Decidir aos 50
A carta enviada em 15|05|2016 pela Administração Pedagógica do Ministério de Educação de Israel, aos diretores das escolas de todo o país, anunciava que “Os 50 anos de uma Jerusalém Unificada” serão o tema do próximo ano letivo, que começa neste 1º de setembro.
Os titulares das instituições educativas foram informados de que terão à disposição um “Programa para aprofundar a afinidade e a conexão dos estudantes com Jerusalém”. A carta dizia ainda que “o programa foi desenhado para todo o corpo letivo do país”, com “certas adaptações para as características únicas de diversos grupos da população”. Seria interessante saber como o programa está sendo adaptado para os estudantes árabes com cidadania israelense. Ainda mais interessante: poderia se esta adaptação a mesma para as crianças da escola do campo de refugiados de Shuafat?
Há dois anos, o governo foi rápido ao formar um comitê diretor composto por representantes de organismos governamentais e a municipalidade de Jerusalém para preparar as celebrações do 50º aniversário da unificação da Jerusalém Ocidental judia à Jerusalém Oriental palestina.
No 11|08, o Conselho de Ministros aprovou a recomendação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – que é também Ministro das Comunicações – para emitir um selo postal que comemora o 50º aniversário da unificação de Jerusalém e de outro selo postal que homenageia os 50 anos dos assentamentos judeus nas Colinas de Golan, no Vale do Jordão e em Judéia e Samária [Cisjordânia ocupada].
A Prefeitura de Jerusalém, o Conselho Yesha (que agrupa os colonos da Cisjordânia), os assentamentos e as organizações ricas de direita, como a “Elad”, que controla efetivamente a parte oriental da Bacia Santa de Jerusalém, já se encontram em plena preparação.
Será que os judeus sionistas realmente querem que seus bisnetos nasçam, dentro de 50 anos. num Estado em que uma minoria judia governe uma maioría não judia?
Há muitos israelenses para quem o mês de junho de 2017 marcará a anexação unilateral de Jerusalém. E de dezenas de aldeias em seus arredores. Para eles, os assentamentos para lá da Linha Verde vão contra os interesses de um Estado judeu e democrático em Israel, para não falar que se constituem numa prolongada exposição de violações de direitos humanos contra os palestinos, que vivem nessas áreas por gerações. No que lhes diz respeito, a empresa dos assentamentos constitui um obstáculo para a paz com seus vizinhos.
Este é o momento de pedir à população israelense que 50 anos de ocupação já são o suficiente. Pode um povo ser governado para sempre sem que lhe sejam outorgados direitos civis?
Os longos anos de ocupação deram lugar a um sem número de organizações pela paz e pelos direitos humanos. Centenas de empregados, assalariados e voluntários, pessoas bem-intencionadas em grande medida, estão dedicando seu tempo e energia para avivar as brasas de paz e os direitos palestinos. Eles não esmorecem perante a legislação hostil e a incitação selvagem por parte do primeiro-ministro e seu grupo de colaboradores.
São eles que advertem à comunidade internacional contra a injustiça da ocupação israelense e a manutenção do o que resta da crença de que os cidadãos judeus de Israel ainda tem intenção de paz.
Como Shlomi Eldar escreveu no Al-Monitor (12|08|16], quase todas essas ONGs tem um “ministro do exterior”, com a tarefa de ampliar os vínculos com as organizações internacionais e os governos que tem influência sobre Israel.
O artigo citou o rabino Arik Ascherman, que recentemente deixou a “RABIS FOR HUMAN RIGHTS”, importante ONG que criou e dirigiu – para criar uma outra organização, “KHAKEL” – Pacto para os Defensores dos Direitos Humanos.
O fundador da “IR AMIM” – Cidade dos Povos, Danny Seidemann, um dos principais especialistas do país na questão de Jerusalém – criou um grupo chamado “JERUSALÉM NA TERRA”. O general retirado Amnón Reshef fundou a “COMANDANTES PELA SEGURANÇA DE ISRAEL”, que concorre com um grupo chamado “ASSOCIAÇÃO PARA A PAZ E A SEGURANÇA”.
Uma busca rápida mostra não menos de uma dezena de organizações dedicadas à promoção da paz baseada numa solução de Dois Estados, o diálogo entre os povos e a Iniciativa de Paz Árabe.
Um número similar de organizações está promovendo ativamente os direitos humanos dos palestinos nos territórios ocupados: PAZ AGORA, Centro Peres para a Paz, Iniciativa de Genebra, Bloco pela Paz (Gush Shalom), Futuro Azul e Branco, Iniciativa de Israel, IPCRI – Centro de Pesquisa e Informações Israel/Palestina, Combatentes pela Paz, Círculo de Pais/Fórum de Famílias Enlutadas, Associação pelos Direitos Civis em Israel, B’Tselem, Yesh Din, Hamoked, Bimkom , Mahsom Watch, Ta’ayush, Guishá e Breaking the Silence. Esta é apenas uma lista parcial.
Consenso no conteúdo, por vocabulário agregador
A única iniciativa do campo da paz no horizonte além dos 50 anos da Ocupação foi congregada em torno do PAZ AGORA. O curto lema da campanha – “DECIDIR AOS 50” – foi concebido para atrair israelenses preocupados com a paz, desde o centro político à direita moderada, mas que são freados por definições “controversas” como ”esquerda”, “ocupação” ou “apartheid”.
O destino das iniciativas para organizar reuniões pela paz e protestos contra a ocupação em junho de 2017 estão pendentes por um fio. A direita está marcando celebrações da vitória, enquanto a esquerda joga o papel do projeto do Dia do Juízo Final.
Nas últimas semanas, as diversas organizações pela paz têm mantido conversas sobre como enfrentar este desafio.
A direita tem à sua disposição uma grande quantidade de fundos públicos, um jornal diário e gratuito de circulação em massa (Israel Hayom, propriedade de Sheldon Adelson. multimilionário americano e financiador de Netanyahu), canais de TV populistas (Canal 20), um sistema de educação obediente, doadores generosos judeus e evangélicos e muitas ONGs isentas de impostos.
As organizações de esquerda estão atrás de um punhado de doadores e devem enfrentar cortes de fundos significativos da União Européia e seus estados membros em razão da crise econômica no Continente e à necessidade de ajudar às massas de refugiados do Oriente Médio. Os professores de Educação Cívica têm que se cuidar para não educar os valores que hoje se percebem em Israel como de “esquerda”, tais como igualdade de direitos. Os assinantes do tradicionalmente respeitado jornal Haaretz são considerados como virtuais traidores.
Na ausência de uma oposição partidária efetiva, a sociedade civil é a última esperança que resta do campo da paz e da democracia. É por demais importante e demasiadamente débil para estar dividida.
O 50º aniversário da “unificação de Jerusalém” apresentará uma oportunidade única e urgente para cerrarmos fileiras em defesa dos valores que já foram um ativo inalienável de Israel.
[ por Akiva Eldar – publicado no Al-Monitor / Israel Pulse em 24|08|2016 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]