Amos Oz foi um homem generoso e sábio. Qualquer um que tivesse a boa fortuna de dividir uma xícara de café com ele pela manhã, mesmo aqueles que não se encontraram olho no olho com ele, ouviram-no analisar nossa realidade com sabedoria. Ele tinha um profundo entendimento tanto da natureza humana quanto da natureza da política.
Amos Oz tinha uma perspectiva ampla. Me senti muito educado e iluminado após cada encontro com ele. Não há dúvida que ele foi um dos maiores escritores da literatura hebraica, e uma da maiores personalidades literárias no mundo.
Ele influenciou muitos escritores da minha geração e da seguinte. Seu livro “Na Terra de Israel” teve um tremendo impacto sobre mim, quando comecei a escrever “O Vento Amarelo”. Lembro-me de quando li esse livro pela primeira vez. Quase depois de cada capítulo, eu tinha que por o livro de lado e respirar profundamente. Quando me sinto influenciado por um autor? Quando termino um livro e desejo escrever algo para mim; Não necessariamente escrever como o autor, mas simplesmente escrever pelo prazer da criação.
Experienciei este sentimento mais de uma vez após ler um livro de Amos Oz. Especialmente após ler seu romance “Um Conto de Amor e Escuridão”.
Essa criação descreve mais do que nenhuma outra obra a grande história de nossas vidas aqui em Israel e as complicações que ele envolve. Eu ouvi centenas de pessas, que não tinham nem o entendimento nem a afinidade por Israel, dizendo que ler os seus trabalhos tiveram um insight da situação israelenses, das angústias israelenses, dos erros cometidos e da grandeza do fato de que o Estado de Israel existe.
Amos conseguiu mostrar tudo isto através da sua história pessoal, sua biografia não sentimental da infância, e a forma como lentamente se abriu para seus leitores.
Eu sempre achei que “Um Conto de Amor e Escuridão”, sofrera um processo de nacionalização, de se tornar propriedade do Estado. “O que Há Numa Maçã” é a reclamação por Amos desta nacionalização, porque ele o mostrou tal como seus amigos o conheciam – aberto e com um extraordinário senso de humor e ironia. Esses dois livros descrevem quase precisamente o Amos que eu conheci.
Ele sempre compartilhou seu infinito amor. Mesmo quando ambos competimos pelo “Man Booker Prize”. Amos não assistiu à cerimônia de premiação. Quando ganhou, expliquei o quão difícil era para mim que Amos não estava ali. Citei a declaração de Isaac Newton de que “se eu tivesse visto mais longe, teria que estar sobre os ombros de gigantes”.
Eu penso que eu e o resto da minha geração de fato estamos sobre os ombros de gigantes – Amos Oz e A. B. Yehoshua, que tenha uma longa vida.
Sabia que Amos ía para cama cedo, então não liguei para ele quando venci. Mas fiz isto logo na manhã seguinte e tivemos uma conversa que aqueceu o coração.
Quando alguém do calibre de Amos Oz é tirado de nós – e acho que muitos israelenses sentem o mesmo, até o que não concordam com ele – algo diminui.
Amos Oz não mais será o escriba da nossa realidade, porque não há outro como ele. Seu falecimento evoca dor e perda. É verdadeiramente triste.
[ por David Grossman | publicado em 30|12|18 no Ynetnews | traduzido pelo PAZ AGORA |BR ]