Oriente Médio em 2012: preparem os bunkers

“Feliz ano novo e preparem os bunkers”, recomenda Aner Shalev, colunista do jornal Haaretz, aos seus leitores, às vésperas de 2012.

A recomendação de Shalev expressa a preocupação de muitos israelenses com a possibilidade de que em 2012 haja uma guerra que poderá causar danos sem precedentes à retaguarda do país e, principalmente, à cidade de Tel Aviv – coração econômico, cultural e secular de Israel.

São vários os cenários de confrontos possíveis e nenhum deles pode ser descartado.

Em 2012 poderá haver uma guerra com o Irã, ou com a milícia xiita libanesa Hezbollah, ou com o Hamas – grupo islamista que governa a Faixa de Gaza – ou com a Siria.

Todas essas possibilidades são reais embora não inevitáveis.

Tensão no Oriente Médio

Tensão no Oriente Médio

Irã

Tanto o governo americano quanto o israelense já deixaram claro que pretendem utilizar “todos os meios” para impedir que o Irã produza armamentos nucleares.

Os serviços de Inteligência de ambos os países anunciaram que, em menos de um ano, o Irã terá os instrumentos necessários para fabricar uma bomba atômica.

Portanto, a preocupação de muitos israelenses com a possibilidade de que os Estados Unidos, ou Israel, ou ambos ataquem as instalações nucleares do Irã durante o ano de 2012 se baseia em fatos que não podem ser descartados.

Em qualquer um dos três cenários, a cidade de Tel Aviv poderá se tornar alvo para milhares de mísseis em poder do Irã e do Hezbollah, que é um braço militar de Teerã no Líbano.

Síria

Vários analistas dizem que se o presidente sírio Bashar Assad se sentir encurralado em decorrência dos protestos que está enfrentando e da pressão internacional contra a matança de civis, poderá recorrer ao último recurso de desviar as atenções para um conflito com Israel.

De acordo com as avaliações de especialistas em Oriente Médio, para tentar recobrar apoio de países árabes, Assad poderia tentar “esquentar” a fronteira com Israel, também com a ajuda do Hezbollah, que é seu aliado.

Hamas

O chefe do Estado Maior do Exército israelense, general Benny Gantz, disse na terça feira (27) que mais uma operação militar de Israel na Faixa de Gaza é “inevitável”.

Gantz lembrou a última ofensiva israelense à Faixa de Gaza, em 2008, denominada Chumbo Fundido, e afirmou que uma operação Chumbo Fundido II contra o Hamas será “necessária” para conter ataques de foguetes contra cidades israelenses.

A ofensiva anterior deixou 1.400 mortos do lado palestino e 13 mortos do lado israelense.

De acordo com analistas militares, tanto o Hezbollah quanto o Hamas já possuem mísseis que podem atingir o centro de Israel.

O Comando da Retaguarda – departamento do Exército que é responsável pela preparação dos civis para a eventualidade de ataques contra cidades israelenses – já começou a distribuir máscaras de gás a todos os habitantes, para protegê-los em caso de bombardeios químicos.

O Exército e todas as forças de salvamento do país fizeram, durante o ano de 2011, vários exercícios de simulação de guerra nas quais os alvos principais seriam zonas residenciais.

Processo de paz

O processo de paz entre Israel e os palestinos, iniciado em 1993 com o Acordo de Oslo, encontra-se em estado de profundo congelamento.

Para voltar à mesa de negociações, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, exige que Israel se comprometa a interromper a construção de assentamentos na Cisjordânia e a reconhecer as fronteiras anteriores à guerra de 1967 como base do diálogo para a criação do Estado Palestino.

Israel rejeitou as condições de Abbas e continua ampliando os assentamentos.

As tentativas de intermediação do Quarteto (União Europeia, ONU, Estados Unidos e Rússia) para reavivar as negociações entre israelenses e palestinos até agora fracassaram.

Israel exige “negociações diretas” e rejeitou a iniciativa do Quarteto.

O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que as fronteiras de 1967 são “indefensáveis”.

Nessas circunstâncias, seria uma ingenuidade absurda desejar que o ano que vem seja um “ano de paz” aqui no Oriente Médio e me contento em desejar que 2012, apesar de todos esses cenários sombrios, seja um ano sem guerras.

Guila Flint

Guila Flint

[ por Guila Flint – publicado na redetv.com.br em 28/12/2011 ]

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