5ª parte – PAZ AGORA
Por mais de 40 anos, ele tem instado pela divisão da terra em duas nações. Escrevendo, falando e trabalhando contra a ocupação, a tirania e a força bruta. Defendendo que nosso domínio sobre outra nação põe em perigo a existência de Israel no Oriente Médio. Nenhuma platafora de mídia, em Israel ou no exterior, rejeita um artigo seu ou uma entrevista com ele.
Pode não surpreender que o garoto que foi para o Kibutz Hulda aos 14,5 anos para viver “sobre as ruínas” e publicou 27 livros traduzidos em 41 línguas, também se tenha comprometido com uma luta teimosa sobre as ruínas da nossa vida e não tenha vacilado quanto a isso. Ainda assim, ele poderia se ter concentrado no seu trabalho literário, se afastado de questões politicas e se poupado da raiva daqueles que perguntam “Quem lhe deu o direito de se manifestar?”
E a crítica daqueles, tanto na direita quanto na esquerda, que dizem que ele fala demais ou de menos. Mas Oz mantem-se decidido. Talvez ele não estivesse apenas assobiando no escuro quando, ainda adolescente, mudou seu nome.
Você tem publicado menos ultimamente …
Por anos, escrevi não apenas para os ‘convencidos’ ou os oponentes, mas precisamente para os hesitantes. Estou escrevendo menos agora, porque tenho a sensação de que o hesitante tornou-se indiferente e apenas os convencidos me lerão.
Não vejo sentido em escrever para aqueles que concordam ou para os dissidentes. Não tenho interesse em denunciar meus opositores ou em fazer troça deles. Não tenho interesse em ventilar nuances em nome de uma comunidade dos convencidos que já se tornaram arejados por tanta ventilação.
Mas assim você não está ajudando a indiferença?
Continuo a fazer minha voz a ser ouvida e a expressar minha opinião em palestras, outras aparições e assinando declarações públicas. Na esperança de que, apesar de tudo, minha voz tenha ouvintes.
Hoje se fala sobre “paz morta” e a remoção da agenda de um acordo com os palestinos…
Não sei com que base. Evitar o avanço de uma solução de compromisso entre Israel e palestinos põe em perigo a própria existência de Israel.
A paz de que falo tem estado sobre a mesa por muitos anos e está esperando por nós. Tudo o que devemos fazer é agacharmos e pegá-la. Ou, mais cautelosamente, é possível ainda reduzir o conflito israelense-palestino a um conflito entre Israel e Gaza. Todos sabem o preço: dizer adeus aos territórios. Concordar com duas capitais em Jerusalém e a existência de um Estado Palestino na Cisjordânia. Na verdade, não vejo isto como um preço, mas como um valor adicionado ao futuro de Israel.
Colocando de forma simples: se não houver dois Estados aqui, haverá um Estado único. E se houver o Estado único, desaparecemos.
Os apoiadores da paz receberam um golpe potente após a evacuação de Gaza. Por anos, nos disseram que se deixássemos os territórios haveria paz. Deixamos Gaza e vieram os foguetes Qassam. Este foi um golpe muito difícil, embora possamos argumentar que era necessário deixar Gaza, mas não devíamos tê-la entregue ao Hamas numa bandeja de prata. Mas este é um argumento do tipo ‘se tivéssemos…’
O fato é que, por todos esses anos, dizíamos que, se saíssemos de Gaza, iriam acontecer coisas boas. Saímos e se seguiram coisas ruins. É difícil lidar com isto. Posso dizer que não tenho dúvida de que, se tivéssemos ficado em Gaza, o preço em sangue teria sido muito maior do que pagamos desde que saímos. Posso afirmar isto, mas não ajuda face ao simples argumento de que ‘saímos e veja o que aconteceu. Saímos como tontos’.
A maior parte dos israelenses ainda concorda em deixar a Cisjordânia com modificações de fronteiras. Mas não estão dispostos a sair como tontos. [O primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu e [o ministro da defesa Ehud] Barak obteriam uma grande maioria no Knesset se declarassem, amanhã, sua disposição a deixar os territórios. O que os impede é seu medo – o medo de lidar com os fanáticos e o medo de que aconteça o mesmo que em Gaza.
Netanyahu e Barak são covardes. Eles sabem o que deve ser feito mas não se atrevem. Também têm medo de parecerem tontos.
Enquanto isto, abandonaram a questão palestina e alertam o mundo para o desafio iraniano…
Em vez de se mover rumo a um acordo com a Autoridade Palestina, estão se chicoteando freneticamente para um ataque ao Irã. Tal ataque não seria de muita valia, porque não se pode bombardear o conhecimento nem a motivação, e os iranianos têm ambos para fazer armas nucleares. Mesmo que um ataque ao Irã possa postergar a manufatura de armas nucleares por um ano ou dois, ele aumentaria ilimitadamente a motivação de usar tais armas.
Durante a primeira Guerra do Líbano, [o primeiro-ministro Menachem] Begin falava de ‘Hitler escondido num bunker em Beirute’. Escrevi naquele tempo um artigo intitulado ‘Hitler Já Está Morto, Sr. Primeiro-Ministro’. O que está escrito naquele artigo, agora dirijo a Netanyahu. Qualquer um que comparar o Irã de hoje a Hitler, e Israel a Auschwitz, está cometendo um ato anti-sionista e demagógico, estimulando gente a emigrar de Israel e semeando a histeria.
Você me pergunta se estou preocupado? Não estou apenas preocupado. Estou com medo. Vejo processos e tendências que estão ameaçando tudo o que me é caro. Até mesmo a existência do Estado de Israel.
[ publicado no Haaretz em 15/03/2012 | traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]