“É aí que o antissionismo se torna antissemitismo… Nenhum deles disse, após Hitler, que a Alemanha deveria deixar de existir. Ou que, após Stalin, não deveria mais existir Rússia.”
O famoso escritor israelense Amós Oz, premiado nacional e internacionalmente, disse que o chamado à destruição de Israel é antissemita e protestou, nesta terça feira, contra o movimento de boicote ao país.
Em entrevista no programa Newsnight da BBC. Oz disse: “Eu posso lhe apontar exatamente onde traço a linha divisória. Se as pessoas chamam Israel de agressivo, concordo um pouco. Se disserem que Israel é a encarnação do diabo, acho que são obsessivos, estão loucos. Mas isto ainda é legítimo…
“… Mas se prosseguem dizendo que, portanto, Israel não deve existir, aí esse seu antissionismo torna-se antissemitismo. Porque nenhum deles jamais disse que após Hitler a Alemanha deveria deixar de existir ou que, após o que Stalin fez, não deveria existir mais a Rússia”.
“Dizer que Israel deveria deixar de existir, ou que não deveria ter sido criado, é cruzar a linha”, disse.
Boicote errado
Perguntado sobre sua posição com relação ao movimento de boicote a Israel, Oz respondeu que o boicote “fere as pessoas erradas”.
“A ideia de que todos os israelenses são vilões é infantil. Israel é a sociedade mais profundamente dividida e argumentativa. Você nunca achará dois israelenses que concordam entre si – é difícil até achar algum que concorde consigo mesmo”, disse.
“O boicote é o caminho errado, porque endurece a resistência israelense [ao diálogo] e aprofunda a paranoia israelense de que todo o mundo está contra nós, sempre esteve contra nós, que eles nem discriminam entre um e outro israelense, eles nos boicotam a todos e que, apesar de qualquer coisa que façamos, eles continuarão nos odiando, portanto vamos ser os caras maus…”
Oz disse que, embora o boicote tenha sido bastante eficaz no caso da África do Sul, ele não se aplica a Israel. “É preciso ser muito estúpido para achar que a prescrição – o remédio que agiu muito bem contra o cólera – também matará a praga…
Este é um tipo de preguiça – preguiça mental. A África do Sul era má. A Ocupação israelense dos territórios é má, mas de uma forma totalmente diversa. Uma receita diferente é necessária”.
Judas
Oz estava no programa para discutir o seu novo livro ‘Judas’ e o papel histórico do personagem como “traidor”. O escritor disse que através do tempo a história de Judas se tornou a “Chernobyl do antissemitismo ocidental por 2 mil anos… Mais pessoas pagaram com o próprio sangue por essa história sangrenta do que por qualquer outra história já contada. Pogroms, inquisições, perseguições e o Holocausto, porque no inconsciente popular todos nós [judeus] somos Judas”.
Aquela esquerda maniqueísta
Oz também chamou a atenção para os padrões duplos e a “hipocrisia” com relação a Israel por muitos da esquerda.
“Existe muita, muita gente neste país [Reino Unido] a por toda Europa que tem uma posição muito suave com relação ao terceiro mundo, dizendo ‘Bem, essas pessoas sofreram muito. Temos que entender que é apenas natural que sejam violentos’”.
“Quanto aos judeus, frequentemente dizem: ‘Bem, eles sofreram muito. Como podem eles ser tão violentos após tal experiência? ’”
Oz acredita que ninguém deve tentar ser “100% Pró-Israel ou 100% Pró-Palestino”. As pessoas devem procurar “entender a complexidade e a ambivalência da luta entre o certo e o certo. E, às vezes, entre o errado e o errado”.
O escritor israelense Amós Oz é ativista e um dos fundadores do Movimento PAZ AGORA
[ por LIDAR GRAVÉ-LAZI, baseado em entrevista à BBC|NEWSNIGHT | publicado no Jerusalem Post em 14|09|2016 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR – www,pazagora.org ]