Num dia triste como hoje, quando lamentamos a perda de ainda mais uma vítima do conflito israelense-palestino, a jovem Dafna Meir, mãe de 6 crianças que foi assassinada na sua própria casa, é difícil encontrar a energia para pensar na possibilidade de paz, ou continuar trabalhando para que a paz aconteça.
Mas, é exatamente isso que está fazendo o Parents Circle-Families Forum (PCFF) [Círculo de Pais – Fórum de Famílias] , um grupo integrado por israelenses e palestinos, membros de famílias enlutadas, pela morte de entes vitimados pelo conflito.
Embora a participação nesta organização implique a perda de pessoas próximas e queridas, o Fórum tem trabalhado, incansavelmente e há anos, na promoção de entendimento entre israelenses e palestinos, de forma a trazer a paz.
Nós últimos 5 meses, participei em uma das atividades do Fórum e, no fim de semana marcamos o final da primeira parte do ‘Projeto Narrativas’, uma iniciativa organizada pelo PCFF.
O ‘Projeto Narrativas’ reúne dois grupos de israelenses e palestinos para uma série de encontros. Os dois grupos passaram um fim de semana juntos em Beit Jala, onde se conheceram uns aos outros, e haverá depois mais 6 dias de encontros. No final do processo, os dois grupos devem encontrar projetos em comum para trabalharem juntos.
Normalmente, os grupos do Projeto são classificados conforme algum denominador comum (há grupos de professores, advogados, artistas, estudantes, etc). Mas, no nosso grupo, não havia pré-requisito. Eram apenas israelenses e de palestinos que queriam se encontrar e se conhecer.
Mas talvez o Fórum já tivesse alguma expectativa implícita de nós, pois nos deram o nome ambicioso e promissor de “Líderes da Mudança”.
Iniciamos o projeto no fim de agosto, com 15 membros em cada grupo. Mas, depois do primeiro fim de semana em Beit Jala, 5 membros acharam a experiência muito difícil e deixaram o projeto,
Aprendemos sobre as narrativas e traumas dos israelenses e dos palestinos, e fizemos duas excursões.
Como símbolo da Nakba, visitamos juntos o vilarejo palestino de Lifta, numa colina na entrada ocidental de Jerusalém. Lifta permaneceu deserta desde 1947, quando seus 2.500 moradores foram banidos.
No encontro seguinte, partilhamos com os nossos parceiros palestinos o maior trauma do povo judeu, quando visitamos juntos o Memorial do Holocausto, no museu Yad Vashem.
Aprender sobre os traumas passados deveria promover o entendimento entre os dois grupos, mas o presente predominou. A Intifada, que começou em outubro, pôs uma parada em nossos encontros e não voltamos a ver o grupo palestino por três meses.
Quanto finalmente nos reunimos em meados de dezembro, tínhamos grandes esperanças. Lamentavelmente, após os primeiros abraços e sorrisos, ficamos nos estranhando. Foi um passo gigantesco para trás. Nossos amigos palestinos não se relacionaram conosco na reunião inteira. O calor e a confiança, que tínhamos começado a construir, foram substituídos por desconfiança e má-vontade.
Após três meses de intifada, parecia que os palestinos com quem nos encontramos em nossas atividades sentiam que era quase uma traição conversar conosco como indivíduos. Numa palavra, eles nos culpavam pela sina do povo palestino.
Senti como se o nosso grupo se tivesse reduzido a um bode expiatório pelas ações e escolhas do governo israelense. Em teoria, eu entendia isso, mas me sentia injustiçada.
Mais ainda, as incessantes acusações dos membros do grupo palestino me distanciavam e tornava impossível lembrar que aquelas eram as mesmas pessoas que haviam acordado muito cedo naquela manhã, enfrentaram as barreiras e os checkpoints, e viajaram por horas só para nos ver, e falar a nós israelenses sobre as suas vidas impossíveis.
Me senti desamparada. Estava certa de que o relacionamento com os amigos palestinos não seria restaurado antes do fim da ocupação.
De repente, desanimei e não mais esperava continuar com o Projeto Narrativas. Não poderia aguentar outro encontro parecido com aquele que tivemos.
Mas, felizmente, nossos facilitadores do Fórum não perderam a fé. Eles reafirmaram que dependia de nós, que nós poderíamos mudar a realidade, pelo menos dentro do nosso próprio grupo combinado.
E eles estavam certos. Quando voltamos a nos reunir na sexta-feira, os dois grupos chegaram com uma energia diferente e com determinação para fazer uma mudança. Ao longo do fim de semana, fomos capazes de nos relacionar pessoalmente, como indivíduos, e de começar a falar sobre o futuro no qual trabalhemos juntos em outros projetos.
Sinto-me privilegiada por ter participado em uma das atividades do Parents Circle-Families Forum. Quando a paz finalmente chegar, será em boa parte graças ao trabalho de grupos como este.
Orna Raz , PhD em literatura americana pela Universidade Hebraica de Jerusalém, escreve sobre temas relacionados a mulheres, literatura e sociedade.
[ publicado no Times of Israel em 18|01|2016 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]