O empreendimento dos assentamentos fracassou no seu objetivo de solapar uma solução de Dois Estados.
A separação ainda é nitidamente possível.
[ por SHAUL ARIELI e NIMROD NOVIK – The Times of Israel 04|03|2018
Obras no assentamento de Efrat na Cisjordânia em 26|01|2017
Às vésperas da visita de Benjamin Netanyahu a Washington, dois tipos de rumores estão correndo: observadores americanos especulam que o visitante será bem recebido com a revelação amistosa da Iniciativa de Trump para assegurar o acordo ‘definitivo’ palestino-israelense, ou por um gesto – não tão a gosto do primeiro-ministro israelense – dirigido aos palestinos, voltado a trazê-los de volta para a mesa de negociações.
Enquanto isto, em Israel, a fábrica de rumores não é menos criativa, com os esperançosos colonos da Cisjordânia alardeando que Netanyahu pretende assegurar um consentimento de Trump à anexação por Israel de parte do território da Cisjordânia, caso os palestinos declinem da Iniciativa de Trump.
Não esperando que nenhuma dessas especulações se materializem, os opositores israelenses a uma solução de Dois Estados aceleraram sua campanha para enterrá-la, não apenas pressionando por uma ainda maior expansão dos assentamentos existentes, mas também por uma nova onda de iniciativas parlamentares em favor de ampliar a “aplicação da lei israelense” (uma “legalização” formal da anexação de territórios ocupados) – a várias porções da Cisjordânia.
A premissa dos opositores aos Dois Estados baseia-se na noção de que o tempo para implementar tal solução de paz já acabou. Defendem que o empreendimento de assentamentos já está de tal forma entrincheirado na Cisjordânia, que uma partilha simplesmente não pode mais ser efetivada.
2 ESTADOS SÃO A PAZ POSSÍVEL”]
A separação entre israelenses e palestinos é viável geográfica e demograficamente.
Fatos sobre a presença de Israel na Cisjordânia demonstram que este argumento é uma falácia.
Mesmo após 50 anos de esforços, o empreendimento de assentamentos não conseguiu criar condições para evitar a separação.
A equipe de Trump que trabalha em seu plano de paz deve ter esses fatos em mente. O mais fundamental é que os judeus compõem apenas 18% da população desses territórios. E seus assentamentos ocupam menos de 4% desse território.
O programa de assentamentos tampouco criou uma base econômica local significativa.
Pelo menos 60% da força de trabalho dos colonos está empregada dentro de Israel; a maioria dos jovens estudam dentro de Israel; apenas cerca de 400 famílias israelenses trabalham na agricultura, em menos de 1,5% das terras da Cisjordânia (e utilizam mão de obra palestina). E há apenas duas zonas industriais relevantes na Cisjordânia (onde 95% dos operários são palestinos).
E, mais significativamente, dos 600 mil israelenses que vivem atrás da Linha Verde, que separava Israel da Cisjordânia até 1967, cerca de 80% moram em áreas destinadas a serem parte de Israel num acordo de troca de terras. Como discutido em numerosas rodadas de negociações, os palestinos seriam compensados com terras de igual dimensão em Israel, em troca de áreas da Cisjordânia que abranjam os principais “blocos de assentamento” israelenses e em 12 bairros judeus na Jerusalém Oriental.
Consequentemente, 80% dos colonos israelenses ficarão onde estão e a terra que ocupam serão parte do Israel soberano após um acordo. Esta terra, adjacente à Linha Verde, pode ser separada dos restantes 96% da Cisjordânia onde os palestinos constituem 92% da população.
Esta troca de 4% do território pode ser feita sem causar prejuízo sério a comunidades dentro de Israel ou a aldeias palestinas na Cisjordânia que perderiam terras no processo.
Certamente as 30 mil famílias israelenses que vivem fora dos principais blocos de assentamento, incrustradas profundamente dentro da área do Estado Palestino, terão que ser realocadas.
Poderá Israel recebê-las?
Israel absorveu com sucesso um milhão de imigrantes da antiga União Soviética. E com menor sucesso cerca de 2 mil famílias, após o governo de Ariel Sharon tê-las removido da Faixa de Gaza. Estas experiências mostram que a missão é possível.
Mas preparativos apropriados são essenciais. Com um processo de reabsorção implementado no decorrer de vários anos, Israel terá que criar aproximadamente 4 mil novos empregos por ano no período de transição. Isto é razoável, pois a economia do país tem criado 80 mil novos empregos por ano na última década.
Israel também terá que construir cerca de 6 mil unidades habitacionais por ano no decorrer do mesmo período. Isto, também, não seria problemático, pois o planejamento nacional de novas residências, para este período, é de aproximadamente 120 mil unidades.
A profundidade estratégica de Israel não mais se iniciaria no Vale do Rio Jordão, mas centenas de quilômetros a Leste, na fronteira entre Jordânia e Iraque.
Portanto, a separação entre israelenses e palestinos, para o estabelecimento de 2 Estados contíguos, é viável geográfica e demograficamente.
E quanto ao principal desafio – a segurança – que corretamente perturba a maioria dos israelenses? Porquanto os palestinos sejam muito fracos para oferecer o nível de segurança que os israelenses esperam, o establishment de segurança de Israel aprecia o profissionalismo das agências de segurança palestinas e a contribuição que sua coordenação com as agências israelenses traz para a segurança de Israel.
Numa realidade de Dois Estados, preocupações com segurança no front palestino podem ser atendidas pela desmilitarização do Estado Palestino; arranjos permitindo o uso por Israel do espaço aéreo palestino; manutenção de uma presença ao longo do Rio Jordão por um período acordados e a operação de estações de alerta avançadas; assim como o upgrade, supervisionado pelos Estados Unidos, de estruturas palestinas anti-terroristas.
Todas essas medidas já foram discutidas em rodadas prévias de negociações, de forma a respeitar um equilíbrio entre o respeito à soberania palestina e o atendimento às necessidades de segurança de Israel.
Entendimentos de segurança regionais podem fortalecer esses locais.
A crescente confluência de interesses entre Israel e os países árabes pragmáticos – desde Jordânia e Egito até a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – em abordar conjuntamente as ameaças comuns colocadas pelo Estado Islâmico do Irã e forças similares desestabilizadoras, cria uma oportunidade para forjar uma estrutura regional de segurança.
Aliás, esses países repetidamente reforçam a necessidade de progresso no front palestino como cobertura para saírem a público com Israel.
É por isto que, quando o Washington Post e o New York Times reportaram em 3 de fevereiro que, em coordenação com autoridades egípcias, Israel havia conduzido ataques aéreos clandestinos contra grupo jihadistas no Sinai, o Cairo proibiu a mídia local de noticiá-lo e baniu a divulgação de artigos estrangeiros sobre esses eventos.
Uma vez que o progresso em direção a um acordo israelense-palestino permita um realinhamento e a cooperação regional, a profundidade estratégica de Israel não mais se iniciará no Vale do Jordão, mas centenas de quilômetros a leste, na fronteira entre Jordânia e Iraque. O mesmo iria se aplicar ao Sul, uma vez que os arranjos de segurança com o Egito tivessem um upgrade e pudessem ser tornados públicos.
Nós, autores deste artigo, somos ambos filiados ao “CIS” – Commanders for Israel’s Security, uma rede com mais de 280 generais israelenses de reserva, que estamos convencidos de que a segurança de Israel será melhorada por estas duas camadas de tratados robustos de segurança que um acordo com os palestinos facilitaria.
Reconhecemos que uma Solução de Dois Estados pode não estar dentro de um alcance imediato. Neste meio tempo, Israel deve evitar uma escalada da violência entre israelenses e palestinos e preservar condições para a separação até que tenhamos ambos líderes dispostos a assumir os compromissos corajosos e históricos necessários para chegar a um acordo.
Nosso governo e a Administração Trump devem abraçar o Plano de Segurança da CIS para aperfeiçoar a segurança, reduzindo a fricção entre israelenses e palestinos na Cisjordânia, melhor o dia-a-dia do moradores da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, restringindo a construção de assentamentos às áreas já construídas dos blocos e a renúncia das reivindicações por Israel de territórios além desses blocos.
O governo dos Estados Unidos está bem informado sobre esse plano. Se ele quiser preservar condições para seu “acordo definitivo” e para forjar uma estrutura regional de segurança, aproveitando os recursos de Israel e os dos países árabes pragmáticos para enfrentar as ambições regionais do Irã, deve encorajar Israel a implementá-lo – começando já no encontro de março entre Trump e Netanyahu.
A manutenção da viabilidade da Paz de Dois Estados é vital para a segurança de Israel e importantes para os interesses norte-americanos.
—
- O Dr. Shaul Arieli (coronel de reserva) foi Chefe da Equipe de Negociações sob os primeiros-ministros Rabin, Peres, Netanyahu e Barak. É membro do Comitê Executivo do CIS (Commanders for Israel’s Security– http://en.cis.org.il);
- O Dr. Nimrod Novik, foi Assessor Político Sênior do primeiro-ministro Shimon Peres, Embaixador Especial do Estado de Israel e assessor do Israeli National Security Council. É membro do Israel Policy Forum e do Comitê Executivo do CIS.
[ Publicado no The Times of Israel em 05|03|2018 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR – www.pazagora.org]