Rabin ou Amir ?

Nos anais da História de Israel, o dia 4/11/1995 é uma data que será lembrada como a mais dramática e significativa ruptura na democracia do Estado.

assassinato de Yitzhak Rabin foi um divisor de águas.  Um assassino israelense matou um Primeiro-Ministro e mudou a política e a História de Israel. Vinte anos depois, pode-se dizer que o assassino Yigal Amir teve sucesso. Matou um líder e, com ele, suas políticas.

Rabin chegou ao poder em 1992, esperando trazer uma mudança histórica e alterar a ordem das prioridades nacionais de Israel. Estava determinado a tomar uma decisão sobre um dilema centenário: deveria Israel aspirar a uma terra estendida do Rio Jordão ao Mediterrâneo (e perder seu caráter judeu e democrático) ou optar por uma solução de 2 Estados (e perder parte da terra sob seu controle)?

Este debate por muito tempo polarizou o movimento sionista e o recém-nascido Estado de Israel, dividindo a população entre os revisionistas da direita pró “Grande Israel” e a esquerda  liderada pelo Partido Trabalhista (Avodá), que se opunha ao domínio sobre outro povo.

Logo no início do seu mandato — junto ao seu antigo rival no partido, Shimon Peres, que em 1992 se tornou seu parceiro político —Rabin decidiu em favor da solução de 2 Estados.

Em setembro de 1992, como Peres recontou ao Al-Monitor, os dois estadistas se reuniram na casa de Rabin para aparar as arestas e acordar um modus operandi e uma divisão de tarefas entre o primeiro-ministro e seu ministro do exterior. Rabin assumiria as negociações bilaterais com os palestinos, a Jordânia e a Síria. Peres promoveria negociações de paz multilaterais para relações de cooperação na região.

Peres também se envolveria no canal bilateral com os palestinos. Ao final da reunião, ambos acordaram, segundo Peres: “É hora de tomar as decisões difíceis sobre paz e terras de forma a poupar as novas gerações do sofrimento do conflito”. Meses depois, as conversações de Oslo estavam em andamento, nascidas da coordenação entre os dois líderes.

Ao final, Peres e sua equipe conduziram o caminho para e durante as negociações. Rabin focalizou mais as negociações com a Síria, com a mediação norte-americana, mas foi informado desde o início sobre as conversas informais de Oslo, e monitorou de perto as que se iniciaram formalmente em maio de 1993.

Rabin, Clinton e Arafat

Rabin, Clinton e Arafat

Para Rabin, o Processo de Oslo tinha repercussões importantes para a segurança regional. Ele acreditava que as grandes ameaças a Israel emanavam da periferia da região — notadamente do Irã e Iraque —  e não dos vizinhos geograficamente mais próximos, por causa dos sentimentos nacionalistas e religiosos extremistas que lá prevaleciam e a proliferação de mísseis sofisticados de longo alcance.

A estratégia de Rabin era a de criar uma coalizão de interesses no coração da região, com Egito, Jordânia e os palestinos. Para tanto, a questão palestina tinha que ser equacionada através de sua representação legítima, a Organização para Libertação da Palestina (OLP).

O lema de Rabin era “a paz se faz com inimigos” e, embora não houvesse amor entre ele e o presidente da OLP Yasser Arafat, Rabin o tratava com respeito e levava seus interesses em consideração.

De fato, o processo de Oslo rendeu importantes frutos regionais para Israel. As relações com o Egito melhoraram significativamente, Israel assinou um tratado de paz com a Jordânia em 1994 e abriu oito delegações diplomáticas em países árabes. Conferências econômicas regionais, “crias” de Peres, tiveram lugar em Casablanca (1994) e Amã (1995), com a participação de empresários de Israel, de países árabes e da comunidade internacional. A posição regional de Israel foi elevada a um nível sem precedentes.

Em paralelo, a posição internacional do país também teve uma evolução dramática, As relações com os Estados Unidos atingiram seu pico. A Casa Branca de Bill Clinton tinha uma parceria total com as questões de paz e segurança. Em 1995, houve conversas informais em Washington sobre um possível pacto de defesa Israel-Estados Unidos.

As relações de Israel com a China, Índia e praticamente toda a comunidade internacional melhoraram significativamente. Isto teve ramificações positivas para o comércio internacional assim como para os investimentos no florescente setor de high-tech em Israel. O governo Rabin pôde então investir mais recursos na periferia do país e no setor árabe, no lugar de assentamentos.

Campanha de Ódio - "Rabin Mentiroso"

O ambiente de ódio que armou o assassino foi potencializado por uma campanha difamatória – cujos autores hoje estão no governo de Israel

O assassinato de Rabin e a ascensão de Benjamin Netanyahu ao poder em maio de 1996 trouxeram um fim a essas políticas e uma nova  direção estratégica.

Ygal Amir havia matado Rabin para interromper suas políticas. Após isto, Netanyahu fez valer sua oposição ao Processo de Oslo. Recusou-se a implementar os acordos e abortou as negociações sobre um status permanente que haviam sido formalmente iniciadas em abril de 1996.

Hoje, 20 anos depois, não resta nenhum traço dos resultados políticos da Era Rabin.

O processo de paz está morto. As relações com os Estados Unidos nunca foram piores. Israel está mais isolado internacionalmente do que nunca, sua economia está em crise, a democracia está ameaçada por legislações, políticas e retóricas que minam os direitos da minoria árabe. A liberdade de expressão, valor sagrado nos tempos de Rabin, é posta em cheque.

O legado de Rabin pode ser revivido?

Sim, retornando a ideologias e políticas similares. Neste momento, isto parece improvável.

Mas, com o tempo, Israel terá que escolher: viver conforme o legado de Rabin ou seguindo o legado de Amir.

[ publicado na seção Israel Pulse do site al-Monitor.com – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

 

YaLa-Young Leaders يالا-يا قادة الشباب יאללה-מנהיגים צעירים

YaLa-Young Leaders يالا-يا قادة الشباب יאללה-מנהיגים צעירים

O autor, Uri Savir, trabalhou em sua vida profissional em estratégias para fazer a paz em Israel. Em 1996, estabeleceu o Centro Peres para Paz do qual é presidente honorário. Em 2011, co-fundou o movimento online de jovens pacifistas “YaLa Young Leaders” (www.yalayl.org/)

YallaYLO YaLa-Young Leaders, fundado pelo Centro Peres para Paz e pelo YaLa Palestine é uma rede social no Facebook composto por jovens do Oriente Médio que criam e difundem uma nova visão regional de liberdade, igualdade, prosperidade e paz. Com um milhão de membros do mundo árabe de Israel e outros países, é movimento pacifista mais amplo e de mais rápido crescimento no Oriente Médio.

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