A maioria das forças e organizações palestinas, como Hamas, Fatah, Jihad Islâmica, Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) e a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), veem a necessidade de continuar esta intifada até alcançar seus objetivos — que ainda não são um consenso entre os palestinos. As opções incluem por um fim às políticas restritivas de Israel com relação à Mesquita de Al-Aqsa, o retorno de Israel a negociações com a Autoridade Palestina (AP) e a cessação das atividades de assentamento israelenses na Cisjordânia.
Jamal Muheisen, membro do Comitê Central da Fatah, disse ao Al-Monitor, “A Fatah apoia a revolta popular nos territórios palestinos sem o uso de armas, porque seu uso tornaria a população relutante em participar. Mas o movimento não garante quaisquer ações que possam ocorrer fora do escopo da AP, em função de crimes israelenses”.
Mahmoud al-Zahar, membro do bureau politico do Hamas, disse em 20/10: “O que está acontecendo em Jerusalém e na Cisjordânia é uma intifada em todos os sentidos. O projeto sionista deixou para os jovens carregar pedras, garrafas e facas. Aqueles que pedem uma não-militarização da intifada apenas temem por seus interesses pessoais”.
As duas declarações acima revelam o conflito entre Fatah e Hamas em termos de definir a intifada, suas repercussões e os meios usados. A Fatah quer uma revolta popular pacífica, enquanto o Hamas prega a militarização e o uso de armas. Este não é um conflito sobre métodos formais, mas sobre o próprio conteúdo e essência da intifada.
O conflito entre palestinos não está limitado apenas à caracterização da Intifada. Em 2/11, o Hamas anunciou que no mês de outubro a AP prendeu 103 membros do Hamas mas cidades Hebron, Tulkarm, Ramallah, Jenin, Belém, Qalqilya, Nablus, Salfit e Tubas, na Cisjordânia.
No auge dos confrontos dos palestinos com os israelenses, a AP não parece desejar quebrar as regras do jogo com Israel. A AP pode ver nesta revolta popular uma oportunidade para retomar negociações com Israel em vez de libertar os territórios ocupados. Esta é uma diferença fundamental entre os dois objetivos, que deverá se traduzir numa divisão sobre quais meios devem ser usados contra os israelenses.
Jamil Mezher, membro do bureau politico da FPLP, disse ao Al-Monitor: “A Intifada alcançou resultados diretos e rápidos, que levaram a conter as violações da ocupação sobre a Mesquita de Al-Aqsa e representaram Intifada alcançou resultados. Entretanto, o fundamento político para proteger a Intifada requer um desligamento do Acordo de Oslo e suas obrigações em segurança e economia”.
Em 29/10, Mohammed al-Hindi, membro do Comitê Político da Jihad Islâmica, instou a AP a não comprometer a Intifada entrando em negociações com Israel, acrescentando que as facções precisam rever suas políticas sem oportunismo.
Uma olhada rápida sobre as posições tomadas pelas facções palestinas revela os pontos fracos da Intifada.
A divisão palestina desde que o Hamas tomou o poder em Gaza em 2007 poderia ser a principal ameaça para a Intifada. Porém, as diferenças entre palestinos não estão limitadas às facções. Nos últimos dias, muitos formadores de opinião palestinos instaram por deflagrar a Intifada antes de acordar seus objetivos.
Hani al-Masri, chefe do Palestinian Center for Policy Research & Strategic Studies — Masarat (PCR), publicou em 27/10 um artigo sobre o que considera um debate palestino sobre uma Intifada pacífica ou militarizada e se o objetivo seria o de ativar o processo de paz ou de acabar com a ocupação.
Mohammed Daraghmeh, jornalista palestino, escreveu um artigo em 17/10 que desencadeou debates entre os palestinos. Seu chamado por um fim dos ataques contra israelenses provocou reações mistas:
“A Intifada não tem uma organização popular ou uma liderança que a organize, dirija e determine sua eficácia, disse ao Al-Monitor. “Os palestinos não estão entrando numa intifada como as anteriores. Eles não têm a esperança de expulsar a ocupação e não há partes organizadas capazes de liderar uma Intifada. O Hamas quer tomar a liderança, mas está exaurido, enquanto a Fatah é capaz, mas não está disposta a fazê-lo”.
Muitos palestinos estão convencidos de que a situação política não ajudará para o sucesso da Intifada, o que explica que nem todos estejam envolvidos nos eventos. Essas atividades estão limitadas a algumas cidades da Cisjordânia, como Ramallah, al-Bireh e Hebron, mas são ausentes em grandes cidades como Nablus e Jenin, apesar do esforço do Hamas para envolver mais palestinos na Intifada através de uma cobertura ampla da mídia.
Hussam Khader, membro do Conselho Revolucionário da Fatah, foi firme o suficiente para instar os palestinos a não participar de uma terceira intifada, pois os palestinos não estariam preparados para arcar com as consequências, dada a sua atual situação de penúria. Ele fez este chamado em 4/10, na sua página do Facebook.
A Intifada na Cisjordânia levou a estudos de intelectuais em Gaza, onde foram organizados vários seminários e painéis para discutir o futuro da Intifada. O Al-Monitor assistiu a um seminário feito em 31/10 pelo CPDS (Center for Political and Development Studies) em Gaza sobre o assunto.
Tais eventos, que ocorrem mais em Gaza e menos na Cisjordânia, levantam uma questão essencial: Gaza desejaria detonar a Intifada na Cisjordânia, onde a calma prevalece, em meio a temores de que a guerra se realimente, ou não estariam as elites culturais da Cisjordânia empolgadas com a Intifada e por isto nem estão interessados em discuti-la?
Ghazi Hamad, figura pragmática do Hamas e subsecretário do Ministério do Exterior em Gaza, disse ao Al-Monitor: “Há sérios desafios antes os palestinos, em termos de terem ou não a capacidade de transformar os sacrifícios feitos durante a Intifada em conquistas concretas. Ou se irão limitar o número de mártires e monitorar os ataques armados contra israelenses. O que farão eles se a Intifada se alongar muito? Irão usar os mesmos meios usados nas anteriores ou a deixarão correr solta, sem objetivos definidos”?
Essas diferenças entre os palestinos podem não ser as mesmas que vimos na Primeira Intifada em 1987 e na Segunda Intifada em 2000. Esta Intifada está acontecendo dentro de uma clara divisão política e geográfica. E projeta uma sombra sobre as preocupações de cada facção com as aspirações das outras.
É por isto que deixar que ela siga seu curso, sem um plano ou programa politico acordado, leva a um resultado previsível.
[ publicado em 03|11|2015 no Al-Monitor (*) – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
fonte:
(*) O site Al-Monitor publica artigos de formadores de opinião independentes dos vários países do Oriente Médio