegaram à conclusão de que esta tendência tinha acabado,

Agora Netanyahu deseja “reviver os ossos, que já estão desgastados”, como diz o Alcorão. Esta é a hora de explicar para o primeiro-ministro em retirada que os britânicos estão realmente satisfeitos pelo fato de se terem livrado do império e seu fardo.  Hoje você não mais encontra um jovem de Manchester patrulhando algum bairro infestado pela pobreza em New Delhi, ou um jovem de Birmingham correndo pelas colinas próximas a Nablus perseguindo crianças palestinas cansadas da ocupação. Eles deixaram este “prazer” para os israelenses.

publicado por Odeh Bisharat  | Haaretz | 04|11|19 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

 

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