Os colonos israelenses em Hebron tiveram a companhia de um visitante especial neste ano, para o 90º aniversário do massacre de 1929 em Hebron: o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que usou a ocasião para fortalecer suas credenciais pró-assentamentos.
Assim fazendo, a controvérsia sobre sua ação foi novamente enquadrada numa forma que associa aqueles que honram a História judaica como aqueles que apoiam a empresa dos assentamentos.
Navegar o campo minado emocional para falar sobre o assentamento de Hebron pode ser um esforço particularmente sensível, especialmente com o massacre de 1929 jogado na mistura. O massacre, que envolveu 67 judeus em Hebron, assassinados por seus vizinhos árabes palestinos durante a onda de revoltas antissionistas, representou um golpe fatal para a comunidade do segundo local sagrado mais importante do judaísmo, que deixou de existir em 1947, quando a última das famílias saiu.
Mas é isto precisamente que os que hoje “vendem” a agenda dos assentamentos estão bancando. Se eles receberem um amplo acolhimento em Hebron, poderão usar a mesma tática para desencorajar oposições a novos assentamentos em geral. Precisamos ver o assentamento de Hebron e a apropriação pelos colonos, do massacre de 1929, por sua própria agenda ideológica estreita.
De forma a efetivamente combater a agenda do assentamento de Hebron, e dos assentamentos como um todo, precisamos primeiro reconhecer os argumentos que, não por eles, fazem água, a saber : mandatos de lei internacional que um poder ocupante só pode construir num território ocupado, caso seja para segurança ou em benefício da população ocupada. Se alguém não acredita que Israel está ocupando a Cisjordânia, o argumento é mudo. Uma imensa carga de segurança é colocada sobre o exército israelense para proteger os assentamentos e Hebron em particular. Recorde a Guarda Nacional americana sendo chamada para implementar a integração racial nas escolas do Alabama.
Finalmente, o mantra de que os assentamentos evitam uma solução de Dois Estado parece simples, mas para muitos que são ou céticos a esta solução ou a rejeitem de imediato, este argumento pode parecer como uma imposição supérflua sobre Israel.
A deficiência subjacente em todos os pontos acima é que ele não explicam por si por que aos judeus israelenses não deveria ser permitido viver numa terra onde tem conexões autênticas, espirituais, culturais e históricas – especialmente em propriedades ainda possuídas por judeus, como em Hebron.
Para desviar desses pontos, apologistas dos assentamentos empregam uma combinação de simplificações para nivelar a questão através de amplas generalizações. Colonos estabelecendo uma loja, sob cobertura do exército num território fora do Estado de Israel são assim simplesmente caracterizados como “comunidades judias voltando para viver em sua terra”. E, claro, territórios “ocupados” são renomeados como “disputados”, assim apagando a característica definidora da situação real, onde, o exército de um lado efetivamente controla um território e uma população sem cidadania,
Só existe um recurso para sobrepujar este truque retórico e abordar a questão central de porque o assentamento judeu na Cisjordânia é tão problemático: articular o que a ocupação é e o que os assentamentos fazem para os palestinos.
O assentamento de Hebron, como todos assentamentos, é eticamente inadmissível porque envolve a mudança de pessoas para além das fronteiras de Israel, numa área onde seus próprios exercícios militares controlam efetivamente uma população local e a impede de adquirir seus plenos direitos.
Assentamentos são instrumentos para reivindicar soberania, não meramente uma coleção de gente vivendo em meio a uma população estrangeira. Explorar um exército para servir como cobertura para roubar terra, ao mesmo tempo em que se impede a população local de adquirir cidadania ou um Estado que possam chamar de seu, é inequivocamente imoral.
Escolher dominar indefinidamente e sem democracia outra população por razões ideológicas é tão indefensável que nos demanda que nos oponhamos a assentamentos judeus, mesmo num lugar tão rico de significado para o povo judeu, como Hebron.
O massacre de 1929 é um lembrete da razão pela qual os judeus precisam de um Estado. Quando somos uma minoria, somos vulneráveis aos caprichos de frequentes hostilidades de maioria. Mas agora, nós temos este Estado. Usar essa maioria para suprimir os direitos de uma minoria seria o máximo da hipocrisia.
A perda da comunidade judaica em Hebron foi também uma perda para a Humanidade. É apenas natural que nós, judeus, face à nossa forte ligação à terra e um senso de justiça, queiramos ver a comunidade judaica restaurada naquela cidade sagrada.
Mas se fazê-lo significar suprimir milhões de pessoas, simplesmente não vale a pena.
[ Brian Reeves é Diretor de Relações Externas do PAZ AGORA | Publicado no The Times of Israel e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]