Reflexões de Shimon Peres sobre o legado de Yitzhak Rabin
Em 13|07|1992, Yitzhak Rabin apresentou o seu gabinete ao 13º Parlamento israelense:
“ Membros do Knesset, por favor notem que este governo está determinado a empenhar toda a energia necessária, tomar qualquer caminho, fazer tudo o que seja preciso, o que for possível e ainda mais, pelo bem da segurança nacional e pessoal, para conseguir a paz e evitar a guerra, para afastar o desemprego, pela imigração e absorção, pelo crescimento econômico, para fortalecer os fundamentos da democracia e do império da lei, para assegurar igualdade a todos os cidadãos e para proteger os direitos humanos. ”
Era nisto que ele acreditava, assim o prometeu e assim o fez. Ele já não era um novato em liderança.
As capacidades extraordinárias de Yitzhak na liderança e no exército já haviam sido provadas em seu tempo como chefe do estado-maior durante a Guerra dos Seis Dias, no decorrer do seu serviço como embaixador em Washington, no curso de suas várias posições no Palmach [embrião do exército de Israel antes da sua independência] e como membro do governo por anos.
Como líder, Yitzhak sempre teve uma visão. Ao mesmo tempo, sempre manteve os pés no chão – tanto nos desafios da guerra como no auge do seu sucesso.
Inspirava a população, mas jamais se deixou levar pelos aplausos das multidões, nem se deteve perante ameaças de morte.
Yitzhak sabia que nossos vizinhos árabes não desejavam um Estado judeu. Sabia que havia difamação contra Israel na imprensa egípcia, na imprensa jordaniana e certamente na palestina. Ele sabia que nem sempre o mundo estava do nosso lado e que mesmo nossos aliados mais próximos poderiam impor um embargo sobre nós
Yitzhak sabia que sua visão tinha antagonistas, tanto fora quanto dentro do país. Como verdadeiro líder, não lhe ocorria ceder ao perigo, a ataques ou provocações. Seguindo a visão de David Ben Gurion, considerava tudo isto como distrações do objetivo maior de estabelecer um Estado judeu e democrático com uma maioria judaica estável.
Ele não acreditava em se esquivar de decisões difíceis. O cavalo a galope da História não aguarda pelos que hesitam.
A despeito do incitamento contra ele, Yitzhak não usava vestes a prova de balas – nem fisicamente nem politicamente. Ele sabia que não tinha escolha a não ser trazer a paz, não importava se houvesse minas no seu caminho, à esquerda ou à direita.
Como membros do governo, escolhemos o caminho da paz e a ele permanecemos leais. O gabinete trabalhava como uma unidade, chefiada por um líder firme e inquebrantável.
As conquistas do governo de Rabin falam por si.
O governo mudou a ordem de prioridades da nação. Reconstruiu nossas infraestruturas social e econômica, desenvolveu nossos recursos e buscou a paz ao preço de um compromisso histórico – dois Estados para dois povos. Pois, se não houver dois países, haverá uma tragédia continua para ambos os povos.
Israel ganhou reconhecimento internacional por seu corajoso posicionamento pela paz, pela democracia e a estrutura social que criou e pelos acordos que alcançou com Egito e Jordânia.
Yitzhak foi um líder valoroso, que teve sucesso em parear grandes esperanças com grandes feitos.
Ele fez um governo revolucionário nos campos da educação, academia, cultura e ciência. A infraestrutura de transportes floresceu. Durante seu mandato, os salários dos professores foram elevados significativamente; o orçamento para educação cresceu 70%.
A educação superior foi reformada e faculdades começaram a despontar na periferia.
No campo da saúde pública, um milhão de cidadãos de todo o país ganharam acesso à saúde pública.
O governo de Rabin uniu os cidadãos de Israel – judeus, muçulmanos, drusos, beduínos e cristãos. Ele trabalhou para fortalecer a igualdade entre cidadãos e um sentido de fraternidade civil. Investiu em comunidades árabes num ritmo inspirador e encorajador, estendendo sua mão à coexistência. O gabinete tornou o acesso a creches igualitário, independentemente de religião ou etnia.
A relação de Yitzhak Rabin com os Estados Unidos atingiu um pico, tanto em termos de relações bilaterais como do apoio bipartidário de que gozávamos. Lançamos as fundações para uma solução de dois Estados e começamos construindo nossa paz com a Jordânia. O acordo com esse país trouxe uma fronteira pacífica a nosso Leste e o acordo com o Egito proporcionou segurança no Sul. O mundo respeitava Israel por sua unicidade, seus valores democráticos e a combinação, não usual, de bravura militar em prol da defesa e de bravura social em prol da paz.
Nada disto foi um passeio no parque. Sofríamos ataques terroristas horrendos e Arafat não conseguia manter o comando sofre as armas. As facções extremistas não deixaram de existir.
Havia um incitamento selvagem contra nós.
Ainda assim, hoje podemos dizer que, a despeito de todos os obstáculos no caminho, a bala que atingiu Yitzhak não venceu.
O legado de Yitzhak Rabin tem raízes profundas em nossos corações e mentes, e valorizamos sua visão e liderança hoje mais do que nunca. Uma liderança que carrega uma mensagem clara de esperança para o povo de Israel, encarando corajosamente decisões difíceis.
Um bravo líder que percebeu que o futuro do Estado de Israel, como Estado judeu e democrático com uma maioria judia estável, depende totalmente de nossa capacidade de nos separar de nossos vizinhos palestinos.
Isto restou como seu legado, um objetivo ainda não completado. Um compromisso histórico que tem de ser alcançado, em benefício das futuras gerações e da segurança do Estado de Israel.
[ artigo publicado no Jerusalem Post em 25|04|2015 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
Leia também “É Hora de Viver Como Merecemos“, discurso histórico do escritor David Grossman para 100.000 israelenses reunidos em Tel Aviv no 11º Aniversário do Assassinato de Yitzhak Rabin z”L