“Só a pressão internacional pode salvar o processo de paz.
Estaríamos assistindo ao renascimento da solução de 2 Estados para 2 Povos?”
(PAZ AGORA|BR)
Não tenho escrito muito sobre o conflito entre israelenses e palestinos.
Trata-se de um embate existente há décadas e com um consenso internacional sobre como resolver. Seriam dois Estados, com a Palestina ficando na maior parte da Cisjordânia, com ajuste territoriais, e a Faixa de Gaza. Jerusalém seria uma municipalidade unificada, mas capital dos dois Estados. E uma solução justa para os refugiados palestinos e também para refugiados judeus de países árabes. Obviamente, o Hamas e outros grupos teriam de abdicar do terrorismo.
Compare isso com Aleppo ou a Síria, onde não há solução óbvia para os próximos anos. Certamente, veremos ainda dezenas de milhares de mortos na Guerra da Síria e outros milhares no Iraque e no Yemen.
Ainda assim, vale observar o dilema do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu. No lado doméstico, ele baterá de frente com colonos israelenses que vivem em um posto avançado na Cisjordânia. Estes postos avançados são como assentamentos, mas considerados ilegais mesmo pelo governo e a Justiça de Israe, por se localizarem em terras privadas de palestinos. Estes colonos não aceitam ser removidos e tentarão resistir. Há risco de confronto com as forças de segurança de Israel.
Para resolver, Netanyahu tentará remover estes colonos do posto avançado para um assentamento na Cisjordânia. O problema é que estes assentamentos na Cisjordânia são considerados ilegais por toda a comunidade internacional.
O governo dos EUA abertamente já condenou Israel pela expansão dos assentamentos para acomodar estes colonos. Em represália, os americanos devem propor uma resolução no Conselho de Segurança da ONU nos parâmetros do primeiro parágrafo deste texto – e certamente contarão com o apoio dos europeus, Rússia e China. Isso irritará Netanyahu, que é contra usar a ONU para resolver o conflito.
Obviamente, a solução mais fácil para Netanyahu seria remover os colonos do posto avançado para residências dentro do território de Israel reconhecido pela ONU. Mas o premiê não fará isso e tampouco estes colonos aceitariam.
E, no fim, Netanyahu certamente terá de enfrentar estes colonos e também o governo dos EUA – um de cada lado. Não será fácil. Mas, insisto, não é um problema ou um conflito que possa ser comparado à Guerra da Síria. Por este motivo, nos últimos anos, escrevi centenas de textos sobre a Síria e raros sobre Israel, a não ser quando há embate com os EUA.
por Guga Chacra, publicado em 07|08|16 no blog do Estadão